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(Idéias: Alexandre Rodrigues. Idéias e digitação: Luzia Lindenbaum)

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Feios, sujos e malvados

Mas, céus, como não temos um marginal digno de memória a ponto de estar na lista dos 50 mais desprezíveis personagens da história do futebol? Claro que temos. Esses europeus são uns provincianos, não entendem nada de porrada. Puseram na lista o Materazzi, cujo maior pendor é xingar a mãe do adversário até descontrolá-lo e depois levar um pau. É como um participante de pegadinhas, que provoca para apanhar, e vai entrar para a história por levar uma cabeçada do Zidane.

O Brasil enfia fácil uns cinco na lista. Meu top ten pessoal:

1 - O único e inigualável Serginho Chulapa, campeão do brasileiro de 77 ad absentian por ter levado uma suspensão de seis meses após dar um pontapé em um bandeirinha. Voltou depois a jogar e continuou um notório brigador. Pisou no goleiro Leão, que estava no chão, na final do Brasileiro de 81. Já técnico, foi demitido do Santos após dar uma cabeçada em um repórter de TV no vestiário. Leão, uma das vítimas de Serginho, também foi encrenqueiro. Foi expulso por dar uma cotovelada em Careca na final de 78 entre Palmeiras e Guarani. A covardia custou o título ao Palmeiras, mas como técnico Leão mais apanha do que bate, o que tira qualquer chance de uma indicação.

2 - As canelas de Sávio devem tremer até hoje com a lembrança das travas da chuteira do marginal, do imoral, do imortal Dinho, do Grêmio. Nos anos 90, depois de uma sessão que poderia se chamar "aspectos práticos do açougue futebolístico" em um Flamengo x Grêmio, o time carioca chegou a anunciar na época que Sávio iria passar a usar uma caneleira mais dura, que o protegesse das pancadas adversárias. A TV enquanto isso mostrava Dinho transformando-o em carne moída. Também houve cenas dignas de garantir lugar na lista durante os Grêmio x Palmeiras de 95 e no São Paulo de Telê Santana, técnico ironicamente lembrado por seu futebol "alegre", cujo time, além de Dinho, tinha Pintado e Ronaldão. Sávio continuou saltitante pelo resto da vida. Jogou o Campeonato Brasileiro de 2006 pelo Flamengo de novo. Ainda saltita.

3 - Orlando Lelé (ou Amarelo) foi um lendário e temido zagueiro do América e do Vasco nos anos 70. Marcou minha infância. Jogava no Vasco nas primeiras vezes em que meu pai me levou ao Maracanã. Tinha longos cabelos e bigodão, mas uma uma aparência malvada. O Flamengo tinha um craque promissor, Júlio César, chamado de Uri Geller (vidente israelense famoso na época por entortar objetos com o poder da mente). Júlio César, diziam os jornalistas, fazia o mesmo com os zagueiros. Tinha um hábito irritante: narrava as próprias jogadas enquanto aconteciam. Fez isso com Orlando:

– E lá vai Júlio César... passa por Orlando!

Um drible.

– E Júlio César dribla Orlando!

Outro drible.

Numa das vezes seguintes o golpe foi fatal. No joelho de Júlio César, que caiu para não se levantar mais no jogo. Foi embora de maca. Nunca mais seria o mesmo jogador. Seu joelho nunca mais teve elasticidade para driblar como antes. Na saída do campo, com ele gritando de dor, Orlando foi até a beira da maca e disse algo. Há controvérsias sobre o que foi dito, provavelmente nunca se saberá depois de tanto tempo. A minha frase favorita é:

– E Orlando acaba com a palhaçada!

4 Edson Arantes do Nascimento. Sim, Ele mesmo. Pelé quebrou a perna do alemão Kiesman em um amistoso contra a Alemanha Ocidental, em 1965, no Maracanã. Também causou a fratura da perna do cruzeirense Procópio, em 1968, numa partida do Santos. Um lance famoso é a cotovelada na cara do uruguaio Dagoberto Fontes, na semifinal da Copa de 70. Dizem que quando apanhava muito no jogo, pedia aos colegas do Santos para mandarem a bola na dividida entre ele e o marcador. E entrava para arrebentar. Por outro lado, jogando o que jogava, só botando medo no adversário mesmo para não apanhar.

5Chicão jogou no tempo em que volantes ainda se chamavam cabeças-de-área. Também tinha um bigodão, que desfilou no São Paulo e no Santos. Quando jogava no time são-paulino, ficaram famosas as tesouras voadoras que costumava dar nos adversários, tornando uma espécie de antecessor de Junior Baiano. Também é muito lembrado por ter sido escolhido no lugar de Falcão para a Copa de 78. Não lembro dele batendo em ninguém na Argentina.

6 – E já que se falou o nome maldito, Junior Baiano, o zagueiro que mantinha a própria torcida e a adversária em eterno suspense, pois podia tomar a bola com categoria ou voar nas canelas adversária e fazer pênalti. Sabia jogar, mas de vez em quando parecia ter um lapso mental e de repente, do nada, acertava a cara de alguém e era expulso. Tomava um gol e metia o cotovelo na cara do adversário que estava comemorando. Ou fazia uma jogada bonita, perdia a bola e acertava no meio do outro jogador. Marcou época. Presença certa em qualquer lista.

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7 – O uruguaio Sergio Ramirez entrou para a história do futebol brasileiro em 1976. É ele o jogador que persegue Rivelino por pelo gramado do Maracanã, continua correndo atrás dele pela lateral e vai até a entrada do vestiário da Seleção Brasileira. Rivelino tropeça, quase cai no final. É um bom tombo até o pé da escadaria, mas não tão grande quanto o que tomou a sua dignidade. A cena é a mais covarde e patética já ocorrida no "maior estádio do mundo".

7 – O Vasco ganhou o Flamengo na final do Campeonato Carioca de 88. Os dois times se enfrentaram logo na abertura do Brasileiro. Na zaga do Flamengo, jogava um notório marginal, Edinho, zagueiro que deu pontapés durante muitos anos no Fluminense e também no Grêmio, além do Flamengo. Durante o jogo, Edinho desceu o sarrafo em Geovani, cracaço vascaíno. Ali pelo meio do segundo tempo há uma jogada no ataque. Geovani e Edinho caem. Geovani aproveita e soca duas vezes, com toda a força, a cara de Edinho, que nem levanta. Sai do jogo desmaiado. Geovani é expulso. No dia seguinte as TVs mostram o rosto de Edinho. Desfigurado, vai a uma delegacia registrar queixa contra Geovani. Depois de deixar o futebol, Geovani virou deputado no Espírito Santo. Há pouco tempo foi acusado de envolvimento com o crime organizado. Não perdeu o jeito.

8 – A Zero Hora só tem uma foto do tempo de jogador de Luiz Felipe Scolari. Foi zagueiro do Caxias a vida toda, do tipo que chamam de "viril" para não dizer "maldoso". O jornal publica sempre a mesma foto: Scolari ergue a perna como se fosse dar um pontapé em um adversário. Não é preciso tê-lo visto jogar para saber que coitado de alguém se estivesse ali. É só ver o currículo. Se não bateu mais foi por falta de oportunidade.

9 – Certamente a galeria marginal do futebol tem um tributo a prestar a Márcio Nunes. O zagueiro do Bangu esfacelou os joelhos de Zico em 1985 com uma entrada desleal por cima da bola. Zico mal conseguiu andar durante semanas. Chegou meia-bomba à Copa de 86. Perdeu um pênalti contra a França que podia classificar o Brasil, eliminado naquele dia. Por causa daquela pancada, passou o resto da carreira envolvido em cirurgias e fisioterapia.

10 – Este era o posto reservado a Edmundo, que brigou com meio time do Corinthians certa vez. Haveria citações a Almir Pernambuquinho, que, diz a lenda, enfrentou meio time do Flamengo numa decisão com o Bangu nos anos 60. Mas também jamais ouvi falar dessa jogada e nem do jogador até ler o seguinte sobre a história do Botafogo: "Em 1911, o clube desligou-se da Liga Metropolitana de Sports Athleticos após uma confusão num jogo contra o América. O incidente foi iniciado quando o jogador do time rubro Gabriel de Carvalho fez falta violenta em Flávio Ramos, que revidou, originando uma briga generalizada. Insatisfeita com as punições que foram impostas aos jogadores alvinegros envolvidos na briga, a diretoria solicitou o desligamento do próprio clube da LMSA, e em seguida passou uma longa fase realizando apenas amistosos contra equipes paulistas. No final do mesmo ano o clube perdeu a sua sede na rua Voluntários da Pátria, onde realizava seus jogos. Teve de disputar o campeonato de 1912, organizado pela Associação de Football do Rio de Janeiro, em um modesto campo na rua São Clemente, vencendo o campeonato". Tudo por causa de uma falta. Gabriel de Carvalho merece a lembrança.

# alexandre rodrigues | 9 de agosto Comentários (17) | TrackBack (0)


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