por Marcelo Firpo

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A orquestra de uma mulher só

Ando pensando seriamente em mover toda a minha fortuna para o Santander, como forma de agradecimento pela programação do Santander Cultural. Neste domingo, tinha essa francesa, Colleen. Na minha oceânica ignorância, não sabia nada sobre ela, mas quando li no jornal que envolvia uma VIOLA DE GAMBA, pensei que não poderia ser ruim. Achei, entretanto, que era uma pilha mais música clássica.

Chego atrasado, no final da primeira ou segunda música, e a mulher está agachada no palco, pés descalços, sem instrumento nenhum, mexendo nuns botõezinhos da pedaleira. Sim, viola de gamba com pedaleira, certamente não o seu típico show de música clássica. Não vou tentar descrever o som que ela fazia, não tem como. Ela ficou uns bons minutos fatiando aqueles sons, aí chegou num ápice de barulho transformado em música e terminou, aplaudidíssima.

Me encostei numa parede e fiquei ali, abobado. Depois disso ela pegou a viola de gamba, que é basicamente um violoncelo de sete cordas mas com uma sonoridade mais crua, que lembra uma rabeca grave. Foi então que comecei a entender o modus operandi da coisa: ela pega a viola, toca um pouco, sampleia aquilo e faz uma caminha pro fraseado seguinte, e assim sucessivamente, formando um som denso, rico, texturado, tramado. Também usa violão, clarinete e sininhos, em diferentes músicas, cada uma delas um troço avassalador.

Meio ruim de comparar com alguma coisa, mas sob a mira de uma arma eu diria que tem pontos de contato com Yann Tiersen e as músicas dos filmes do Krzysztof Kieslow, mais pelo fato de serem muito bons, melódicos, minimalistas e usarem instrumentos de corda, não tanto por serem realmente parecidos.

Num certo momento apresentou a última música, tocou, depois voltou meio sem jeito pro bis, como quem diz "vocês têm certeza?", e mais uma vez destroçou o universo sem dó. Eu queria que o bis fosse a música ou as músicas do começo que eu perdi, e que ela tivesse tocado todas em ordem de novo, e de novo, e de novo.

Na saída ainda ficou falando com as pessoas na beira do palco, zero de pretensão, o que é ainda mais desconcertante quando a música em si é tão ambiciosa, no melhor dos sentidos. Disse que todos os CDs tinham sido vendidos em São Paulo. Ganhei, pelo menos, um cartão com os endereços do site, myspace e os nomes dos discos todos.

Na saída, o guardador de carros me perguntou do nada: "E a francesa, era boa?"

"Uma demonha."

21/09/2008 19:15 | Comentários (13) | TrackBack (0)