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(Idéias: Alexandre Rodrigues. Idéias e digitação: Luzia Lindenbaum)

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Love # 1

Como se fosse um peixe a quem de vez em quando jogassem o alimento preso no anzol, Jonas se apaixonou três vezes durante o casamento.

Se apaixonou pela vizinha do mesmo corredor, uma potência ruiva e alta de cabelos um pouco longos e cheios, cuja pele pálida parecia ainda mais branca e suave quando se encontravam por acaso à espera do elevador e a tocava a luz do sol que entrava pela pequena janela da escada.

Se apaixonou pela melhor amiga da mulher, que se parecia com Rita Hayworth, exceto por ter os cabelos louros e e um pouco curtos. Não eram parecidos com os cabelos de Rita, mas o rosto, ah, o rosto, era tentador. Não fosse o fato de que se conheciam há quase vinte anos e um dia poderia se sentir tentado a perguntar "Senhorita Cansino, será que não estivemos em outros mundos além dos nossos?"

Se apaixonou por uma caixa de supermercado depois dos quarenta e cinco. Uma jovem morena, de olhos maliciosos e adocicados, cabeça redonda, coxas que apertavam o tecido do uniforme cor de vinho, ao mesmo tempo burra e esperta. Quase se oferecendo, convenceu-o, tendo o cuidado de não ser ouvida pelo adolescente que empacotava as compras, a uma tarde de sexo da qual saiu com três notas de cem enroladas dentro do bolso.

Jonas a todas resistiu com variadas dificuldades. Ainda tinha ânsias de agarrar a vizinha, apalpar sua cintura cheia e a bunda que provavelmente já não se mostrava muito firme, mas certamente tinha razões para ser apalpada. Apertar o botão de emergência do elevador, o que nunca teve a curiosidade de fazer, e explorá-la entre o terceiro e o quarto andares numa hora de pouco movimento que permitisse tais ousadias.

Suava frio na presença da melhor amiga da mulher, que continuava encontrando nas festas, bebedeiras de sextas-feiras, encontros sociais e visitas mútuas. Tinha mesmo certa dificuldade de se conter quando ela lhe dava as costas para botar no aparelho um CD do Djavan e, deixando à mostra parte da nuca, começava a balançar a cabeça sensualmente. Às vezes entrava em pânico com a certeza de que o marido dela, Vanilton, quase sempre presente, tinha finalmente se dado conta de tudo. Vanilton e ele se viam com freqüência, mas não eram amigos. Não tinham a intimidade das brincadeiras entre amigos, sendo bastante reservados, ainda que moderadamente simpáticos, um com o outro.

Quanto à caixa de supermercado, Franciele, não estava mais em seu posto uma tarde. Não se arriscou a perguntar a ninguém sobre ela. Também nunca o procurou.

# alexandre rodrigues | 23 de julho Comentários (3) | TrackBack (0)


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