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Da série Tipinhos Insuportáveis 1. O reacionário de butique Existe a esquerda de butique. E punks de butique. E hippies de butique. A novidade destes nossos dias é o reacionário de butique. O reacionário de butique é o tipo que acha moderno e charmoso ser reacionário, assim como a esquerda de butique alguns anos atrás achava moderno e charmoso ser de esquerda. Como seu contrário, acredita na moda. Se a moda é ser reacionário, entra com fé nessa nova atitude. Em outros tempos, o reacionário de butique ouviria música latina e teria um poster de Che Guevara - comprado na feira hippie - no quarto. Como é um reacionário, tem um poster estilizado e colorido de Che Guevara - comprado na C&A - no quarto e ouve rock e reggae sem deixar de gostar de outros ritmos (acredita na pluralidade), desde que estes ritmos não sejam os mesmos que ouve a empregada. Sim, o reacionário de butique, embora se diga um liberal e admirador dos Estados Unidos e da Europa, não admite viver, como os americanos e europeus o fazem, sem ter empregada. Nem que seja uma faxineira. Acredita na propriedade privada e no trabalho, mas não em ter trabalho para limpar a sua propriedade privada. Tal qual a esquerda de butique, o reacionário de butique adora citações. Se a esquerda de butique cita Hobsbawn e Verissimo, o reacionário de butique decora frases inteiras do Olavo de Carvalho e do Diogo Mainardi. Odeia o socialismo, mas jamais leu um livro de qualquer autor socialista para rejeitá-lo sozinho. Ama o liberalismo, porém desistiu nas primeiras páginas de “A riqueza das nações” ou de “A ética protestante e o espírito do capitalismo”. Jamais passou perto de Locke. Acredita ser portador de um liberalismo instintivo, baseado na própria crença e, antes de tudo, no sentimento de ser "anti". Antipetista, anticomunista, etc. Prefere a cultura terceirizada e as citações, que dão menos trabalho. Devota ao “Mídia sem máscara” e à Herritage Foundation a mesma adoração que a esquerda de butique dá ao “Hora do Povo” e à "Caros amigos". Jamais tente dizer a um reacionário de butique coisas como "se você é de direita e o Lula está fazendo um governo de direita, então você deveria apoiar o Lula". Ele acha uma ofensa pessoal o PT ter se apropriado de suas idéias. O reacionário de butique não acredita em nada. Se é publicitário, detesta a publicidade. Se é advogado, detesta a advocacia. Tudo é só para ganhar dinheiro. Se é jornalista, pode nunca ter trabalhado numa redação, mas acredita que entende tudo de jornalismo. Acha que todos os jornais estão errados porque são dominados pelos comunistas ou pelos idiotas. A verdade está naqueles órgãos que praticam o mesmo jornalismo manipulado que eles denunciam, mas pelo menos concordam com a sua opinião. E, embora deteste a esquerda, o reacionário de butique, quando vira funcionário público, passa imediatamente a amar a CUT e os sindicatos. Mas só enquanto continuarem negociando bons aumentos salariais.
1 – Tente conversar com ele. Em menos de meia hora surgirá na conversa pelo menos duas vezes o nome de Paulo Francis. 2 – Todo reacionário de butique é um paranóico. Acha que a revolução comunista está quase chegando e que, se não agir rápido, poderá acabar em um gulag. 4 – Ah, sim, reacionários de butique se acham muito engraçados e inteligentes. Sua atividade preferida é citar Oscar Wilde (os reacionários de butique amam Wilde ainda que também amem os conservadores que deploram e perseguem gays), Mencken ou Bernard Shaw. No fundo, adoram Lula e o PT pela oportunidade que lhes deram de exercitar a ironia. Mas nunca a graça, já que reacionário que se preza detesta o humor. 5 – Todo reacionário de butique tem um blog ou um site. Não basta ser reacionário, é preciso um espaço para citar seus reacionários prediletos. 6 – Por fim, todo reacionário de butique tem um parente ou amigo na esquerda de butique. Convivem sem conflitos, apesar das aparências. Afinal, antes de serem de esquerda ou reacionário, os dois são mesmo é de butique. # alexandre rodrigues | 10 de fevereiro Comentários (0) | TrackBack (0) |
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