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A confissão do Saulo, que se inspirou na confissão do Fabio Junior, é a deixa para a minha própria revelação a respeito de nojentos gostos culinários. Sou uma fraude como gourmet, um senhor de gostos desprezíveis quando o assunto é a própria alimentação. Tenho, por exemplo, o hábito de consumir quase tudo com café. Não cheguei ao extreme Fabio Junior, que joga a pipoca salgada dentro da xícara (aposto que ele fica pescando pedaços molhados com a ponta da língua), mas agorinha mesmo digeri dois quibes com café. E não é só. Além de misturar várias opções salgadas com café, melhor ainda se estas estiverem geladas. Me dou ao trabalho de fritar pastel de carne, colocá-lo na geladeira e só uma hora depois comê-lo. Com café, lógico. Só o que não fiz foi almoçar ou jantar com café, mas temo que um dia não vá resistir nem a isso, A culpa por certo é da minha mãe, que tinha a mania de dar festas monumentais no meu aniversário. Vocês, aposto, tinham festas normais, para alguns amigos e parentes. As minhas, a partir dos dez anos, eram eventos para cento e cinqüenta, duzentas pessoas. Nunca entendi direito bem o porquê, já que pelo menos um terço daquelas pessoas, constato sempre que vejo as fotos atigas, eu jamais soube quem era. Na última destas megafestas, quando eu tinha treze, veio bem menos gente do que o previsto. Após todo mundo ir embora sobraram salgados suficientes para encher a caixa da tevê vinte polegadas recém-comprada. Quase todas as prateleiras da geladeira foram retiradas para caber a caixa. No dia seguinte, quando acordei com fome, vi os salgados e quis esquentá-los, mas não sabia acender o forno. Acabei enchendo um prato de risoles, coxinhas e outros e levando para a frente da televisão. Foi comer o primeiro e... boing!... descobri que salgado gelado é bem melhor. A combinação de salgado gelado + café demorou alguns anos, já que apenas depois dos vinte, quando passei a trabalhar em redações, me tomei um consumidor de cafeína. Hoje em dia nem isso me satisfaz como experiência bizarra. Eu, que inventei meu primeiro prato aos sete anos (arroz + sal + farinha de mandioca + azeite), que fazia sanduíche de biscoitos com manteiga e açúcar, descobri, graças a um motoboy desastrado, mais uma vergonha no meu paladar. Ele não transportou a pizza direito e a cobertura de um dos lados escorreu sobre a outra. Foi aí que descobri: meu sabor preferido é coração de galinha com molho e chocolate. |
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