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O assustador nesta discussãozinha sobre Bolívia e Petrobras é a impressão permanente de que, diante do orgulho nacional ferido, a qualquer momento alguém vai pôr para tocar "Eu te amo, meu Brasil". O desanimador é constatar que quase a totalidade dos textos lidos, sejam de jornalistas ou de blogs, não demonstra o mínimo conhecimento sobre o que é política externa. Retirada da discussão a bravata infantil de quem acha que daria para bombardear a Bolívia e ocupar as refinarias com o Exército (quem defende isso, é claro, não explica o que aconteceria depois. Ficaríamos ocupando a Bolívia para sempre? Enfrentaríamos uma guerra de guerrilha ou realmente alguém acredita que o mundo é tão descomplicado que basta umas bombinhas para curvar a vontade de outro país?), resta a impressão de que os anos Fernando (Collor e Fernando Henrique), cuja política externa foi a ausência de uma, deseducaram o público a respeito do que deve ser a atuação internacional de um país. Política externa – digo eu então – é objetivo estratégico de longo prazo. Significa estabelecer a movimentação internacional de um país a partir de projetos e não de episódios. Significa, no caso boliviano, se perguntar de que maneira o Brasil deve agir tendo em vista o objetivo principal, que é a criação de uma comunidade sul-americana de nações. Significa também entender que o outro país também tem uma política externa e que esta, ao contrário da bobagem propagada por aí, se baseia em interesses próprios e não em ideologia (se política externa fosse ideológica, a China e a Iugoslávia não teriam brigado com a União Soviética, os EUA e a URSS teriam rompido relações, o que nunca aconteceu, e os países capitalistas sacrificariam qualquer coisa em nome do "bem maior", a economia de mercado). Significa ainda, amigos, entender que a Petrobras se meteu sozinha na Bolívia, sem conhecimento da situação local, fez muita coisa errada e ainda assim, como garante o contrato, tem como se defender em tribunais internacionais sem o auxílio do ufanismo idiota. Vamos convir, a Petrobras ganha fácil essa indenização. Pode-se excomungar o "eixo sul-sul" do Itamaraty e renegar o tipo de negociação da Alca e na OMC, mas são ações, passíveis de crítica ou elogio. Fingir que o mundo exterior não existe ou que, se existe, é uma festa que só podemos assistir de longe, é muito pior. É a marca de ex-ministros como Celso Lafer, Lampréia e Rezek. O mérito maior da política externa atual é que pelo menos ela existe. * Aderi ao boicote do Menezes e agora só peço água sem gás. # alexandre rodrigues | 5 de maio Comentários (7) | TrackBack (0) |
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