por Marcelo Firpo

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Quosque tandem?

Sim, se eu lesse alguma coisa assim, também não acreditaria, mas foi exatamente deste jeito que aconteceu: chegamos em casa ali pelas dez da noite, fizemos o recolhimento de corpos de praxe e, como o Santiago estava grudento e rançoso, achamos por bem dar-lhe um banho. Sabendo que não seria seguro fazê-lo dentro do box, porque à noite as Antigas estão à solta, resolvemos encher a banheira com a água do chuveiro, sob estrita vigilância, e, numa manobra ousada, levá-la até o quarto dele, território relativamente seguro.

Giselle ficou vigiando e, quando a banheira encheu, me chamou para pegá-la, um enorme receptáculo de plástico transparente contendo algo como que sete litros d´água. Imitando um halterofilista búlgaro, me abaixei, agarrei as bordas, respirei fundo e, num movimento que deveria ser enérgico, levantei o trambolho, um pé do lado de dentro do box e o outro fora, o ombro apoiando a porta de vidro que insistia em fechar. Balançando o corpo, fui trazendo lentamente a banheira para fora, tomando cuidado para não derramar. Quando meus ombros estavam prestes a cruzar a linha divisória do box, dei um suspiro de alívio, mas foi precipitado: ouvi um ploft e, boiando placidamente na área morninha, lá estava uma ninfa, que é o estágio intermediário, sem asas. Se tivesse prestado um pouco mais atenção, talvez tivesse ouvido-a gritar "iuuuuupiiiii", em seu mergulho lá do teto. E que bom que ela acertou a banheira e não o meu pescoço.

Tivemos que dar um banho com água de chaleira e paninhos no Santiago, entre mais promessas de que "AGORA a gente se muda, chega, passou dos limites etc etc etc".

Agora, depois de muito ponderar, toquei spray nas laterais do forro de gesso do box e do banheiro. Temo que isso apenas as espante para as outras peças. Meus olhos ardem e acho que respirei mais do veneno do que devia. Ouço barulhinhos no gesso, mas podem ser apenas alucinações.

14/11/2005 23:06 | Comentários (10) | TrackBack (0)