por Marcelo Firpo

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O resenhista relutante

Quando as pessoas vinham me falar, entusiasmadas, esfregando as mãozinhas "...e quinta-feira tem o Naná", eu me segurava para não responder que o show bom desta noite ia ser o da Barca, desconhecida pra maioria.

O projeto paulistano que vive de se embrenhar nas profundezas do país para documentar folclore e interagir com as comunidades é meu conhecido desde 2000, quando a capa de um CD chamado "Turista Aprendiz" me chamou a atenção na FNAC. Fui ouvir e não precisei passar da terceira música pra saber que ia levar. É folclore, bem ruts mesmo, mas também tem um tratamento próprio, uma melancolia de quem sabe que faz um trabalho de Sísifo, um pianinho dolente pontilhando as melodias e deixando tudo com um quê de Cesaria Évora, uma tristezinha bonita. Depois do já citado "Turista", comprei também "Baião de Princesas", e agora esperava pela oportunidade de comprar a caixa "Trilha, Toada e Trupé",com três CDs, DVD e livreto, fruto de mais dois anos de viagens por cerca de 30 cidadezinhas perdidas no meio do nada.

Nunca tinha visto um show deles e estava meio ansioso, como se fossem uns amigos meus tocando. Queria que fosse bom, que agradassem, não apenas por gostar do som em si, mas por me lembrar uma boa época irremediavelmente perdida.

O show começa e eles ganham o povo de saída. A maioria das músicas é desconhecida para mim, porque são do repertório novo, da caixa. Sinto falta do cantor com cara de ogro que aparecia nos encartes dos dois primeiros CDs, mas as duas vocalistas compensam irretocavelmente a ausência dele, cantando e dançando coisas bem complexas com uma tranquilidade e um entrosamento assustadores. Se o Cocteau Twins tivesse nascido no sertão, soaria mais ou menos assim.

O show termina e eu vôo pra banquinha de CDs. Além da caixa em si, ainda tinha vários trabalhos solo de alguns dos integrantes.

Depois começa Naná Vasconcellos e é uma espécie de concerto de rock progressivo. O cara é bom percussionista, não tem como não reconhecer, mas o conceito da coisa toda é equivocado. O que poderia ser um show alegre e festeiro fica pesado, tedioso, parnasiano. Ele começa a fazer um solo de berimbau e, uau, ele sabe mexer naquele troço mesmo, mas aí o solo não termina nunca e fica constrangedor. Os arranjos são todos grandiloquentes e os músicos parecem se levar a sério demais, fazendo a toda hora umas caras de profundamente enlevados, quando na verdade estão só tocando um jazzinho fusion safado. Demorei um pouco pra me levantar e ir embora porque tinha um mar de gente sentada nos corredores, gente que estava bem acomodada nas suas cadeiras lá em cima e resolveu descer pra dançar quando o show começou. Surpreendidos pelo vagalhão de música séria, resolveram sentar por ali mesmo e esperar o show começar de verdade, um bocejo mais forte escapando de vez em quando. Dava pena de ver as suas expressões quando finalmente tomei coragem lá pela sétima música, levantei da minha cadeira e fui subindo corredor acima, cuidando pra não pisar em ninguém. No caminho vi dois adultos e uma criança dormindo, juro.

Quando saí na rua - e aqui a idéia não é soar irônico ou maldoso - tive uma epifania de alegria e alívio. Nunca foi tão bom sair de um show e ver que a vida seguia lá fora.

Depois fui ouvir meus CDs novos em casa.

10/03/2006 10:27 | Comentários (12) | TrackBack (0)