por Marcelo Firpo

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Planos dentro de planos dentro de planos

dune.jpg

No comecinho do Duna, o jovem Paul recebe a visita da Reverenda Madre Gaius Helen Mohian, se não me falha a prodigiosa memória, no castelo dos Atreides, no cálido planeta Caladan. Ela o submete ao desafio do Gom Jabbar, que consiste em introduzir a mão do rapaz numa caixa que induz na pele a perfeita sensação de uma incineração. Ao mesmo tempo, a velhota segura uma agulha com veneno junto ao pescoço do nosso herói.

O desafio é simples: se ele tirar a mão da caixa, é envenenado. Se deixar, sobrevive. Ao longo de alguns segundos, Paul sente cada detalhe do processo, o calor, o cheiro de carne queimada, as chamas consumindo a pele, os músculos e ossos se reduzindo a carvão, enquanto a freira Bene Gesserit faz um paralelo da sua situação com a de um animal que fica com a pata presa em uma armadilha. Segundo ela, o animal pode simplesmente roer a própria pata ou esperar pela chegada do caçador.

Paul sofre o diabo, mas mantém a mão, que a estas alturas ele imagina ser apenas um toco fumegante, dentro da caixa. Quando o teste termina é que ele se dá conta que era tudo uma sensação induzida. A velhota vai embora, impressionada com a resistência do futuro Muad´dib, o messias.

O teste em si é uma bobagem, mas o exemplo do animal sempre me interessou muito. Roer a própria pata significa a liberdade, ainda que a um alto custo. Ficar na armadilha significa esperar por um novo acontecimento, seja ele a chegada do caçador, um possível enfrentamento, uma chance de escapar ou a morte certa.

Roer a pata ou esperar, eis a grande questão.

Apenas uma história aleatória que me ocorreu assim do nada, sem nenhuma relação com quaisquer acontecimentos concretos da minha vida, juro.

21/03/2006 11:30 | Comentários (17) | TrackBack (0)