por Marcelo Firpo

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O colapso da esquerda

A verdade é que a vida não tem sido muito boazinha com o meu lado esquerdo.

Há cerca de dois meses, numa emocionante partida entre firmas e numa noite especialmente fria, me interpus entre o atacante que vinha com sede de sangue e a meta a ser defendida a todo custo, resultando daí uma bolada justa na parte interna da coxa esquerda. Estava de calção, bola direto na pele, praticamente um carimbo, dava pra ver até as costuras da esférica impressas na epiderme, mesmo no dia seguinte. Uma área elipsóide de cerca de 20 por 10cm ficou preta, com graduações esverdeadas nas bordas. Ficou doendo por cerca de duas semanas.

Uns três dias antes de viajar, minha mulher finalmente conseguiu incendiar o forno elétrico, depois de várias tentativas. Me chamou aos gritos, a cozinha toda esfumaçada, o forno escurecido, uma bola de fogo que um dia havia sido um pão de sanduíche lá dentro. Tomada já desligada, achei que devia tentar abrir a porta do eletrodoméstico, para jogar uma água no pão em chamas. Sim, poderia tê-lo deixado se consumir sozinho lá dentro, mas anos e anos de seriados americanos armazenados no subconsciente fazem com que a gente acredite, de forma instintiva, que tudo que pega fogo vai explodir em breve. Tentei abrir a porta e, ao fazê-lo, queimei meu polegar esquerdo. Uma bolha quase do tamanho da própria digital se ergueu em segundos, e doeu como nenhuma queimadura que eu tenha tido até hoje doeu.

Corta para a noite anterior da viagem. Estou no Iguatemi, resolvendo os últimos pepinos. Paro pra comer alguma coisa. Encho uma bandeja num bifê e, antes de ir embora, resolvo colocar uma pimentinha no prato. A bolha da queimadura já havia sido estourada há pelo menos três dias e, na minha cabeça, a área do dedo está, apesar de sensível, tecnicamente curada. Sem nem mesmo lembrar do machucado, pego a garrafinha de pimenta com a mão direita e, segurando a tampa com o indicador e o polegar esquerdos, tento girá-la. Meu dedão rasga de lado a lado, como um pêssego muito maduro. Em vez de suco de pêssego, verte sangue.

Mais ou menos pela mesma época, tenho uma crise aguda de cálculo renal, que resulta numa cirurgia, com um pós-operatório não exatamente doloroso, mas excruciante. Mijo algo que me soa como vidro moído durante uns três dias. Adivinha agora de qual dos lados estava a pedra.

No final de semana da volta, correndo na Av. Beira-rio e um pouco distraído pelo fato de ter passado há pouco por um representante das classes menos favorecidas e mais oprimidas deste país com os quais temos uma dívida que remonta desde o Descobrimento, quiçá mesmo antes, e a qual viemos pagando em suaves prestações e com doses variáveis de violência associadas, representante este que, com quase que absoluta certeza portava uma arma, talvez incônscio acerca da nova legislação sobre o assunto em vigor, eis que tropeço numa raiz de árvore e caio de joelhos no chão, ou mais apropradamente, de joelho, o esquerdo, que absorve todo o impacto da queda e perde no processo uma considerável parcela de seus tecidos epidérmicos e epiteliais, o comumente chamado bife, nome especialmente apropriado neste caso, uma vez que o ralado resultante tem não apenas o formato e o tamanho de um hambúrguer cru, como também seu aspecto.

Tenho certa dificuldade em dobrar o joelho, agora. Procuro mancar com dignidade.

Santiago fica especialmente chocado com o dodói.

Por alguma razão, talvez para testar a consistência do novo fenômeno, ele precisa enfiar seu dedo indicador nele, nos momentos em que não estou alerta.

16/10/2006 12:05 | Comentários (3) | TrackBack (0)