Comida e política
Em um artigo para o Le Monde Diplomatique, Carlo Petrini, um dos idealizadores do movimento Slow Food, defende que a gastronomia é um direito humano. Diz ele que comer produtos orgânicos em vez de McDonald's é uma ação política. De fato, não se pode discordar disso: apoiar o pequeno camponês em detrimento da multinacional é uma tomada de posição. Reclama ainda caráter científico para a gastronomia, que seria um "saber interdisciplinar complexo". Afinal, é preciso entender de biologia, agronomia, físico-química, fisiologia, antropologia e outras disciplinas para ser um bom gastrônomo — mas não um bom cozinheiro, é claro. Aí também não há do que discordar.
O problema todo começa quando ele propõe aderir ao "bom produto, não o que vende mais". Diz que a visão produtivista acaba por destruir tanto o sabor dos alimentos quanto o planeta. E é mesmo verdade. Veja-se o caso do frango, cuja carne hoje em dia não tem mais gosto de nada e cujos ovos perderam totalmente a cor. Tenho pena de quem nunca comeu uma galinha caipira ou um ovo quente de gema quase vermelha. Ou leite de vaca tirado no dia, ainda não pasteurizado. É claro que um mundo onde, como os vinhos, o alimento tivesse terroir, seria ótimo. O problema é que, como os vinhos, o alimento de terroir é caríssimo. Aí surge a pergunta ao sr. Petrini: quem vai pagar a conta? Os alimentos orgânicos custam o dobro ou o triplo dos alimentos produzidos em larga escala. Isso não se dá somente pela baixa demanda, mas por causa da baixa produtividade. Mudar todas as lavouras para orgânico diminuiria a quantidade de comida produzida no mundo, levando a aumento de preços. Como os pobres vão comer, desse jeito? Só em um ambiente político socialista.
Aliás, falando em Slow Food, como eu queria fazer esse mestrado!