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Capote revela o truque genial de A sangue frio. Quando li o livro, anos atrás, achei que era um ótimo recurso para criar suspense o fato de a descrição do crime só ser feita no final. A primeira metade dedica-se a descrever personagens e cenários com pouca luz sobre os assassinatos. De repente ocorre um corte e a história é retomada já com a perseguição aos fugitivos. Mesmo quando fica claro quem são os autores, mantém-se o mistério sobre o que ocorreu de verdade. O filme revela, no entanto, que o livro segue a própria ignorância do autor. A primeira parte foi escrita quando Capote ainda não sabia de toda a verdade. Transmite sua simpatia por Perry Smith, retratado do jeito simpático como Capote o via, um sujeito meio acanhado, fruto da rejeição coletiva e de uma família desregulada. Como fica claro no filme, Capote identificava-se com Perry e rejeitava Dick Hickcock, que no fim das contas foi executado por causa dos assassinatos que não cometeu. É interessante que quando soube da verdade, Truman Capote tenha mantido no texto a sua percepção inicial. É a grande diferença em relação ao jornalismo, que, em nome da verdade, estragaria tudo contando a história a partir do óbvio. Fora o pouco destaque dado ao chefe de polícia que desvendou o crime (um sujeito pacato capaz de se comover tanto quanto qualquer cidadão com as fotos dos corpos ao espalhá-las sobre a mesa de jantar, passagem memorável), o filme faz um relato fiel do livro. Philip Seymor Hoffman mata a pau. # alexandre rodrigues | 7 de março Comentários (0) | TrackBack (0) |
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