Fui pra Torres com o Santiago ontem. Conseguimos pegar uma praia, das duas às sete da tarde. Fizemos castelos, perseguimos formigas, comemos milho e pulamos ondas. Depois fomos pro único hotel vago que achamos, que não era lá grandes coisas, com exceção do acervo de mosquitos, certamente o maior da América Latina. De noite, carregando-o no colo sob a chuva, enquanto ia de farmácia em farmácia atrás de repelente infantil, me fez talvez a mais intrigante e bela pergunta que já ouvi:

"Papai, quando tu era pequeno era eu que te levava no colo?"

Crispin Porter + Bogusky escangalhando de novo: Whooper Freakout.

Dentro de alguns minutos sairei para me engalfinhar com uma legião de procrastinadores em busca dos últimos presentes de Natal disponíveis nas lojas.

Como minhas chances de sobrevivência são pequenas, gostaria de desejar antecipadamente um Feliz Natal pra todo mundo que lê e/ou comenta o blog, em especial à Fabi e ao Mojo, os mais novos papais do pedaço.

Sábado pela manhã, ali pelas 06:30, Santiago resolve exercitar o próprio lirismo. Ele vai até a minha cama, me sacode e informa:

"Papai, o sol já acordou."

Já no domingo ele dorme um pouco mais, até as 08:00, e prefere uma abordagem um pouco mais sincera:

"Papai, tu parece um PORCO."

Minha atual obsessão tocando "Balada de Paulista". Considerando seriamente a hipótese de viajar para ver um próximo show.

Acho que abri os portões do Inferno. Ontem fui em casa ao meio-dia levando dois presentes pro Santiago: o número dois de "Quarteto Fantástico - O Fim", uma minissérie já comentada por cima alguns posts abaixo e um bonequinho do Homem-Aranha. A revista foi legal, eu estava louco para começar a ler alguma coisa nova para ele, que sempre me pedia para voltar a um "Homem-Aranha - Guerra Civil*" cheio de imagens um pouco demais para a faixa etária, tipo esqueletos envoltos em enxames de abelhas e cabeças despedaçadas, mas o que realmente estourou a banca foi o bonequinho. Achei que a criança ia explodir de tanta emoção. Passou a tarde toda brincando com ele, pendurando em cordões amarrados pelo quarto, botando para brigar com tiranossauros etc etc. Sempre fui um homem de bonequinhos, também. Meus avós me compraram um conjunto de monstros em louça ou porcelana, frankenstein, lobisomem, drácula e esqueleto com chapéu de napoleão (nenhum sentido), eternos na minha memória afetiva. Depois houve os playmobil, falcon e uns curiosos personagens de Guerra nas Estrelas em chumbo, que só tinha pra vender na Hobby Brinquedos, na subida da Rua da Praia. Apesar de publicitário, sempre resisti no limite de minhas forças a colocar bonequinhos espertos em cima do monitor, achava que era um pouco demais. Suportei bravamente também ao advento dos toy art, mas agora, ei, são pro meu filho, não são pra mim. O fato de eu me divertir tanto quanto ele é um mero detalhe. O diabo é que são caros esses bonequinhos contemporâneos. Comprarei um por ano, quando estiver entrando na faculdade Santiago já terá a equipe dos X-Men quase completa.

*Comentário fortuito sobre esta revista do Homem-Aranha: tem quatro histórias diferentes na revista, cada uma seguindo uma cronologia diferente. Numa ele tem um uniforme novo e cheio de gadgets, no outro ele está enfrentando o Mysterio, na seguinte ele está com o uniforme original e ao lado do Quarteto Fantástico no meio de uma invasão alienígena estilo bodysnatchers, na outra ele está quebrando um pau com o Homem de Ferro e na última ele está trabalhando como travesti (ok, esta aqui foi só pra ver se você estava mesmo prestando atenção). Tudo bem que a nova geração é um pouquinho mais dispersa e multiplataforma, mas quatro histórias com cronologias diferentes do mesmo personagem na mesma revista me pareceu um pouco demais.

Tudo começou com um e-mail da lista do insanus, convidando para um projeto novo envolvendo música folk em São Paulo. Não teria dado muita bola, se o nome Lulina não tivesse soado uma corda interior. Fui no youtube e achei alguma coisa. Gostei. De lá, fui pro myspace. Cada vez mais incontrolavelmente em chamas, cambaleei até o tramavirtual . Foi lá que ouvi "Jerry Lewis", nu e chorando, e estou ainda ouvindo agora, enquanto digito com o nariz. E agora achei essa entrevista. Gênia. Quero baixar todas. Quero ir num show. Quero comprar os CDs, a camiseta. Quero reencarnar no Recife. Obrigado, Lulina.

Todos os dias pela manhã, Santiago me diz coisas tipo "Papai, quero ir na neve" ou "Vamos andar de avião hoje?" ou ainda "Vamos andar no trem do buraco*?"

Querendo muito viajar, como o pai. Resolvemos passar o carnaval em Buenos Aires. Até lá, algumas idas à praia. Eu devia ter feito Turismo.

*metrô

Simpático o show do Gotan Project ontem. Bons ternos, pessoas simpáticas, imagens legais projetadas no telão. Gosto mais da idéia de modernizar o tango do que do resultado propriamente dito na maioria dos casos, mas tem uma (Celos) ou duas (Mi Confesión) músicas que realmente me agradam. Achei um não-vídeo de "Celos" aqui, bom pra conferir a letra e descobrir com quantos emes se faz um gemido.

Minha mãe foi para a praia, tentar achar um apartamento para alugar por temporada. É perto do meio-dia e estou no carro, em Porto Alegre, junto com Santiago, quando ela me liga com algumas dúvidas sobre a melhor localização. Dou a minha opinião e, ao desligar, comento com ele:

"Era a vovó."

"FAZENDO BURACOS?"