por Marcelo Firpo

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Pele

Relendo "O Sonho dos Heróis", toda noite, antes de dormir. Esse livro tem uma característica que poucas vezes me lembro de ter encontrado. Ele é gelatinoso. Por baixo do que está escrito parece que tem sempre um monte de outras coisas acontecendo. Tu tá lendo e, de repente, por detrás de uma vírgula, tu julga ter visto de relance outra coisa, uma idéia que não está de fato ali, uma ilação, uma sensação, que imediatamente volta a submergir. Às vezes parece até que estou lendo coisas que não li da primeira vez, como se o livro, assim como eu, também tivesse mudado ao longo dos anos. O que mais me impressionou naquela época foi a veracidade do personagem principal, Emílio Gauna, o vai-e-vem ininterrupto das suas opiniões acerca de Clara, a mulher que ele não sabe muito bem se ama, a dificuldade em olhar de frente para qualquer coisa e entendê-la, entender-se. A trama do livro, na verdade, é sobre isso: entrever, numa experiência banal, no caso, uma bebedeira durante o carnaval de 1927, uma culminância indizível, como estar olhando pra dentro d´água de dentro de um barco e ver a sombra de uma baleia passar. O impressionante é que esta sensação está, também, na forma da narrativa, no jeito quase desinteressado em que as palavras se sucedem, nas pistas e vislumbres que aparecem aqui e ali. De novo, a mesma sensação de não querer sair do livro, de não só não querer que acabe, mas a vaga decepção de saber que esta história aparentemente continua depois da última página, e mesmo que cada página é apenas a camada mais superficial, a pele de uma construção muito mais complexa, à qual não é possível ter um acesso completo.

Mas pode ser só o sono, também.

27/10/2006 11:45 | Comentários (1) | TrackBack (0)