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Love # 6 Raul saía do trabalho todos os dias com uma lista de tarefas a cumprir. Naquela quarta, suas obrigações incluíam passar na lavanderia para buscar a roupa limpa, comprar bacalhau em um dos últimos dos últimos armazéns de secos e molhados do centro, cujos produtos tinham reputação – e preço – de algo de grande qualidade, refrigerante no supermercado e, por último, já na chegada, passar na padaria e levar alguns quindins. Carolina dizia que os quindins da padaria eram os melhores que já saboreou. Certamente não imaginava desde então a vida sem aquelas bombas açucaradas e amarelas. Ao chegar à padaria, encontrou a vitrine vazia. Os quindins haviam acabado. "Comprou todos. Uma cliente", informou o balconista. "Não serve outro doce, quem sabe um mil-folhas?" Raul se deteve por um instante na comparação mental entre mil-folhas e quindins. Era um hábito dificil de abandonar. Raramente, em geral apenas premido pelo inesperado, tomava uma decisão instantânea. Sentia-se bem em achar que era do tipo cuidadoso. – Er... você pintou os cabelos? – Foi. Que tal? – É louro agora. – É... Gostou? – Gostei. Tinha agora cabelos louros com a aparência mais artificial possível. Sugeriam aspereza e cheiro de produtos químicos, como os cabelos de uma boneca. Jantaram em silêncio, o que era outro hábito. Carolina pôs um prato insípido e colorido de salada diante de cada um. Ele cobriu o seu de molho de maionese, provocando observações negativas da mulher a respeito do colesterol. Depois da sobremesa, Raul elogiou o sabor dos mil-folhas. Foram, no final das contas, um substituto à altura para os quindins. "O doce não têm mil-folhas de verdade. No máximo umas trinta", Carolina observou em resposta. Ao falar, balançou os cabelos louros como numa propaganda de xampu. Notou um longo fio amarelo sobre o guardanapo e o doce no seu prato. Raul sentiu vontade de palitar os dentes ou acender um cigarro, mas em vez disso apanhou a faca de destrinchar carne, limpou-a com o guardanapo, assoviando These foolish things, e enfiou na barriga da mulher. # alexandre rodrigues | 1 de agosto Comentários (4) | TrackBack (0) |
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