por Marcelo Firpo

links
Czar
Nihil
Galera, o jovem
Galera, o velho
Martelo
M.O. Joe
Insanus
Bensi
Válvula
Medina
Não irei
Prop
Livros
Organá
R.I.P.

arquivos
setembro 2009
julho 2009
junho 2009
maio 2009
abril 2009
março 2009
fevereiro 2009
janeiro 2009
dezembro 2008
novembro 2008
outubro 2008
setembro 2008
agosto 2008
julho 2008
junho 2008
maio 2008
abril 2008
março 2008
fevereiro 2008
janeiro 2008
dezembro 2007
novembro 2007
outubro 2007
setembro 2007
agosto 2007
julho 2007
junho 2007
maio 2007
abril 2007
março 2007
fevereiro 2007
janeiro 2007
dezembro 2006
novembro 2006
outubro 2006
setembro 2006
agosto 2006
julho 2006
junho 2006
maio 2006
abril 2006
março 2006
fevereiro 2006
janeiro 2006
dezembro 2005
novembro 2005
outubro 2005
setembro 2005
agosto 2005
julho 2005
junho 2005
maio 2005
abril 2005
março 2005

categorias





« dezembro 2006 | principal | fevereiro 2007 »

Veja bem

Ontem passou no Canal Brasil um documentário em preto e branco, dos anos setenta, chamado "Os Subterrâneos do Futebol", que se propunha, como o título entrega, a mostrar os bastidores da paixão nacional, numas de desmistificar, desglamourizar. Tem entrevistas com o Pelé, então jogando no Santos, com um irmão do Pelé que jogava só pra tirar onda, com o Zózimo, ex-seleção brasileira desterrado num clube interiorano por ter sido acusado de suborno, com um que outro esforçado ainda na luta pra se firmar nos gramados e até com esposas de jogadores. Nada muito sensacional, apesar de ter boas imagens dos jogos da época, os campos encharcados, as botinadas, a torcida, algumas pessoas ainda usando chapéus.

Mas o que realmente me caiu os butiá do bolso foi ter percebido, depois das quatro ou cinco primeiras entrevistas, o quanto as pessoas se expressavam melhor antigamente. Não estou falando de jornalistas e treinadores. Estou falando de favelados que moravam com dez irmãos num barraco, estavam começando a jogar profissionalmente e, colocados frente a um microfone, eram capazes de conjugar verbos corretamente, não comiam os plurais e até escolhiam com segurança palavras mais complicadinhas pra dar um floreio aqui e ali. A própria estrutura dos discursos me pareceu mais complexa, tirando um que outro oligofrênico patológico. Meu primeiro impulso foi achar que eram textos decorados, mas depois me dei conta de que isso seria ainda mais absurdo, porque nenhum dos entrevistados se traía em nenhum momento. Eles simplesmente se articulavam melhor, com mais autoconfiança.

E uma certa dignidade, perdida para todo o sempre.

31/01/2007 09:06 | Comentários (13) | TrackBack (0)


Keeper

Até ter um filho, eu interpretava a expressão "pais ou responsável", constante de inúmeras fichas de preenchimento cadastrais, como algo parecido com "os pais ou a pessoa encarregada da criança caso algo aconteça a ela". Ou seja, a pessoa a quem se deve responder caso, sei lá, a criança fique entalada na montanha-russa, caia da roda-gigante ou tenha uma intoxicação com o cachorro-quente. Responsável em relação a uma possibilidade futura, se me fiz claro.

Depois que eu tive o Santiago, nunca mais consegui ler a palavra do jeito antigo.

Ficou claro pra mim que eu era o responsável por ele num sentido diferente: é por minha causa que ele está aqui, eu é que o arranquei do limbo dos bebês flutuantes e o coloquei neste mundo. Eu sou o responsável.

Por isso é que, quando me perguntam se eu gosto dele ou o quanto eu gosto dele, fico meio sem ter como responder. Ser responsável é anterior a isso.

Ser responsável come uma tigela e meia de gostar com leite e rodelas de banana a cada café-da-manhã.

30/01/2007 19:14 | Comentários (5) | TrackBack (0)


A cabeça, como um porongo

Terceiro dia de gripe, em pleno verão, nada pior. Quando eu morava sozinho, costumava ir pra casa e dormir durante todo o horário de almoço, pra ver ser recuperava um pouco. Agora fico brincando com miniaturas de dinossauros, mas não me queixo.

30/01/2007 12:35 | Comentários (0) | TrackBack (0)


"Wild dogs couldn´t drag you away from me"

100142577_fd846703bb_m.jpg

Revi esse baita filminho ontem de noite, poucos meses depois de ter passado pelos cinemas, e o fascínio se manteve. Bom uso da trilha sonora, atores bem escolhidos e dirigidos, roteiro espertinho e uma direção de fotografia que simplesmente grita de tempos em tempos. Gosto da Miranda, também, ela é agradável ao olhar e realmente parece não bater muito bem. Cena preferida: a dublagem imaginária da conversa entre o vendedor de sapatos e a ex-mulher, ainda mais com aquela voz meio dã. O tipo de prazer que eu tive vendo esse filme é mais ou menos o que eu esperava ter tido com vários do Hal Hartley, que é interessante, até, mas nunca tão bem resolvido, na minha humilde opinião. Espero sofregamente por mais filmes dela.

29/01/2007 16:27 | Comentários (4) | TrackBack (0)


Grenouille

Bonzinho, "O Perfume". Li o livro com uns quinze ou dezesseis anos, mas me lembro de ter achado legal o fato de toda a escrita girar em torno de formas de descrever a experiência olfativa. O filme, por sua vez, tenta fazer isso com big closes de fontes dos mais variados odores e também com lotes de locuções em off que, se por um lado não comprometem, por outro dão uma certa sensação de truque sujo. Enfim, é bobagem comparar livro e filme, basta dizer que o segundo pára em pé sozinho e até me deu uma vontadezinha de talvez passar os olhos pelo original assim que desencaixotá-lo. Diversão honesta para uma noite de sexta-feira.

26/01/2007 22:46 | Comentários (3) | TrackBack (0)


K Records

Coisa linda é chegar em casa e ver aquela caixinha de papelão com "amazon.com" escrito na lateral. Os aforismos de Zürau e o Castelo desta vez, já comecei o segundo.

Da hecatombe esperada, ainda nada. Ela quer que eu pense que não devia ser nada mesmo. Não.

24/01/2007 21:31 | Comentários (3) | TrackBack (0)


Something wicked this way comes

Sabe quando tu tem a nítida sensação de que uma grande mudança está para ocorrer em muito breve, e que ela pode não ser necessariamente boa?

É, eu também não.

23/01/2007 14:14 | Comentários (7) | TrackBack (0)


Diário

Sem grandes novidades, pelo menos não do tipo que rendem posts. A casa está mais ou menos arrumada, faltando apenas a estante nova, que deve demorar umas duas semanas. LIvros todos encaixotados, ainda. Em parte é bom porque me força a focar só nos poucos que estavam soltos pela casa antiga e por isso foram encaixotados com os itens do quarto e banheiro. Depois de terminar o "K" retomei o "A Supposedly Fun Thing I´ll Never Do Again", li uma novelinha picaresca chamada "O Que Contei a Zveiter Sobre Sexo" e avanço lentamente no "Sonho Interrompido por Guilhotina". A caminho, via correio, devem chegar nos próximos dias o livrinho com os aforismos de Zürau do Kafka e "O Castelo", os dois em inglês. Pela segunda semana seguida consegui correr por pouco mais de uma hora, do Caixeiros até a Redenção, três voltas por lá e retorno. Abismado com o silêncio da vizinhança.

22/01/2007 13:42 | Comentários (0) | TrackBack (0)


Almoço de domingo

Banheiro do restaurante, eu levando o Santiago para fazer cocô. Ele entra, estuda o ambiente, se detém um pouco naquelas baias pra mijar de pé e, quando adentramos a última peça, onde está o vaso sanitário, ele me olha consternado e pergunta:

"Mas onde que eles tomam banho?"

21/01/2007 14:41 | Comentários (0) | TrackBack (0)


Mondoestudo

Segundo o Correio do Povo de hoje, que não está lincado aqui porque resolveu revolucionar a Internet fechando todo o conteúdo do seu site para não-assinantes, Porto Alegre tem registrado níveis bastante preocupantes de radiação solar. Consta que existe um índice para medir isso, e que qualquer região que registre uma incidência de raios UV maior que ONZE pode ser considerada extremamente problemática, devendo-se evitar o contato com o sol das 10h às 17h.

Pois bem, segundo o jornal, Porto Alegre tem registrado DEZOITO nos últimos dias. Algumas outras regiões do mundo também contam com este mesmo índice, mas não existe registro de uma sequer que tenha passado disso. Ou seja, entramos no seleto clube de regiões com o sol mais ardido do mundo.

A capa do jornal também traz duas fotos, uma recente e outra do ano passado, mostrando a evolução do buraco da camada de ozônio sobre as nossas cabeças. A palavra "buraco" até se aplica na foto tirada em 2005, mas para a de 2006 eu usaria "GAMELA".

19/01/2007 09:50 | Comentários (16) | TrackBack (0)


Gengiva

A pronúncia argentina do "ll" me parece bem mais interessante que a espanhola. Quando têm que dizer "con ella", por exemplo, os argentinos dizem "coneja", enquanto os espanhóis dizem "coneia". "Calle" para os aqui do lado é "cage", enquanto que para os lá de longe é "caie". É evidentemente muito mais legal falar como argentino do que como espanhol.

Achei que era importante o registro.

18/01/2007 15:12 | Comentários (11) | TrackBack (0)


Tinchen

Não há gosto musical que resista à vida. Analisando a minha lista de hits mais ou menos constrangedores do post abaixo, posso dizer que cerca de 80% dela provém do conhecimento travado com uma única pessoa. Foi ali pelo meio dos anos 90, quando conheci uma menina que morava em São Paulo e que tinha parentes no interior gaúcho. Lembro bem do momento de epifania: durante um carnaval na Pinheira, abri o estojo de CDs que ela havia levado. Smashing Pumpkins e Netinho Ao Vivo conviviam no mesmo plastiquinho. E Nirvana e Alceu Valença. E Elis Regina e Banda Eva. Entre horrorizado e maravilhado, fui tomando contato com o estranho mundo do ecletismo absoluto, até porque não tinha mais volta mesmo, apaixonado que estava. Ficamos numa lenga-lenga por quase um ano, a história acabou, mas a trilha sonora se manteve, senão exatamente como algo que eu ouça todos os dias, ao menos como a chave para acessar boas lembranças.

17/01/2007 12:34 | Comentários (3) | TrackBack (0)


Gosto

O Tocatudo do nominimo propõe a interessante questão: qual seu gosto musical inconfessável? E complementa: "Aquele playlist que você só ouve trancado, de fones de ouvido e no escuro?" Eu tenho os meus, mas nem sou tão envergonhado assim, já que vários deles fulguram orgulhosos na minha estante de CDs. E não é consumo irônico, não. É gostar mesmo. Segue a lista:

-Banda Eva com Ivete Sangalo (tudo, tenho os CDs, todos)
-Netinho Ao Vivo (clássico da MPB)
-Terrassamba (o primeiro, genial, "Carrinho de Mão" e aquela música do Deus, "...ei você aí de cima...")
-Forró de quinta (tipo Magníficos e Banda Anjos & Demônios, que tinha uma cantora cega)
-"I do, I do, I do, I do, I do" do Abba.
-Uma música em inglês do Olodum, não lembro o nome, comprei o CD só por ela.
-Duas ou três do Falamansa, incluindo "Asas".
-Chico César (nem tão brega assim, mas essa "nova MPB" hoje em dia me constrange)
Daniela Mercury, em especial "Minas com Bahia", com o vocalista do Skank.
"Palavras", de Nando Reis, na voz de Cássia Eller.

Ok, chega. E vocês?

15/01/2007 17:36 | Comentários (50) | TrackBack (0)


Gaming

Santiago me acorda de manhã e pede pra "jogar jogo". São os games do site do Discovery Kids. A maioria é bem bobinho, mais educativo do que propriamente divertido, mas tem uns dois ou três que se salvam, especialmente os para crianças com mais de cinco anos. Meu preferido é "Pulando com o Doki", em que o cachorro-propagada do canal tem que correr e saltar por entre alguns obstáculos e recolher figuras geométricas. Eu opero a direção em que o cachorro vai, nas teclas de setinhas, e o Santiago fica com os pulos, na barra de espaço. Tem algo de particularmente legal em estar fazendo, provavelmente pela primeira vez, uma atividade colaborativa com o meu filho. Não estou ensinando-o a fazer algo, não estou fingindo que ele está me ajudando, não estou trocando as suas fraldas, mas estamos fazendo algo juntos, cada um com a sua função, mesmo que seja recolher triângulos, losangos e retângulos por aí.

Vou esperar mais algum tempo pra comprar um game de verdade, mas o que eu queria mesmo era algo bem simples pra começar, tipo Atari.

Se alguém souber de sites com joguinhos divertidos online me avisa aí.

15/01/2007 09:21 | Comentários (12) | TrackBack (0)


Seu outro mundo está no Big

Comparei alguns preços e achei que valia a pena começar a fazer o rancho no Big, pelo menos a parte de produtos industrializados. Parêntese: pra quem não é uruguaio, rancho são as compras do mês e Big é um hipermercado de apelo bem mais popular que, digamos, um Zaffari, cujo slogan duplipensante nos adverte que "economizar é comprar bem".

Tudo ali é diferente e pitoresco para mim. Na seção de chocolates, por exemplo, as barras grandes estão acondicionadas em caixas acrílicas transparentes, que só são abertas pela moça do caixa, mais ou menos como se costumava fazer com embalagens de CDs nos grandes magazines.

Isso acontece com as barras da Nestlé, Lacta e Garoto.

Estranhamente, não acontece com as da Neugebauer.

11/01/2007 08:06 | Comentários (13) | TrackBack (0)


Guasquito

Santiago começou a tomar chimarrão. Tem sua própria bombinha e minicuia, sabe onde a babá guarda a erva-mate e ele mesmo coloca a agua, direto da torneirinha do filtro. Se deixar, toma dez minicuias de uma vez.

Acho que devo pedir um DNA.

10/01/2007 19:08 | Comentários (5) | TrackBack (0)


Let the mystery be

Voltei do almoço e os ovinhos tinham sumido.

Faxinados, talvez.

Prefiro não confirmar com a tia da limpeza.

UPDATE: Ok, eu perguntei.

Ela disse que limpou o espelho ao meio-dia e não viu nada.

Das duas, uma: ou ela é cega para a magia do mundo ou a magia do mundo é um pouco maior do que pensávamos.


10/01/2007 12:58 | Comentários (5) | TrackBack (0)


As seen on TV2

alien.jpg

Conforme prometido nos comentários do post de baixo, eis a foto.

Aparentemente não são de lagartixa.

Gnomos, eu diria.

10/01/2007 07:59 | Comentários (35) | TrackBack (0)


Naturaleza

No banheiro da empresa, mais precisamente na moldura do espelho, dou de cara com algo que não sei bem explicar o que seja. Quatorze ovinhos tranlúcidos, na cor salmão, do tamanho de cabeças de alfinete, mas não exatamente do mesmo formato, milimetricamente arranjados um ao lado do outro, em bloco, quatro linhas de três, mais uma última linha com apenas dois. A primeira impressão é de ser algo artificial, industrial, um adesivo, principalmente pelo arranjo quase perfeito, que só se trai na falta de um ovinho na última linha. A não ser que seja uma piada de alguém, devem ser de lagartixa. O engraçado é que este banheiro é limpo diariamente, e o lugar, a moldura do espelho, é muito à vista. Estamos observando, qualquer sinal de vida volto a postar. Muita vontade de apertá-los e ouvir plop.

09/01/2007 15:05 | Comentários (9) | TrackBack (0)


Zürau

Além de "O Castelo", fiquei muito a fim de ler este livro aqui, que reúne pensamentos e frases espertinhas do Kafka durante o período que em que passou na cidadezinha de Zürau. Coisas como "Há um ponto do qual não há mais volta. É este o ponto a atingir", ou essa bela reflexão sobre a macumba: "É perfeitamente pensável que o esplendor da vida circule por toda parte, e sempre em toda sua plenitude, acessível mas velado, profundo, invisível, longínquo. Mas ele está ali, sem hostilidade, sem relutância nem surdez. Com a palavra certa, acode ao chamado. Essa é a essência da magia, que não cria, mas convoca."

08/01/2007 14:41 | Comentários (7) | TrackBack (0)


Franz

Leituras: "K.", Roberto Calasso. Sobre Kafka. Li pouca coisa dele, "Metamorfose" e alguns contos. Destes, gosto especialmente de "Ante a Lei". Deu vontade de ler "O Castelo". Meio emo, o Kafka.

08/01/2007 09:21 | Comentários (10) | TrackBack (0)


Messenger

mvscrol.jpg

Entendo nada de arte, mas vi uma retrospectiva dessa mulher em 1995 e me lembro de ter ficado bem impressionado. Agora, procurando umas referências pra um trabalho que estamos fazendo, dei de cara com a mesmíssima exposição aqui.

Em tempo: talvez pela imagem não dê pra notar, mas são centenas de fotinhas emolduradas, penduradas por barbantes de diferentes tamanhos. Cousa muito linda.

04/01/2007 13:29 | Comentários (2) | TrackBack (0)


Band-aid

Coisa linda é dar uma paradinha nos trabalhos e ouvir isto e isto.

Bruno, aquela banda ainda tá de pé?

Desenvolvendo: de certa forma, dá pra se dizer que Morrissey e Marr arruinaram a minha adolescência. Lembro bem da primeira vez que ouvi uma música dos mancunianos: um grande amigo me chamou na casa dele só pra mostrar a banda mais ridícula do mundo, que tinha vindo num flexi-disc de brinde da Bizz. A música era "Still Ill", e ficamos um bom tempo nos deitando da bizarrice toda, da voz esquisita do vocalista ao fato de que aparentemente ele não parecia estar cantando a mesma música que o resto da banda tocava. Não nos pareceu especialmente gay na época, e aí é bom lembrar que gente como o Duran Duran, Talk Talk e Spandau Ballet ocupavam as paradas de então, e perto deles os Smiths eram o Charles Bronson. O que realmente nos chamava a atenção e rendeu boas piadas foi a canhestrice da coisa toda. Os caras da Bizz enlouqueceram, concluimos.

Alguns dias depois, em plena prova de matemática da quinta série, o refrão ou a lembrança do que seria aquele refrão irrompeu na minha memória, desalojando de lá inclusive a fórmula de Báskara, não sem alguma violência. Na primeira oportunidade que tive de falar com o meu amigo, comentei: "Sabe aquela banda ridícula que veio na Bizz? Acho que talvez não seja tão ruim assim", ao que ele me respondeu "Não é não, eu ouvi de novo e gostei."

Nas semanas seguintes, recebi a visita de outro grande amigo, que na época tinha como hobby gatunar LPs das lojas da Galeria Chaves e me apareceu com o single de "The Boy With The Thorn in His Side". Não demorou pra que eu comprasse o "Hatful of Hollow", com inacreditáveis dezesseis músicas, entre elas a "Still Ill" e "Heaven Knows I´m Miserable Now". Acho que eu não tinha muita coisa pra fazer na época, porque decorei todas as letras como um estudante de madrassa decora o Alcorão. Depois vieram todos os outros, "Meat is Murder", "The Queen is Dead", "The World Won´t Listen", "Rank", "Louder Than Bombs" e "Strangeways, Here We Come".

Foi uma obsessão como só se pode ter na adolescência, com todos os ganhos e perdas que isso pode ocasionar. Um dos ganhos: minha pronúncia de inglês, elogiada algumas vezes, deve muito ao Morrissey. Perdas: sei lá, eu realmente acreditava naquela bosta toda de "spending warm summer days indoors, writing frightening verse to a buck-toothed girl in Luxembourg". Isto é, identificava uma espécie de clichê nerd naquilo tudo e, mesmo assim, me esforçava para me encaixar nele. Mais, chegava ao cúmulo de ficar meio decepcionado quando o Morrissey dava alguma declaração ou fazia algo não tão morrisseyano. E o curioso é que, mesmo assim, a vida fora da minha cabeça seguia mais ou menos normalzinha e dissociada do lenga-lenga todo, com as primeiras experiências sexuais com o sexo oposto e tudo mais se impondo aos poucos e prevalecendo. Gosto de pensar que, se não virei rosca depois de uma uma adolescência inteira idolatrando Smiths, nada mais me fará virar. Como diria o Seinfeld, não que haja nada de errado com isso, é claro.

Depois que a banda acabou, ainda tive uma certa boa vontade com o Morrissey, mas mesmo ao me empolgar com singles tipo "Suedehead" e "Everyday is Like Sunday", sentia que não era a mesma coisa. A guitarra do Johnny Marr era muito, muito importante mesmo, talvez até mais do que a voz do Morrissey, veja só. O bardo de Manchester nunca mais arrumou um parceiro à altura. Foi legal vê-lo cantando no Opinião, mas mesmo lá, a sensação de estar participando de um pastiche, de um revival, de estar vendo o Elvis gordo em Las Vegas não me abandonou nem por um segundo. A reunião dos Smiths, ou pelo menos do Morrissey e do Johnny Marr seria, na minha modesta opinião, o maior acontecimento da história da música ocidental de todos os tempos.

Mas posso estar exagerando um pouco, é claro.

03/01/2007 14:25 | Comentários (13) | TrackBack (0)


As seen on TV

Ok, confesso que sou um lixo em retrospectivas, basicamente porque me faltam a disciplina e envergadura moral pra ir arquivando as coisas legais com as quais me deparei durante o ano. Mesmo assim, tentarei puxar da memória as melhores coisas de 2006. Adelante:

Foi massa começar a ler David Foster Wallace. Ou pelo menos tentar, já que tem algumas coisas dele que são realmente intransponíveis pra mim. Escrevo melhor depois de alguns dias lendo este sujeito. Por enquanto, estou preferindo os ensaios, mas é só porque são mais facinhos mesmo. Li "Breves Entrevistas com Homens Hediondos" e algumas porções de "Consider the Lobster", "A Supposedly Fun Thing I´ll Never do Again". Do "Oblivion" só uns dois ou três contos. Uma boa resolução de ano novo seria ler o "Infinite Jest".

O livro do Galera, "Mãos de Cavalo", ficou à altura das grandes expectativas que eu tinha. Provavelmente o livro em português mais legal do ano.

"Ghost of Hoppers", do Jaime Hernandez. Depois de dez anos de histórias, aparenta ter fôlego para mais vinte. Maior quadrinista vivo.

Ter relido "El Sueño de los Heroes", desta vez em espanhol. E também os contos do Bioy Casares que estou lendo a passo de cágado.

Cinema: "Suíte Habana", de Fernando Perez. Um filme muito aguardado que também cumpriu as expectativas. Final para acabar com a pessoa.

"A Criança", daqueles diretores gêmeos belgas. Outro filme pra arruinar uma existência, como diria o Bruno.

"Me and you and everyone we know", Miranda July. Preciso de mais coisas deste tipo, com urgência. Só de pensar no filme já me sinto bem.

Tem aquele filme do cachorro, argentino, não lembro se foi este ano. Seria "El Perro"?

O papel do Mark Wahlberg nos "Infiltrados".

"Cassino Royale", definitivamente legal.

Shows: A Barca e DJ Dolores, no Salão de Atos, destacaram-se entre os pouquíssimos que consegui ver.

Em música, alguns dos hits de Lily Allen e Guillemots, "Lunático" do Gotan Project, todo o Yann Tiersen ao alcance.

No mais, andar de bicicleta com o Santiago na cadeirinha.

Ter revisto "Mad Monster Party?", clássico absoluto da infância.

Ter revisto Madri e Barcelona, clássicos absolutos da adolescência tardia, desta vez com a família. Ter mostrado pra minha mulher o que exatamente eu queria dizer quando falava em "cidade" foi especialmente bom.

Ter passado algumas horas no aeroporto de Salvador na volta. Melhores pessoas, os baianos.

Ter me tornado tio.

Ter participado de alguns jantares e convescotes com os Insanus.

Coisas ruins: além, obviamente, da partida do Gabriel, não ter passado o carnaval no Recife, ter viajado bem menos do que gostaria e ter falado pouco com algumas pessoas que eu gosto e respeito muito. Vocês sabem quem são, não se façam de salame agora.

Ok, acho que vou parando por aqui. O que não gosto destas listas é que elas denotam uma pretensão da pessoa conhecer horrores de coisas e ter tido um monte de experiências legais, e de todas estas estar selecionando apenas algumas, quando na verdade o que a minha própria lista testemunha é que li, vi e ouvi poucas coisas em 2006, e destas selecionei algumas pouquíssimas.

Prometo me esforçar mais em 2007.

02/01/2007 14:31 | Comentários (3) | TrackBack (0)