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(Idéias: Alexandre Rodrigues. Idéias e digitação: Luzia Lindenbaum)

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Pandas são bonitos e simpáticos. Mas a natureza não quer que sobrevivam. Segundo um documentário que vi outro dia, um panda se alimenta de bambu, mas há tão pouco tempo – evolutivamente falando – que só consegue absorver 17% do que come. Precisa comer muito, quase o tempo todo, para continuar vivo.

E não é só. Uma fêmea, se não ocorrer nada de errado, só terá dois filhotes ao longo da vida. Pandas vivem numa região específica da China. Uma vez por ano as fêmeas vão para o topo de uma montanha com dois quilômetros de altitude. É uma caminhada lenta. Os machos a seguem depois. Há muito menos fêmeas do que machos, que, caso se encontrem no caminho, lutam ferozmente, às vezes até a morte, pelo direito de procriar. Alguns desistem, outros seguem.

Então, quando o panda chega ao alto da montanha, o que acontece? Descobre que a fêmea está em cima de uma árvore. Não se sabe o porquê, mas ela pode não simpatizar com ele e continuar lá em cima. Foi o que aconteceu no documentário. O panda macho, que havia passado o diabo para chegar ao topo da montanha, enfrentado outro macho, comido todo o bambu possível, aguardou, aguardou, argumentou, se lamentou, mas ela não desceu. Acabou indo embora frustrado. Um panda a menos no mundo.

Se a natureza não quisesse o panda extinto teria mudado alguma coisa, não?

Pois é. Tibetanos são a versão humana e atual dos pandas. São simpáticos, todo mundo gosta deles. Agora mesmo sou bombardeado quase todos os dias por spams sobre o Tibet. Me mandam imprimir confetes escrito "Free Tibet" e atirar na tocha olímpica. Me dão sites do governo da China para protestar. Me pedem para participar de abaixo-assinados. Às vezes me tentam vender adesivos e camisetas.

Como os pandas, os tibetanos resolveram viver nas alturas. O noticiário das últimas semana nos dá a impressão que são todos como o Dalai Lama: sorridentes, simpáticos, do bem. Embora não vivam de comer bambu, são indefesos diante dos horríveis e opressores que, como as fêmeas pandas em cima da árvore, impedem que façam o que mais gostam, no caso serem budistas.

Isso é uma conveniência histórica. Gary Brecher lembra aqui: no tempo em que podiam enfrentar os chineses, os tibetanos carregavam em sacos as orelhas dos inimigos mortos. Não eram menos cruéis do que qualquer conquistador. Agora são pandas. Que pandas queiram viver como pandas eu compreendo, mas não é mesma coisa quando se trata de um país (1).

Parte das pessoas que vejo defender o Tibet é sincera nos bons sentimentos. Muita gente ama causas nobres. É confortável, como também lembra Gary Brecher, aliviar a própria consciência e esquecer que o mundo é complexo tendo apenas o trabalho de colar "Free Tibet" no vidro do carro.

Outra parte dos defensores do Tibet é meio incongruente: anda indignada porque o governo brasileiro quer dar um pedaço do território aos índios... do Brasil. Não admite que estes formem "nações", seja lá a conspiração que vejam nessa palavra, mas querem isso na China. A lógica do bom selvagem vale para orientais, mas não aqui. O Brasil – argumentam – tem direito a fazer o que achar necessário para defender o próprio território, mas se chineses o fazem, ah, estes comunistas cruéis.

Um bom exemplo de vergonha na cara nacional é olhar o que os chineses estão fazendo. O mundo grita, pede boicote às olimpíadas, a China não está nem aí, responde: experimenta boicotar! É até suave com os tibetanos. Mais uma vez citando Brecher: é só olhar o que os ingleses fizeram um século atrás no próprio Tibet. Mas agora os ingleses, já que não podem mais ter um império, também são bonzinhos. A China está certa em fazer o que é preciso para manter o próprio território. É para isso que Estados desfrutam do tal monopólio da violência. Se aqui o usassem mais, a violência nas cidades não teria chegado aonde chegou.

Quem discordar, jogue um confete.

Devido à ausência recente de idéias, este blog ficará inativo por um mês. Vou aproveitar para ler, me mudar, tomar café, ver os amigos, cuidar da minha vida que não depende de Internet. Um abraço a quem fica.

(1) Podem conseguir, é só ver o exemplo do Kosovo, um lugar onde o Ocidente sempre quis ficar do lado dos caras maus só porque tinha outros interesses.

# alexandre rodrigues | 18 de abril Comentários (0) | TrackBack (0)


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