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CONTO DE ASSOMBRAÇÃO
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CONTO DE ASSOMBRAÇÃO
— Eu tenho muito medo de fantasmas. Nossa! Não suporto saber que alguém morreu, é muito absurdo, né? A pessoa, assim, deixou de existir. Eu não consigo dormir a noite, de medo, se sei de alguém morto.
— Ah, mas quem vai não volta, não!
— Mas eu fico assustada! Igual na vez em que vi aquela morta, nunca vi uma morta tão pálida, a boca dela você nem acredita, uma cor assim, de uva. Ela morreu de anemia profunda, acho que por isso era tão pálida. Tão moça. Morreu com 24 anos, e nunca teve um namorado porque passou a vida toda doente. Morreu donzela. Por isso pediu pra ser enterrada vestida de noiva.
— E enterraram?
— Enterraram. Vestiram como uma noiva bonitinha, uma noiva tão arrumadinha, colocaram até luvas. Tão pálida e aquela boca roxa, eu não dormi depois de jeito nenhum, foi horrível. Se me arrependo de algo até hoje nessa vida é de ter visto aquela morta.
— Nossa. Mas não voltou, né? Não volta!
— Mas podia, como no velório da minha vó. Eu e minha irmã ficamos em casa, a gente era criança, mas já grandinha, e todo mundo estava no velório. Era de noite e estava frio, e a gente queria ligar o fogão. Mas a gente não conseguia, eu tentei, tentei e não conseguia acender lenha naquele fogão. Fomos então para a sala, a gente tão triste porque minha vó tinha morrido e nós nem conseguíamos acender a merda da lenha no fogão. Aí começamos a ouvir um barulho na cozinha. Puff, puff, um sopro forte, muito forte mesmo.
— Quem tá aí? — gritamos e corremos e vimos minha vó lá, soprando o fogo para acender a lenha.
— Mas ela não tava morta?
— Tava, era o velório dela, uai. Aí a gente correu, correu, correu, mas a gente sempre voltava pro mesmo lugar. Porque a gente tinha medo, mas queria ver se era ela mesmo, né? Aí depois ela se esgueirou pela porta, foi pra debaixo da pitangueira e puf!
— Sumiu?
— Puf! Desapareceu assim, igual uma bolha de sabão.
Enviado por Juliana.
träsel, 14 de agosto de 2007, 10:59
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