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(Idéias: Alexandre Rodrigues. Idéias e digitação: Luzia Lindenbaum)

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A vida, eu vos digo, algumas vezes é o inferno

Oito da manhã.

Você dormiu apenas quatro horas e meia. Acorda sem disposição de acordar, percebe logo que está com dor de cabeça. É uma dor intensa, que palpita na nuca, mas também pode ser dor de sinusite, pois igualmente dói a fronte.

Por isso tudo levantar é muito mais difícil. Você se maldiz por ter bebido na noite anterior, achando que assim iria terminar melhor o trabalho do mestrado, a apresentação que vai ter que fazer à tarde. Nem pense em faltar. Então se arrasta até a cozinha, põe o café para fazer e vai ao banheiro. Quem sabe um banho melhore tudo.

Não melhorou. Você está de pé na cozinha, sentindo fraqueza e o estômago vazio. É um suplício virar o pão na frigideira, esperar ficar pronto. A vontade é voltar à cama, cair no colchão e dormir. Dormir. Dormir.

O café também não adianta, mas pelo menos, de estômago cheio, dá para agora tomar um comprimido para a dor de cabeça. Um para a sinusite também. É só ficar deitado um pouco e esperar melhorar.

Passa uma hora. Você ainda está deitado. Devia estar na Ufrgs, assistindo ao seminário "Intelectuais e política em perspectiva comparada", em francês, motivo de ter acordado cedo. Mas às nove e meia você ainda está deitado, embora já vestido. De repente percebe que a dor deu um alívio. Se levanta cuidadosamente alguns minutos depois. Falta apenas pôr o tênis, se pentear e desligar o computador, o que você leva meia hora para fazer.

Finalmente a rua. O ônibus não demora. Apesar da hora, chega lotado. Mal dá para se ajeitar, o motorista grita com os passageiros, o cobrador grita com os passageiros, mandando todo mundo para o fundo, onde acham que tem lugar, mas como sempre não tem. Você se lembra da apresentação que terá que fazer. Pega o texto e, mal se equilibrando, consegue ler. Mesmo quase lotado, na metade do caminho o ônibus abre as portas para deixar entrar quase outro ônibus inteiro. São passageiros de um veículo de outra linha, que quebrou. O aperto se torna insuportável, assim como o calor, e, apesar da expectativa geral, não melhora na PUC. Só uns poucos descem, o resto segue até o ponto final.

São dez e meia. Você finalmente chegou. A dor de cabeça não sumiu completamente, a dor da sinusite não sumiu completamente, mas a Ufrgs está do outro lado da rua. O dia - você imagina - ainda pode ser salvo. A dor vai passar, você vai poder ver alguma coisa da palestra. Basta nada mais te irritar e tudo vai ficar bem.

Antes que você consiga atravessar a rua, um caminhão estaciona à sua frente. A todo volume, toca a música do lacre azul do cachorrinho.

# alexandre rodrigues | 15 de junho Comentários (2) | TrackBack (0)


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