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A decadência dos Farqhar

Este com o elmo dourado e o mais belo cavalo é o famoso Lord Farqhar I, personagem importante na batalha de Borsworth, em que Ricardo III perdeu a vida. Diz-se que foi uma eminência parda na corte de Henrique VIII, por décadas um poder que não precisava de demonstrações fúteis, que também lhe servia para atrair os imberbes moçoilos que levava para o seu leito. Morreu decapitado em 1543, aos cinqüenta e seis anos, depois de atraiçoar a rainha Elizabeth no infame episódio que também ceifou a vida de Mary Stuart.

Este de pé à direita de Napoleão é o também notório Lord Farqhar XI, o inglês da corte do imperador, tão admirado quanto amaldiçoado na própria terra, pois passou para o lado dos franceses. Mas depois, como era de sua prática, voltou para o lado dos ingleses, que o receberam como uma mãe gentil, devolvendo tudo o que perdera com grandes felicitações. Morreu aos cinqüenta e um depois de mais uma tentativa de trocar de lado.

Este outro, saudando os nativos, é Lord Farqhar XII, o civilizador da Índia, plenipotenciário das Companhias Inglesas, um rei, por assim dizer. Foi o governador de sua Majestade por quatro décadas, conhecido tanto por ser justo quando impiedoso. Morreu de velhice, numa casa de Londres, sonhando com elefantes e hindus na noite em que foi criado o famoso personagem Sherlock Holmes.

Este, então, é outro que dispensa apresentações, o célebre Lord Farqhar XVII, ás da aviação, herói da defesa britânica e da reconquista da China, durante a Segunda Grande Guerra. Aqui aparece o momento em que foi saudado pela juventude chinesa ao pousar, após ter abatido, numa só batalha, dezessete aviões inimigos. Desafortunadamente, morreu na batalha seguinte, dois dias depois, mas nunca foi esquecido na China, onde este painel ilustra a galeria dos Heróis estrangeiros a quem o povo é grato.

Este outro é Lord Farqhar XIX, o playboy que tanto sucesso fez na Hollywood dos anos sessenta e setenta, tendo namorado todas as atrizes famosas que eram dignas de nota. Caiu em desgraça nos anos oitenta ao falir as empresas da família por causa de aplicações mal-feitas no mercado de Hong-Kong. Foi preso, o que encheu de vergonha seus parentes e causou abalos na sensível e aristocrática sociedade britânica, que de tão sensibilizada não deu uma festa durante semanas.

Este aqui é Lord Farqhar XXI, que se tornou internacionalmente conhecido há poucos anos pelo desperdício de verbas para a compra de casacos listrados, azuis e amarelos, para as escolas públicas, um fetiche que nunca soube explicar muito bem e que a conservadora sociedade inglesa, naturalmente, não recebeu de bom grado. Foi execrado e nunca mais convidado para as festas da rainha, que faz que não vê quando o encontra.

Estes dois são Lord e Lady Farqhar XVI, que, depois de décadas de farra e desperdício, gastaram tudo o que tinham. Moram em um apertado apartamento cheio de relíquias em Westchester e vivem com o dinheiro da Previdência. Como foram esquecidos pela aristocracia e não têm muito o que fazer, costumam participar de protestos para passar o tempo.

Este último é Lord Farqhar XXV, que pôs à venda o título de nobreza no ebay e quer seguir carreira de cantor de rap. Também costuma se envolver em brigas durante os shows, o que mancha o bom nome dos Farqhar, para o qual, a propósito, ainda não apareceram compradores.

# alexandre rodrigues | 30 de setembro Comentários (0) | TrackBack (0)