Santiago, atacado, não consegue dormir.

"Eu não consigo ficar quieto, papai."

"Faz assim. Fecha os olhos e pensa só na tua respiração" (respiro um pouco bem alto pra mostrar exatamente o que estou querendo dizer) "Não parece as ondas do mar?"

"É, parece."

"Então, faz de conta que tu tá numa praia, imagina as ondas."

(pausa)

"É que eu prefiro imaginar um MORANGO GIGANTE, papai."

Fui atropelado por uma FEP, hoje. Se tu não quiser ler o post antigo que explica o que é uma FEP, eu resumo: Frase Esperada da Pessoa, a primeira vez que tu ouve alguém falar alguma coisa e o que esta pessoa fala se encaixa com perfeição com a frase que tu imaginou que ela diria e também com o personagem que tu imagina que ela seja.

Excepcionalmente neste caso, a frase nem era tão previsível assim, mas se encaixou com perfeição à imagem mental instantânea que eu fiz do seu locutor.

Mais do que uma FEP, o que eu ouvi foi o resumo de toda a eleição. Tinha acabado de correr na Redenção e estava voltando a pé pra casa. Na calçada, num carro estacionado, dois militantes petistas de meia-idade ouviam rádio de portas abertas. No exato momento em que passei, Mária do Rosário encerrava um discurso dando parabéns "...ao prefeito Fogaça." No átimo de segundo em que eu concluí que era um discurso de reconhecimento da derrota, um dos militantes deu um suspiro e desligou o rádio, depois jogaram as bandeiras no banco traseiro e fecharam as portas.

Ainda estava próximo quando ouvi a frase aniquiladora, dita num sotaque pernambucano, de militante importado de longe:

"Também, porr que é que tinham que ter roubado tanto?"

Santiago deseja a todos um feliz Halloween.

Os últimos dias do David Foster Wallace. Quase não li, achando que era um texto meio sensacionalista, mas na real - e talvez mesmo sendo - revela alguns detalhes interessantes, que me forçaram a reconsiderar algumas idéias que eu tinha do sujeito.

Primeiro, sofria de depressão crônica, tomando medicamentos sob receita, inclusive. Nos últimos tempos, os remédios deram algum crepe e ele teve de interromper o uso, resultando daí também uma internação e eletrochoques que o fragilizaram bastante.

Segundo, por conta desses problemas teve que se licenciar da universidade onde dava aulas, passando os dias em casa. Quando a mulher precisou viajar para tratar de assuntos de família, pediu que seu pai e mãe viessem passar uns dias com ele. Matou-se alguns dias depois que eles voltaram para casa. Não escrevia nada há cerca de um ano.

A idéia que eu tinha do DFW era a de um cara meio auto-suficiente, um gênio morando com dois cachorros numa cabana e barbarizando o mundo da literatura com gosto e diligência. O próprio suicídio dele tinha pra mim até então um quê de soberba, de enfado. O cara que emerge desse texto é, estranhamente, humano.

Gostaria de escrever mais um pouco sobre isso, mas o Santiago tá no meu colo repetindo em loop há dois minutos que quer jogar os games do site do Discovery Kids. Filhos pequenos, o remédio que a Natureza inventou para afugentar qualquer traço de depressão ou de autocentrismo.

Que boniteza esse disco da Little Joy, né?

Falta pouco tempo agora.

Santiago me pergunta alguma coisa difícil de responder, tipo onde está um brinquedo desaparecido há meses, por exemplo, ou o que as aranhas conversam umas com as outras.

"Hm, não sei, filho."

"Ah, então pergunta pro teu pai."

Tava numa reunião ao ar livre ontem quando um guri e uma guria me abordaram, oferecendo um CD. Achei que queriam vender, quase refuguei, mas peguei pra olhar. Me perguntaram se eu gostava de ska. "Gosto." Aí me disseram que estavam divulgando a turnê de uma banda alemã de ska jamaicano, um troço meio retrô, na pilha Skatalties. "Massa." Me explicaram que estavam querendo uma colaboração, e eu já ia desembolsar alguns reais quando emendaram que o CD era de graça, o que eles queriam era tão somente que eu o ouvisse e, se gostasse do som, ajudasse na divulgação.

E é precisamente isso o que estou fazendo agora, copiando todo o serviço abaixo:

JAZZBO - Ska Jazz From Berlin

Abertura: Banda Subdub
DJs: Leo Gärbin e Bruno Kaskata(SP)

Data: 30/10/2008
Hora: 23:00
Local: Porão do Beco, Av. Independência 936

Ingressos Antecipados: Matriz Skateshop, Shopping Total
Valor: R$20,00
Preço Promocional para os CEM primeiros ingressos: R$15,00

Levamos precisamente uma tarde pra montar a banda, via lista do Insanus.

Agora, nos dedicamos a reminiscências. Esta é a minha:

A primeira vez que ouvi Smiths foi num FLEXI-DISC da Bizz, a música era Still Ill.

Fui falar com o meu vizinho de novo, pedi pra ele botar o disquinho na vitrola, ao que ele respondeu: "Já sei, eu também comecei a achar legal depois de um tempo."

Em tempo: Noel Gallagher falando sobre Smiths.

Minha mulher comprou um DVD com um show de 83 dos Smiths. Assistindo, me dei conta que mesmo passados vinte anos ainda sou capaz de cantar instantaneamente e de cabo a rabo de trinta e cinco a quarenta músicas deles.

Percebi que não posso privar a humanidade desta habilidade ímpar. Vou juntar uns amigos e montar uma banda cover pra tocar em casa, aos sábados de tarde.

Só pra deixar registrado: Joan Jett é uma das maiores melodistas de todos os tempos.

Duvida? Então tome isso:

E mais isso:

E mais isso:

Ou mesmo essa, que eu nem conhecia:

Sério, estou baixando neste exato instante toda a discografia da mulher. Gênia.

Alan Moore não acredita, como sempre.

Eu acredito. Como não poderia?