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(Idéias: Alexandre Rodrigues. Idéias e digitação: Luzia Lindenbaum)

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Os cães saíram da toca antes mesmo dos três dias regulamentares de luto fingido de que fala o perfeito post do Träsel. Esse, esse e esse senhor são a prova.

A política é uma coisa insuportável no Brasil. É praticada para tornar o ar pegajoso e irrespirável. Não vê limites nem mesmo quando transcorre enquanto famílias são obrigadas a tentar reconhecer, verificando saco de cadáver após saco de cadáver, se o corpo carbonizado é do parente que acaba de morrer. É preciso degradação, espetáculo, indignação meticulosamente calculada.

Para ficar bem claro: há um culpado maior nessas mortes e é o governo. Ainda que muitos problemas e equívocos sejam mais antigos ou anteriores, nada fez para mudá-los em todos esses anos. Não mudou e ainda criou mais um ao substituir o antigo DAC pela Anac, que, como qualquer agência reguladora, nada mais é do que uma representante informal dos interesses das empresas. Há culpados diversos pelos caos aéreo brasileiro, mas só há um responsável por melhorar a situação: o governo atual. No entanto, não há inocentes na oposição.

O post anterior foi escrito com raiva de ser brasileiro, das mortes desnecessárias, de saber que só não aconteceu comigo porque não era o dia de estar no avião, de que sobreviver se transformou em puro acaso em um emaranhado de acasos diversos. Mas também sob a inspiração de um dos meus poemas favoritos, Saudação, de Lawrence Ferlinghetti, dedicado agora aos Reinaldos, Virgílios e Demóstenes, que silenciaram quando as empresas começaram a concentrar vôos em São Paulo, silenciaram quando o DAC acabou para virar a Anac, nada fizeram quando da criação desse esdrúxulo Ministério da Defesa. A incompetência do atual governo não exime os que estão na raiz do caos aéreo. São tão hipócritas e culpados quanto os Pires, Suplicys, Mares Guias e o sei lá qual burocrata ineficaz que comanda a Infraero.

A cada animal que abate ou come sua própria espécie

E cada caçador com rifles montados em camionetas

E cada miliciano ou atirador particular com mira telescópica

E cada capataz sulista de botas com seus cães & espingardas de cano serrado

E cada policial guardião da paz com seus cães treinados para rastrear & matar

E cada tira à paisana ou agente secreto com seu coldre oculto cheio de morte

E cada funcionário público que dispara contra o público ou que alveja-para-matar criminosos em fuga

E cada guarda civil em qualquer país que guarda os civis com algemas & carabinas

E cada guarda-fronteiras em tanto faz qual posto da barreira em tanto faz qual lado de qual Muro de Berlim, Cortina de Bambu ou de Tortilha

E cada soldado de elite patrulheiro rodoviário em calças de equitação sob medida & capacete protetor de plástico & revólver em coldre ornado de prata

E cada rádio-patrulha com armas antimotim & sirenes e cada tanque antimotim com cassetetes & gás lacrimogênio

E cada piloto de avião com foguetes & napalm sob as asas

E cada capelão que abençoa bombardeiros que decolam

E qualquer Departamento de Estado de qualquer superestado que vende armas aos dois lados

E cada nacionalista em tanto faz que nação em tanto faz qual mundo, Preto, Pardo ou Branco, que mata por sua Nação

E cada profeta com arma de fogo ou branca e quem quer que reforce as luzes do espírito à força ou reforce o poder de qualquer Estado com mais Poder

E a qualquer um e a todos que matam & matam & matam & matam pela Paz

Eu ergo meu dedo médio

Na única saudação apropriada

Prisão de Santa Rita, 1968

# alexandre rodrigues | 19 de julho Comentários (5) | TrackBack (0)


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