por Marcelo Firpo

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Ojos rojos

Era uma noite tempestuosa. Não, pensando bem, não era, apenas chuviscava. Aproveitando que minha mulher comerciária teria dois dias de folga seguidos, evento deveras ímpar, decidimos passá-los os dois em Montevideo. Pegamos um busão da EGA (Empresas General Artigas, por supuesto) e fomos dormitando ao longo de, sei lá, dez horas de viagem noite adentro. Eu já tinha ido vezes sem conta pra lá, mas minha mulher não, e é sempre bom apresentar um lugar pra alguém.

Pela manhã, ainda na estrada, fomos submetidos a um videoempresa que apresentava não apenas a EGA em si, mas também a Dulute, prouded produtora dos alfajores Portezuelo servidos no café da manhã, obviamente uma permuta. Como piece de resistance, salpicados aqui e ali na programação, grandes nomes da música popular local, como Monterrojo e Nietos del Futuro, primos distantes do KLB e do Twister.

À medida que fomos chegando, começaram as casinhas, os carros caindo aos pedaços, as pessoas caminhando com minicuias de mate pra lá e pra cá. É tudo tão uruguaio no Uruguai.

Achamos um hotel quase bom e barato perto da 18 de Julio e fomos bater perna, primeiro na dita avenida e depois na Ciudad Vieja. Lá encontramos um restaurante bem legal, moderninho sem ser cretino, muito bom e barato. Adequadamente batizado de Estrecho, o restaurante se resumia a um balcão dividindo um longo corredor. De um lado, os cozinheiros; do outro, os comensais. Comi um excelente sanduíche de frango com molho de curry lá, e gostaria de ter provado pelo menos mais uns três pratos.

De tardezinha minha mulher não aguentou mais caminhar e foi pro hotel dormir. Eu fui correr na Rambla, uma hora e dez minutos, honrosos dez quilômetros, minha melhor marca registrada até hoje, mais heróica ainda se considerarmos que no trajeto inteiro se respira a terrível fumaça da terrível gasolina uruguaia, muito mais forte que a nossa, talvez por não contar com tanto álcool na mistura.

Os preços estavam muito bons, tudo uns 40% mais barato que aqui. Comprei um casaco de lã, um chapéu e um livro com os cuentos completos do Mario Benedetti.

Pra terminar - sim, o final já é aqui, gostaria de ter escrito mais e melhor, mas o dever chama - uma observação que replica um post prévio do Bruno (e replicar aqui tem o sentido de reproduzir, não de responder): os uruguaios passam uma dignidade muito massa. Estão fodidos, o país não tem indústria, não tem empregos, os jovens precisam emigrar, mas todos tocam a vida com um estoicismo invejável. Tu tá num ônibus, entra um tiozinho com um violão, começa a tocar maravilhosamente bem uma milonga qualquer e tu não consegue sentir pena dele estar ali mendigando, porque ele simplesmente não te dá esse direito.

Assim que os meus olhos e pulmões se recuperarem, voltarei. Isso deve levar uns dez anos.

22/09/2005 10:12 | Comentários (7) | TrackBack (0)