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O melhor prato que comi na Alemanha

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A boa comida na Alemanha não tem nada a ver com comida alemã. A culinária germânica é, sendo bem direto, coisa de gente bárbara. Isso não é culpa de falta de gosto ou habilidade: trata-se apenas do resultado de séculos e séculos de escassez e guerras. Os camponeses alemães tinham repolhos, alguns porcos, cevada, um ou outro vegetal mais e eram obrigados a viver com isso. Não viraram especialistas em picles, chucrutes e lingüiças porque gostavam, mas sim porque era a única maneira de conservar os alimentos. Deste ponto de vista, até que conseguiram operar maravilhas.

É preciso admitir porém que a culinária de regiões com maior abundância de ingredientes supera a alemã fácil, fácil. A Tailândia ou a própria Itália em determinadas regiões, por exemplo. Descobri durante esta viagem que sou um grande fã da culinária do sudeste asiático. Sob o pretexto de que "comida italiana se arranja no Brasil mesmo", evitava ao máximo as pizzas e pastas e me atirava em nasi gorengs e loempias.

A melhor destas refeições foi feita por acaso em um restaurante na Rosa-Luxembourg-Platz, em Berlim. Ao contrário do que manda o bom senso, não anotei o nome, mas os leitores interessados só precisam descer na estação com o nome da revolucionária comunista e atravessar a avenida em direção à rua de maior fluxo. Fica bem em uma esquina, ao lado de uma pizzaria. Na pizzaria meus colegas foram jantar. Revoltado, tentei convencê-los a provar algo diferente, mas não houve jeito. Acabei me levantando e indo comer sozinho. Na porta o menu anunciava como oferta do dia o "pato no molho de leite de coco com brotos de bambu e curry vermelho" por 5,90 euros. Não havia dúvida. Ao entrar no restaurante, fiquei surpreso que pudessem oferecer algo tão barato, porque era bem arrumadinho e limpo. Mas Berlim é barata mesmo.

krupuk.jpgComo entrada, pedi krupuk, o salgadinho de camarão na foto, feito com farinha de mandioca, sal, açúcar e frito. Muito frito. Quando o prato cheio disso chegou, pensei que não teria estômago para agüentar o principal, mas essa entrada não é tão pesada quanto parece. O sabor de camarão é bem sutil e um pouco doce, muito bom quando feito na hora. Para acompanhar, a cerveja Singha. Uma lager bastante boa, para minha surpresa.

E veio o pato! Indescritível. Há muito não provara algo tão bem equilibrado em termos de temperos. Harmonizar molho de leite de coco com uma dose cavalar de pimenta e ainda fazer o manjericão tailandês aparecer — ainda estou pesquisando, mas acho que chamamos de alfavaca; o sabor ao menos é parecido, mas puxa um pouco mais para o anis. O pato veio crocante e era difícil decidir entre comê-lo assim ou mergulhá-lo no molho, para pegar o sabor dos temperos e a pimenta do curry. Algumas folhas do manjericão, botava de lado para enrolar nos pedaços de pato. Após comer todos os sólidos, peguei o arroz bem empapado e terminei com o molho. Fiquei muito triste quando terminou.

A comida alemã pode ser uma droga, mas ao menos o sujeito tem a chance de provar da culinária de todos os lugares do mundo. Não apenas em Berlim, mas até em cidades médias e algumas pequenas existem ao menos um restaurante indiano, um tailandês, um japonês e dezenas de árabes. Nada como o primeiro mundo.

Marcelo Träsel | 6.03.2006, 23:36 | Comentários (5) | TrackBack (0)