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![]() "Por um punhado de dólares" foi inspirado em "Yojimbo", de Kurosawa, que tem a cena genial: um samurai caminha pela vazia rua principal da cidade e vem na sua direção um cão carregando uma mão na boca. É naquela direção que o homem vai. Um dos fatos geniais da cena é que se trata de uma piada: um exagero, como os jorros de sangue de "Kill Bill". O outro é que mesmo sendo uma paródia não há como negar o simbolismo: ali o samurai tem certeza de que será fácil encontrar trabalho. Os dois filmes usam a mesma idéia: homem chega a uma cidade (vilarejo) dividida(o) por gangues e joga os dois grupos um contra o outro, tirando partido de ambos. Kurosawa ficou lisonjeado com a homenagem, mas não com o fato de não lhe ter sido dado o crédito. Reclamou numa carta a Sergio Leone e recebeu, como recompensa, cem mil dólares mais a receita de "Um punhado..." na Ásia. No entanto, ambos teriam na verdade baseado suas obras em "Safra Vermelha", único livro de Dashiel Hammet que li até hoje e que tem a mesma história, além de um bandido com um bom nome: Cochicho. "Safra Vermelha" é de 1927, "Yojimbo", de 1961, porém neste caso Kurosawa jamais admitiu a apropriação. ![]() "Por um punhado de dólares" é o primeiro dos três grandes filmes do "western spaghetti". Os outros dois são "Por uns dólares a mais" e "Três homens em conflito", todos com Clint Eastwood. Há vários europeus no elenco do filme de Leone, mas nos créditos receberam nomes americanos. O próprio diretor é identificado como "Bob Robertson". Toda essa picaretagem, feita para ganhar o público nos Estados Unidos, rendeu, ao contrário do que dava para esperar, um maravilhoso western, com Eastwood iniciando a carreira de sujeito mau e a música de Enio Morricone. Ah, sim, tudo isso é para dizer que "Por um punhado de dólares", que se inspirou em "Yojimbo", que é bem parecido com "Safra Vermelha", é a referência para "Per un pugno di samba", que Chico Buarque gravou no exílio com Enio Morricone e que, ouvindo seguidas vezes esta noite, achei um disco interessante. São músicas de Chico vertidas para o italiano, nas quais a contribuição de Morricone é encher os arranjos de coros, sintetizadores, conjuntos de cordas e outros sons, fazendo uma mistura de sambas, contidos no original, com temas de faroeste. Seu grande momento é "Rotativa", versão de Roda Viva, que ficou melhor do que a original, mas "Funeral di un Contadino" (Funeral de um Lavrador), de Morte e Vida Severina, também é boa. Nem Morricone e nem Chico chegam a predominar, o que garante a originalidade do disco, embora a grandiloquência do italiano às vezes dê a impressão de logo, logo vamos ouvir Clint Eastwood começar a matar. # alexandre rodrigues | 11 de agosto Comentários (1) | TrackBack (0) |
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