por Marcelo Firpo

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Veja bem

Ontem passou no Canal Brasil um documentário em preto e branco, dos anos setenta, chamado "Os Subterrâneos do Futebol", que se propunha, como o título entrega, a mostrar os bastidores da paixão nacional, numas de desmistificar, desglamourizar. Tem entrevistas com o Pelé, então jogando no Santos, com um irmão do Pelé que jogava só pra tirar onda, com o Zózimo, ex-seleção brasileira desterrado num clube interiorano por ter sido acusado de suborno, com um que outro esforçado ainda na luta pra se firmar nos gramados e até com esposas de jogadores. Nada muito sensacional, apesar de ter boas imagens dos jogos da época, os campos encharcados, as botinadas, a torcida, algumas pessoas ainda usando chapéus.

Mas o que realmente me caiu os butiá do bolso foi ter percebido, depois das quatro ou cinco primeiras entrevistas, o quanto as pessoas se expressavam melhor antigamente. Não estou falando de jornalistas e treinadores. Estou falando de favelados que moravam com dez irmãos num barraco, estavam começando a jogar profissionalmente e, colocados frente a um microfone, eram capazes de conjugar verbos corretamente, não comiam os plurais e até escolhiam com segurança palavras mais complicadinhas pra dar um floreio aqui e ali. A própria estrutura dos discursos me pareceu mais complexa, tirando um que outro oligofrênico patológico. Meu primeiro impulso foi achar que eram textos decorados, mas depois me dei conta de que isso seria ainda mais absurdo, porque nenhum dos entrevistados se traía em nenhum momento. Eles simplesmente se articulavam melhor, com mais autoconfiança.

E uma certa dignidade, perdida para todo o sempre.

31/01/2007 09:06 | Comentários (13) | TrackBack (0)