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Domingo à noite. Um pouco depois do avião decolar, o comandante avisa: "Senhores passageiros, estamos entrando numa área de turbulência que vai durar cerca de vinte e cinco minutos. Apertem os cintos, fechem as bandejas, etc". A tripulação some. Durante bem mais de vinte e cinco minutos (me pareceu uma hora) o avião sacode. Sacode. Sacode. Eu lembro que quase nunca aviões caem quando estão no alto, tento manter a mente distraída lendo um xerox sobre a teoria marxista das relações internacionais e suas variáveis. De repente um tranco. O avião vai para o lado e mergulha. As folhas de papel voam das mãos. Recolho-as com dificuldade. As pessoas gritam em volta. Raios explodem ao lado. O avião apruma imediatamente. Sacode um pouco mais. Pessoas rezam. Uma mulher chora dois bancos atrás. De repente, apagam-se os sinais de atar cintos. A tripulação finalmente reaparece. Vou ao banheiro (estava com vontade desde a decolagem, mas o aviso do comandante me impediu). Os tripulantes estão lívidos. A aeromoça transpira nervosismo. Muito lentamente a paz volta a se instalar, mas a tensão permanece no ar, já que o avião, ainda que menos, continua a sacudir. A mulher no banco ao lado do nosso, que havia falado com um comissário, comenta "Foi uma tempestade sobre o Uruguai". A comida é servida, porém logo depois recolhem-se rapidamente as bandejas. Temo por novo teste de nervos, contudo Porto Alegre surge no horizonte. O céu está limpo, uma lua vermelha ao nosso lado. O piloto faz a mais suave aterrissagem que já vi. As pessoas aplaudem quando o avião toca o chão. Lembro de 99, a mesma longa sacudida, uma tempestade de mais de uma hora na volta a Porto Alegre. De repente saímos e tínhamos o pôr do sol ao lado e atrás, uma massa cinza escuro, com raios explodindo dentro dela, que até parecia viva. Na ida, na quarta-feira, já tinha havido alguma turbulência. Buenos Aires é o paraíso, mas se for de avião, o preço é a viagem. # alexandre rodrigues | 30 de maio Comentários (5) | TrackBack (0) |
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