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Alexandre Soares Silva, citado pelo Filisteu, toca na ferida: por que negros não podem gostar de Beach Boys? Ou de Kafka? Por que não Kubrick em vez de Spike Lee?

"São criaturas exclusivamente sociais, incapazes de se interessarem em biologia, astronomia, metafísica", resume em um trecho.


Não chega a tentar uma explicação, mas mostra a pobreza intelectual que envolve o fenômeno. Tenho a minha própria explicação. Na maioria dos casos, a "arte de gênero" é um biombo conveniente para a falta de talento.

É burrice não reconhecer a maior dificuldade de um escritor, um escultor, um pintor, "da periferia" de chegar ao público. Por exemplo: o cara, se não tiver grana para um computador e nem usar um no colégio ou no trabalho, não pode ter um blog, nem publicar na Internet. Mas por outro lado, quando publica um livro, baixa a culpa geral em se analisar a obra criticamente.

Percebo isso nas resenhas. Há todo um cuidado em se esquivar da qualidade ou não da obra em questão. Um livro escrito por um "excluído" automaticamente merece ser lido porque, afinal de contas, exigiu muito sacrifício para ser produzido. Uma escultura saída de uma oficina popular do Capão Redondo, em São Paulo, ou da Rocinha, no Rio, será apresentada ao público sem a devida avaliação enquanto outra, saída de um atelier, vai ser criticada sem a mesma pena.

Induz-se o público à culpa e à aceitação, como se o artista, dada a sua condição social, não pudesse simplesmente ter talento. Para os artistas sem talento, isso é benéfico. Pela falta de crítica, ganham uma visibilidade que não merecem. Para aqueles que o têm, é injusto. São vistos como uma espécie de cota social das artes.

Senti muito isso com relação à Cidade de Deus, o livro. Não vi crítica capaz de avançar além da condição social do autor e dos personagens.

Há um outro lado. A tal "nova geração de escritores" adora ter como personagens publicitários, universitários, jornalistas, cineastas, etc, todos perdidos nesse mundo de sensações e incertezas, incapazes de lidar com a necessidade de trabalhar e a vida adulta. Também está presa a um gênero, mas pelo menos é avaliada pelo que produz.

O mesmo ocorre com outros gêneros. Scum manifesto, da Valerie Solanas, é uma baita merda, mas, sendo a autora quem foi, virou ícone das feministas. Há uma profusão de escritoras-mulherzinhas sendo lidas porque escrevem como mulherzinhas, não como escritoras. Caio Fernando Abreu foi supervalorizado por causa da temática. Gosto de alguns contos dele, mas não como ícone. Literatura judaica é outra piada. Por que não só literatura?

Mais variações: aqui no RS, por exemplo, qualquer escritor, ator, pintor, músico, cineasta é automaticamente bom porque é do estado. Usando um termo que tenho visto freqüentemente, trata-se da "Síndrome do Banrisul" (é melhor porque é nosso). É só lembrar o que foram os confetes e serpentinas em cima de A casa das sete mulheres.

No caso dos negros, o social não devia mais ser justificativa nem para o público, nem para os artistas. É possível gostar de música negra porque existe música negra de qualidade, mas, fora o gosto pessoal, o que impede um negro de gostar também de Jesus and Mary Chain? É possível ler Vonnegut e mandar Chester Himes pastar. Deve haver escritores negros que não escolhem os personagens pela cor da pele. Em qualquer situação Rodin é melhor do que os pratos feitos à mão do Capão Redondo.

E apesar de negro (ok, mulato), gosto de Beach Boys.

# alexandre rodrigues | 28 de janeiro Comentários (1) | TrackBack (1)


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