De volta às panelas
Uma geração inteira de mulheres, desejosas de desconstruir essa máxima carregada de preconceito e discriminação ["lugar de mulher é na cozinha"], negou-se a fazer comida e partiu para a sala, o escritório doméstico ou a biblioteca. Com a chegada da alta gastronomia, já se pode voltar, agora como chefe de cozinha.
Carla Rodrigues vê na superação do conflito entre feminismo e feminilidade o motivo para a volta das mulheres à cozinha. Ou, no caso das chefs de restaurantes, para seu aparecimento na haute cuisine. Pode até ser. No entanto, há aí um erro de avaliação sobre o que é ser um chef.
Na verdade, é preciso ter em iguais doses competência culinária e espírito empreendedor. Um chef em geral assume algumas funções administrativas. Talvez as mulheres estejam se tornando chefs não porque deixaram de considerar o efeito simbólico de pilotar um fogão, mas sim pelo seu próprio movimento de profissionalização e entrada no mercado de trabalho. Carla diz fazer parte de uma geração "que trocou a cozinha pelo escritório e a biblioteca". Mas não estão trocando o escritório pela cozinha, como supõe a colunista: cozinha de restaurante é um misto de escritório com linha de montagem.