Comecei bem o post anterior, mas acabei me desviando do assunto: a sensação de que a vida se transformou num sonho.

No fundo é sobre isso a novelinha que eu escrevi, e desconfio que jamais conseguiria escrever sobre qualquer outra coisa.

O começo da "História do Olho".

O clima todo desse "Temporada de Facões".

No final dos anos setenta, o justo momento em que, logo após ver meu bisavô chegando na sua casa em Cachoeira do Sul todo ensanguentado porque alguém que estava num ônibus jogou uma garrafa de Coca-Cola no pára-brisa dele durante uma ultrapassagem na estrada, vou mijar no banheiro e me pergunto, do alto dos meus cinco anos, se aquilo realmente está acontecendo.

A vida transformada em sonho.

Já é um tema.

"Uma Temporada de Facões" parece um livro de ficção.

Não, mais do que isso, parece um livro de fantasia, estilo Lewis Carrol.

Ler trecho após trecho de entrevistas de homens explicando que, ao longo de semanas e semanas o trabalho nas lavouras foi substituído pela caça e assassinato por decepamento de seus vizinhos e suas famílias, e que isto foi aceito como natural por todos, até mesmo com certa alegria, porque "decepar tutsis era menos cansativo que cuidar das plantações", traz uma sensação de irrealidade, parecida com a que eu experimentei lendo "A História do Olho". É como se fosse um grande sonho, do qual milhares de pessoas participaram e hoje mal se lembram.

O que tornou isso possível? Pelo que eu tô entendendo, além de anos e anos de ressentimento mútuo entre os grupos - que falavam a mesma língua, habitavam a mesma comunidade e fisicamente eram praticamente iguais - o fator econômico. A pilhagem de comida, bebida, vacas e folhas de zinco tornava as atrocidades aceitáveis, necessárias, e a pressão do grupo inviabilizava qualquer improvável resistência.

E não estamos falando apenas de lavradores estúpidos, mas também de advogados, professores, líderes comunitários e até padres, todos atuantes na mesma rotina quase burocrática de matanças, da manhã à noite.

Proporcionalmente, a máquina nazista, com suas câmaras de gás, metralhadoras e campos de concentração não atingiu, em nenhum estágio da Segunda Guerra, a eficiência dos hutus com seus facões.

Muito interessante, mesmo. Como História, claro, mas também como literatura, fazia tempo que um texto não me deixava tão desnorteado.

Acabo de gravar seis CDs com todos os discos do Yann Tiersen que eu não tinha ainda, incluindo um ao vivo.

Ao escutar o refrãozinho de "Rue des Cascades", que se não me engano muito é a música que fecha o "Vida Sonhada dos Anjos", ejaculei a esmo.

Ninguém precisava saber, eu sei.

Ser pai é passar os domingos, mesmo os muito frios, com duas bolas de suor debaixo do braço e uma terceira no meio do peito.

Ignace: "Acho que o tempo vai me permitir deixar as lembranças difíceis em Rilima, quando eu sair. Vou dobrar os maus pensamentos dentro do uniforme de presidiário (...) Mas a lembrança da galeria da mina onde queimamos os tutsis vivos, essa aí nunca vai me largar. Sinto-a bem escondida atrás de meu espírito. Na colina, ela vai me corroer. E é terrível. Vai me espiar inesperadamente, já que moro perto das minas. Eu não tinha previsto que essa lembrança me mortificaria tão perversamente. Acho que é por causa do cheiro das queimaduras, acho que é sobrenatural que homens matem outros homens pelo fogo."

Obrigado pela dica, Bruno.

Fui ver ontem.

Apesar de ter uma direção bem ortodoxa e um roteiro cheio de escapadas no último segundo, daquelas que te fazem perder tempo pensando "ah, mas isso não deve ter sido bem assim", o peso da realidade e o fato de tudo aquilo não ter acontecido há cem anos, mas há pouco mais de dez, se impõem e superam tudo.

Impossível não chorar umas duas ou três vezes. Nas cenas imediatamente anteriores à foto, então, quando as pessoas são divididas em ruandeses e resto do mundo ao som de um coro de crianças, eu solucei mesmo. A mesma musiquinha aparece no final, na cena do campo de refugiados, e aí é pra escangalhar.

Me deu vontade de ler mais a respeito. Tinha um livro com um título esdrúxulo, algo como "Informamos que nós e nossas famílias estaremos mortos pela manhã", preciso procurar, não é bem isso.

Um filme daqueles que te dá vontade de sair mandando todo mundo ver, como se algo ainda pudesse ser feito a respeito, como se os mortos fossem voltar dos seus túmulos e os braços, mãos e orelhas fossem devolvidos aos corpos.

E pelo menos uma grande lição: ter sempre um troquinho separado para os subornos.

Update: o livro é esse aqui. Esse aqui também parece bom, o personagem do Nick Nolte foi baseado no autor, e serviu como base para este documentário.

ROBEI essas fotinhas lá do blog dela, que leio volta e meia, sempre pensando no dia em que comprarei uma casinha em Ólinda.

Grandes almas, nada sebosas, Cecils e sua turma.

Passei um ano inteiro jurando que ia passar o carnaval em Recife pra rever essa gente e, quando cheguei lá, só fiz me queixar do reumatismo.

EitaPÔrra.

Mas não dá nada, carnaval tem todo ano.

Homeopatia não é melhor que placebo.

Homeopatia. Nem sabia que tinha uma banda com esse nome.

Santiago, lutando contra o sono e desfraldando os mistérios da eletromecânica.

All the streets are crammed with things
Eager to be held
I know what hands are for
And I’d like to help myself
You ask me the time
But I sense something more
And I would like to give
What I think you’re asking for
You handsome devil
Oh, you handsome devil

There’s more to life than books, you know
But not much more
Oh, there’s more to life than books, you know
But not much more, not much more
Oh, you handsome devil
Oh, you handsome devil
Ow !
Handsome Devil - Smiths

Agendamos apresentações em feiras, batizados e podcasts.

Tem certas expressões que, convenhamos.

Quando agradeço por alguma coisa para alguém e ouço como retribuição um "Não por isso", tenho ganas de agarrar a pessoa pelo colarinho e perguntar: "Por que seria, então, maldito canalha?"

Mas sempre me controlo.

Pensei em postar isso só pra ver o comentário do Hermano.

O cenário político nacional estava se ressentindo da falta de uma voz respeitável, racional e responsável que, com sensibilidade, experiência e maturidade ímpares, apaziguasse os ânimos, mediasse os conflitos e recolocasse o país nos trilhos novamente.

Não mais.

Ontem foi difícil: o Santiago não só não queria dormir como também queria ficar flanando pela casa, altas horas da noite.

O único jeito de aquietá-lo foi deixar que brincasse em cima da cama com os seus dois brinquedos preferidos: o liquidificador e o espremedor elétrico.

Aí, depois de montá-los e desmontá-los umas setenta vezes, dormiu.

Recebi uma cobrança da Intelig no valor de R$ 65,84.

Como devo ter ligado duas vezes pra fora de Porto Alegre no último mês, resolvi ligar pro 0800. Ficaram de me mandar pelo correio um extrato detalhado.

Hoje me ligaram, dizendo que o valor correto da cobrança é R$ 4 e alguma coisa.

Agora me perguntem quando eu vou usar o 23 de novo.

"O câncer de pele mata mais mulheres do que qualquer outro câncer. Proteja-se."

Via brainstorm9.

Compras: Romance d´A Pedra do Reino, Estrela da Vida Inteira, Martha and Hanwell e L´alieniste, este último porque ler uma edição bilingüe de uma história já conhecida me pareceu um jeito interessante de tentar aprender os rudimentos de um idioma.

Tem tudo pra dar errado, claro.

O lado bom é que é massa ler um livro assim, devagarinho, o texto parece ficar mais interessante, os detalhes, as filigranas e as aliterações saltam aos olhos.

Todo livro deveria ser lido como se fosse escrito numa língua estranha.

Devorar é pra junkies.

Uma tarde sem Internet na empresa, algum problema no bairro todo.

Nem fui ver "Hotel Ruanda" no fim do dia, por já estar deprimido o suficiente.

É incrível como eu nunca mais me desesperei com nada desde que o meu filho nasceu.

O budismo ajuda bastante, também, diga-se de passagem.

Fazemos o que deve ser feito e pronto.

Recebi um CD cheio de e-books budistas e mais um audiobook do "Drácula", tudo em inglês, de alguém por quem simpatizo e torço muito, mesmo sem nunca ter conhecido pessoalmente.

Esse blog só me dá alegrias (toc-toc-toc).

Essa noite, ali pelas duas e meia da manhã, ouvi o Santiago BALBUCIANDO no berço. Quando ele começa a fazer isso é porque se acordou e está avisando que quer passar pra nossa cama, geralmente isso acontece ali pelas cinco, seis, nas laudes. Sempre tento impedir, deito-o se estiver de pé no berço, tapo-o com as cobertas, dou umas palmadinhas na bunda pra ver se dorme, mas se ele insiste muito, acabo cedendo, é melhor dormir mal com ele me chutando do que não dormir, tendo que levantar de dois em dois minutos porque ele está chorando.

Pois bem.

Cheguei no quarto e vi que, sim, ele estava de pé no berço, mas tinha à sua frente, no chão, uma pocinha de vômito. E, olhando pra ele de perto, dava pra ver que vinha mais. Peguei-o e levei-o até o banheiro, não sem antes evitar duas golfadinhas em mim mesmo. Depois, na pia, mais umas duas. Estranhamente pra mim, ele não chorava, parecia bem compenetrado, certamente não se lembrava dos vômitos de leite, pouquinhos, circunstanciais, que dava quando era bem bebezinho. Numa palavra, parecia fascinado com o fato da comida estar saindo e não entrando.

Limpei-o, levei-o pra nossa cama e trocamos a sua roupinha toda vomitada com alguma dificuldade, porque ele só queria saber de seguir dormindo, não entendendo o porquê do fuzuê. Quando trocamos sua camiseta e calças e o deixamos finalmente deitar a cabeça no travesseiro, aproveitou pra vomitar de novo, dessa vez também no próprio travesseiro, no lençol e nos cabelos, uma beleza.

Nova troca de roupa e dormiu de vez, dava pra ouvir uns barulhos no seu estômago. Tentamos dar soro caseiro na mamadeira, mas ele não quis saber, só foi se alimentar de manhã, danoninho.

Tomando um banho às quatro da madrugada, me dei conta disso: é impossível sentir nojo do vômito do filho da gente: não tive o menor reflexo de vomitar eu também, mesmo encharcado de feijão e batata mal-digeridos. Acontece parecido na troca das fraldas: por mais feio que seja o quadro, não dá nada, nunca.

Espero que ninguém tenha lido isso fazendo um lanche.

Prezado marcelo,

Sem mais, aguardamos seu contato.

Incrível. O capsloquismo acaba de chegar à comunicação empresarial.

Sou do tipo de pessoa que, sempre, sempre, sempre, ao agradecer alguém e ouvir como resposta "Disponha", digo baixinho, para mim mesmo, enquanto me afasto, "Ponha".

É importante saber a diferença entre literatura e datilografia.

A típica matéria porto-alegrense.

Ah, sim, esta aqui.

Irei, mas desta vez não beberei. Ou ao menos tentarei.

Hm, acho que aquela narrativa sobre o Nando não vai andar. Bem que achei que era meio temerário começar a escrever sem ter as coisas mais ou menos organizadinhas na cabeça, como foi da outra vez.

Preciso de uma idéia súbita, essa é a verdade.

Na boa, se eu fosse dono de botequim, metia um processo.

Há pouco tempo descobri que a trilha sonora deste filme, que assisti na volta de uma viagem, em 2001, também ficou a cargo do Yann Tiersen.

A sequência final, imagem e som, foi responsável por uma das grandes epifanias que eu tive nessa vida.

Já vão longe os dias em que eu me considerava um grande conhecedor de música, mas ainda dou minhas chapuletadas por aí. Agora com banda larga em casa, acabo de adentrar plenamente no maravilhoso mundo do compartilhamento de arquivos, vá lá, com uns seis, sete anos de atraso.

Esse sujeito aí de cima eu tenho baixado bastante. Ele não é exatamente um transgressor ou um inovador, mas me cai muito bem. Música no fim das contas é só isso, interessar aos ouvidos.

Se soubesse tocar, faria umas musiquinhas nessa linha.

Ou morreria tentando.

Tô no meio e tá bem divertido. Tem a cara do Mojo, mais que os outros.

O que me quebra as duas pernas, os dois braços e os vinte e um dedos, como sempre, é a falta de tempo.

Teria uma vida bem mais produtiva se não trabalhasse, literariamente falando.

Na boa, se não fosse pelos menores de idade, eu diria: deixem, não mexam uma palha pra impedir.

Vi agora ao meio-dia, na TV, um pai ameaçando jogar seu filho, bebê, do segundo andar de uma casa. Merecia ser mandado pra uma penitenciária israelense, pra cela dos integrantes do Hamas.

Claro que existe a compaixão e a empatia involuntárias, no meu caso é simplesmente inevitável, mas no fundo acho que os resistentes têm mais é que levar uma boa, exemplar, tunda.

Gente estúpida. Se ainda estivessem sendo despejados pra morar debaixo da ponte eu até poderia entender, mas não.

Escutei agora ao meio-dia a babá cantando pro Santiago dormir.

Acho que ele FINGE que dorme pra ela PARAR de cantar.

>

Do blog do Vizinho do Jefferson:

Perguntei a um Sr. de 50 anos de idade, manifestante de Alagoas, chegou hoje de lá e volta hoje para lá, o porquê dele estar na esplanada:

- É? Não sei, fala lá com o coordenador do movimento que ele sabe melhor do que eu.

Hehehe.

Bá, esse post do Träsel faz cócegas na imaginação e me remete de volta aos meus "warm, summer days, indoors" praticando com o baralho Zener.

Que vontade de construir um EGG aqui na roça. Poderíamos prever com alguma antecedência eventos dramáticos, como a queda do Grêmo pra segundona.

Pensei em escrever mais dois ou três exemplos engraçadinhos, só que simplesmente não me ocorreram.

Aceito colaborações.

Santiago já caminha sozinho. Ainda não dá pra correr a maratona, mas se equilibra, com um que outro percalço.

Ontem mesmo tropeçou num Lego, avuou e caiu reto, de barriga pra cima, batendo com o coco no parquê. Horrível, mas necessário. A evolução se faz com tentativas e erros.

No mais, ganhei uma sacola do Zaffari cheia de quitutes, por ser pai e conseguir acertar uma bola dentro de um pneu, ontem, no Parcão. Ganhei também uma camiseta da minha esposa, um vinho da minha mãe e até o Cardoso me ligou pra dar os parabéns.

Massa esse negócio de ser pai.

Só pra lembrar: amanhã, na Palavraria, a partir das 19h, tem o lançamento do mais novo livro do Mojo. O serviço completo está aqui.

Vão, é só o que me resta dizer.

A edição desta semana da Veja sobe mais uma oitava na Suíte Apocalíptica, incluindo uma ilustração hiper-realista de uma estrela do PT desabando sobre Brasília. Como gosto é que nem cu e cada um tem o seu, não vou dizer que achei um pouquinho demais, não pela mensagem em si, mas pela proposta estética da cousa mesmo. A grandiosidade da imagem - pra quê?, é só mais um partido que chega ao fim - denota uma satisfação excessiva com a cobertura do fato.

Agora, perturbadora mesmo é a reportagem sobre o doleiro que tá na solitária de uma prisão de segurança máxima. Diz a Veja que o homem é um arquivo vivo, mas não se sabe por quanto tempo.

Morreu o Miguel Arraes.

De desgosto, provavelmente.

Tem Sófocles, tem Joyce, que maravilha.

Pelo que pude perceber, Duda Mendonça abriu os portões do impeachment hoje à tarde.

Suécia: polícia treina cadela para farejar esperma

Deus, é um orgasmo em cada linha.

O vice-líder do PFL se chama Pauderney Avelino.

Como ele não parou de chorar, ali pelas 3:00 eu peguei o guri e fui dar uma volta de carro, trajando MOLETOM-PIJAMA.

Mamãe ficou em casa, tendo um colapso nervoso.

24, Ramiro, Farrapos, Benjamin, Goethe, Silva Só, Ipiranga, João Pessoa, Independência, you name it, lá fomos nós, eu e o meu gorducho.

Parei num posto pra colocar UM LITRO de gasolina, tudo o que deu pra comprar com as moedinhas para parquímetro, já que a carteira ficou em casa.

O guri cochilou, até, mas foi só estacionar o carro na garagem que ele arregalou as bolitas.

Agora, depois de 457 embaladas contadas no carrinho, parece que ele finalmente dormiu.

Tenho medo até de respirar.

Santiago simplesmente NÃO QUER DORMIR.

É a segunda noite seguida em que isso acontece.

Ela fica urrando de raiva quando tentamos naná-lo.

Se o deixamos ficar brincando com as panelas e eletrodomésticos, ele fica tranquilo.

Um ano e quatro meses e já um invetereado BOÊMIO.

Daqui a pouco vou levá-lo pra tomar uma sopa no Van Gogh.

Já vi que vou ter que dar um ligeirão no Ulisses até segunda.

Saí de casa pra ver um filme ontem, mas não fui feliz, parece que a projeção foi cancelada. Bem que achei estranho passarem um filme na Usina na segunda-feira, mas li no jornal, acreditei, fui lá e me dei mal.

Na real, fui pra rever. A primeira vez foi quando eu tinha lá uns 18 anos. Primeiro vi o trailer numa sessão no Capitólio, com a sequência inteira em que dão um pão com pregos pras pessoas-cachorros. Fiquei tão transtornado que sonhei com o filme naquela mesma noite e jurei pra mim mesmo que ia ver quando chegasse. Era bem um desafio.

Uns dois meses finalmente a cópia chegou, no saudoso Cinema Um - Sala Vogue, que hoje é uma padaria, na Independência.

Dos cerca de trinta, fui um dos dez que assistiram até o fim.

Gurizão que era, saí do cinema com um sorriso no rosto.

"Feio e inútil: pescoço fino e cabelo embaraçado e uma mancha de tinta, um leito de caracol. No entanto, alguém o amara, o carregara em seus braços e em seu coração. Não fosse por ela a raça do mundo o teria esmagado sob seus pés, um caracol sem ossos despedaçado. Ela tinha amado seu sangue aguado fraco drenado do dela própria. Era isso então real? A única coisa verdadeira na vida?"

Ando lendo coisas novas, também. Se conseguir terminar a escalada com tubos de oxigênio e sherpas, vou tentar depois no original, comprado em 1995 e ainda reverentemente intocado.

Comecei a escrever outra coisa.

Tem a ver com o saudoso Nando, de quem já falei aqui num post anterior, mas é mais um ponto de partida, até porque não conheci da vida dele o suficiente pra ser biográfico.

Diferentemente da vez anterior, não decantei a história antes de começar a redigir.

Vamos ver no que dá.

Estou pensando seriamente em mandar um e-mail pra TV Senado IMPLORANDO pela coleção de DVDs com TODOS os depoimentos, ou pelo menos todos os do Roberto Jefferson.

Agora de noite tive a glória de ver as falas dos seguintes parlamentares:

Dep. ZICO BRONZEADO. Sim, existe um deputado que se chama ZICO BRONZEADO. Ele é do PT do Acre e usou o tempo pra contar TODA A MALDITA E DESINTERESSANTE HISTÓRIA DA SUA VIDA, com LONGAS DIGRESSÕES a respeito do seu pai, sobre o DEPUTADO MAIA QUE RENUNCIOU, sobre um LOCUTOR ESPORTIVO QUE ELE ADMIRA e sobre mais um monte de gente. Bem no finalzinho fez uma pergunta que já tinha sido feita umas quinze vezes antes. Durante todo a fala, fiquei mentalizando a sua decapitação sumária com uma katana.

Sen. Alberto Goldman. Bom discurso, argumentando que de estadista o Lula não tem nem o branco dos olhos, desenvolvendo que o Presidente "faz 3, 4 comícios por dia" e finalizando com uma defesa da idéia de impeachment. Um pouco antes, o Jefferson tinha dito que o Bornhausen e o FHC não querem impichar o Lula porque o Vice Alencar baixaria os juros, criaria um milhão de empregos, impulsionaria a economia e seria imbatível à reeleição. Em outras palavras, seria um bom presidente, o que deve contrariar alguma lei.

Depois foi a vez do Dep. João Fortes, PDT, ex-PT, imagino que de Pernambuco, dado o sótaque maravilhoso. Esse falou muito bem, também. Só não consegui conectar 100% com o discurso porque a câmera deixava vazar, ao fundo, o ENÉAS, que é basicamente a pessoa mais engraçada do mundo, mesmo não fazendo nada, mas ainda mais quando COFIA A BARBA, ATACA O GARÇOM PRA PEDIR ÁGUA, TIRA UM LENÇOL DO BOLSO E LIMPA, NESTA ORDEM, A BARBA, O NARIZ, A TESTA E POR FIM OS ÓCULOS E REPETE A OPERAÇÃO USANDO O COLARINHO DA CAMISA. Acordei três vezes o Santiago com as minhas gargalhadas, bastava o homenzinho se mexer que eu já ria, é o Peter Sellers do Congresso.

Depois tivemos um João Divino, meio sem graça, ainda mais porque o Enéas saiu de quadro.

Foi sucedido pelo Babá, PSOL-Pará, que lembra demais o Belchior, fiquei o tempo todo temendo que ele puxasse um violão e chamasse no "Como Nossos Pais". Discurso rancoroso, também, atacando frontalmente o Lula, a quem chamou de "o maior dos traidores" e acusou de ter se lembrado que existe povo no Brasil só agora. Não fez pergunta nenhuma, mas tocou o horror, dançando dentro do seu paletó extra-grande.

Se não me engano, depois veio o Mendes Ribeiro Filho, que devia pagar royalties pro Simon, a oratória é EGUAL.

Aí veio o ENÉAS, e neste ponto tenho dificuldades em descrever. Foi puro terrorismo poético, começando com expressões antediluvianas, como "displenda", se não me engano, e evoluiu com a tese de que o Lula não tem "arrumação intracromossômica" pra ser Presidente. Gênio.

Preciso desses DVDs.

Tô ouvindo pelo rádio, o que só aumenta o DESNORTEIO.

Parece que o Roberto Jefferson RASGOU um documento que
o Suplicy encaminhou à mesa, uma entrevista com a dona
de um restaurante do Pantanal declarando que ele e o
petequeiro dos Correios almoçavam juntos por lá e se
comportavam como grandes amigos.

Alguém da mesa, talvez o presidente, MIJOU o Roberto
Jefferson, dizendo que ele não tinha competência pra
rasgar o documento.

INTERROMPEU a sessão por 10 minutos, pro deputado se
RECOMPÔR.

Fora isso, o RJ falou de uma mulher morta a golpes de
picareta, numas de constranger o Suplicy.

Depois o RJ voltou e começou a fazer uma descrição totalmente lisérgica do Pantanal.

Como é que isso não tá passando na TV?

Dia de depoimento do Roberto Jefferson devia ser feriado nacional.

Fiquei até às 13:59 na frente da TV, não almocei.

"O conto pode ser o que se descreve na volta de uma viagem. Descrevê-la é a garantia de não ter se perdido."

Trecho de uma resenha sobre o "Ainda Orangotangos", do Paulo Scott.

Dos livros que ando bicando ultimamente, este é certamente um dos mais convincentes.

Também gostei da frase porque, levando-se o conceito de viagem ao pé da letra, é exatamente o que aconteceu comigo: este blog e a novelinha só vieram ao mundo por causa de uma viagem a que me submeti. A própria trama da novelinha gira em torno do tema.

"É verdade que a senhora se encontrou com a CAFETINA fulana de tal?"

Vendo a CPMI na hora do almoço. Daqui a pouco vou ter que tirar o Santiago da sala.

Quando vi que o depoimento do José Dirceu não ia sair da churumela de sempre, me desinteressei um pouco, desliguei a TV, fui fazer outras coisas.

Entretanto, quando fui buscar o Santiago na casa da vovó ontem à noite, ali pelas 22:30, pude acompanhar a fala do Pimenta, PT/RS, saudando efusivamente o ex-ministro e dizendo que o único erro do Governo foi não ter apurado a corrupção da gestão anterior, porque todos os casos de corrupção eram anteriores à chegada do PT ao poder.

Nunca pensei que fosse sentir pelo PT o mesmo asco que eu sentia pelo PP, PFL et caetera.

"Radicais palestinos erram disparo e matam criança

Cidade de Gaza - Um menino de três anos foi morto e nove palestinos ficaram fétidos no norte da Faixa de Gaza, (...)"

O revisor da Agência Estado deve estar acompanhando atentamente demais o depoimento do José Dirceu.

A vida sempre foi assim e só ficamos sabendo mais das coisas agora por causa da hiperdocumentação ou realmente é o fim do mundo?

Uma amiga minha, a Ione, ganhou uma viagem pra Nova York criando uma frase pro desenho animado "Madagascar".

Como é bom ver gente que merece se dando bem.

Dá vontade de abrir a janela do escritório e gritar "E TOMEM ISSO, SEUS FIADASPUTA!

Aliás, é exatamente o que vou fazer.

O livrinho está terminadinho.

Mandei pra um sábio ler, pra ver se tem salvação.

Duvido muito.