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Love # 5 Rui fez sexo com seis mulheres diferentes na mesma noite em que teve certeza de que Renata era a mulher de sua vida. O pensamento lhe ocorreu entre a quarta e a quinta, duas mulheres igualmente gordas, de cabelos lisos escorridos e seios grandes, igualmente acompanhadas de seus maridos, que, deitados ao lado deles, na cama, assistiram enquanto, dentro delas, Rui se esforçava para chegar ao orgasmo. Toda a cena se desenrolava em um quarto quase totalmente às escuras. Rui mal conseguiu perceber as mulheres ou as silhuetas dos maridos. Enquanto comia suas mulheres, observavam a cena. Ouviu-os perguntar repetidamente às mulheres se estavam gostando. A idéia de ir ao clube de swing surgiu enquanto lia o jornal. No caderno de classificados, deparou-se com uma oferta variada de estabelecimentos, que se anunciavam com frases como "Venha curtir a vida" e "O prazer sem limites". Apesar de considerá-las sem a menor imaginação, Rui anotou o telefone. No dia seguinte – uma segunda – telefonou para dois ou três até escolher aquele. Para sua surpresa, uma mulher informou pelo telefone de que não era preciso companhia. Como estava sozinho, pagou mais caro pela entrada. Teve pouco tempo para conhecer o ambiente. Uma funcionártia da casa, encarregada de fazer as apresentações, levou-o pela mão até um quarto escuro localizado nos fundos, longe das vistas do salão principal. Ali permaneceu pelas próprimas horas. A quinta mulher gemeu longamente, emitindo depois um ruído rouco e seco, como se estivesse com um ataque de asma, enquanto ele acelerava os movimentos. Terminaram quase juntos. Para a própria surpresa, Rui sussurrou: "Renata". Ao término, voltaram a ser completos estranhos. Sem lhe dar atenção, ela se sentou à beira da cama e enfiou as roupas rapidamente. Disse algo ao marido e os dois saíram juntos do quarto. Rui se demorou um pouco mais. Sua mão sem querer pousou sobre uma poça úmida, fazendo-o se mover desde então com extremo cuidado. Um casal, alheio ao perigo, se deitava sobre o espaço que antes ocupara. Foi até o banheiro e se lavou, aproveitando depois a luz para verificar quantos preservativos ainda restavam. Em seguida, caminhou até o salão principal por um corredor tão escuro quanto tudo mais. Baco não faria grande juízo do lugar, pois, apesar do sexo, não havia vinho à mostra em nenhuma das mesas, localizadas nas laterais da pista de dança. Em um pequeno palco, quatro mulheres dançavam seminuas sob os olhos vigilantes dos maridos, postados diante delas, lado a lado, sem se importarem que todos olhassem as mulheres uns dos outros mais do que as suas próprias. Ao lado do palco uma escada levava à cabine onde o DJ alternava músicas da moda, samba, xote, forró e rock dos anos 80. Quase todos no meio do salão dançavam. Nos cantos, quase nada iluminados, apertados entre as mesas, casais se agarravam sobre uma longa fileira de bancos acolchoados. Homens se masturbavam ou simplesmente observavam. Mulheres se beijavam ou simplesmente observavam. Casais se bolinavam ou simplesmente observavam. Uma das mulheres parecia uma criança. Só quando os olhos se acostumaram à penumbra conseguiu identificá-la. Era uma anã. Tentava se infiltrar numa grande orgia, mas sempre que a notavam os participantes se afastavam. Nesse momento, uma mão feminina infiltrou-se por trás de seu corpo até chegar entre suas pernas. Ao se virar, a mulher tentou beijá-lo. O marido observava a ação. Ela fez menção de arrastá-lo pelo corredor até o quarto escuro, mas o homem impediu-os de sair do lugar. Ordenou: – Façam aí mesmo. Rui precisou de grande esforço para uma sexta ereção. Estar de pé só dificultava ainda mais a tarefa. Além de tudo, havia Renata. A cada momento, seu rosto, seu nome, tudo que dela podia se lembrar, eram uma presença cada vez mais forte em sua existência a ponto de ter interrompido um beijo para olhar em volta, achando que talvez ela estivesse na casa a observá-lo. Percebeu, então, a menos de dois metros, a mulher de cabelos louros e crespos ajoelhada diante de um gordinho, que sussurrava: – Que chupada! Chupa vai. O gordinho – notou também – oferecia a mulher aos homens que passavam. Alguns aceitaram o convite. Veio então o momento em que Renata se tornou onipresente em seus pensamentos. Tentou fechar os olhos e chegar a mais um orgasmo, porém o rosto de Renata, avassalador, ocupou tudo o que havia de escuridão. Manifestou-se numa forma luminosa como se tivesse olhado para o sol. Apesar da potência das caixas de som, era a voz dela que mais ouvia. Dizem que um mosquito consegue ouvir outro de longe numa discoteca lotada. Tinha a mesma impressão sobre si mesmo e Renata. Antes do fim, desvencilhou-se da mulher, que reagiu com um protesto. – Porra, eu não goz... Se precipitou pelo salão, desviando de casais que dançavam, de homens que dançavam com homens e mulheres que dançavam com mulheres. O ar gelado esbofeteou-lhe o rosto. Havia uma calma infinita na paisagem contraponto ao barulho, a lascívia e o ar abafado do lado de dentro, dimensões diferentes do Universo. Achando que iria vomitar, apoiou-se em um carro. Um segurança veio perguntar se estava tudo bem. – Quer que chame um táxi, companheiro? – ofereceu. No caminho do apartamento, pediu de repente ao motorista para parar. Pagou a viagem. Demorou a encontrar um orelhão que funcionasse. A avenida estava vazia. O mal-estar passara. Um relógio eletrônico informava: quatro e dois da manhã. O telefone tocou uma, duas, três, quatro, cinco, seis... – Alô. – Renata? – Quem é? – Rui. – Rui? – Do trabalho. – Oi. O que você... – Eu te amo, Renata. Sempre te amei. – O que você... Que horas são? – Passam de quatro. Não me entenda mal. Eu te amo, Renata. – Você disse que é o Rui? Do trabalho? – Isso. Te amo. – Você é louco? São quatro da manhã. Como me ama? – Amando. Te amo mais. A cada momento que passa te amo mais. Fico te olhando de longe no trabalho e te amando. Quando acaba o expediente e você vai embora, fico com saudades. Te amo mais um pouco. – Escuta: isso é brincadeira? Se for, vai se foder. – Não. Te amo de verdade. – E o que você quer que eu faça? – Nada. Só que saiba que eu te amo. – Ok. Agora eu sei. – Obrigado. – Eu vou... vou voltar a dormir. – Renata. – O que? – Tenha bons sonhos. # alexandre rodrigues | 30 de julho Comentários (2) | TrackBack (0) |
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