Comer em hotel é deprimente
Semana passada fiz algo que nunca fizera antes: pedi comida pelo serviço de quarto de um hotel. Em viagens normais, prefiro descer até a rua e entrar em qualquer biboca para forrar o estômago. É uma forma de conhecer os hábitos e cidadãos locais. Mesmo em viagens a trabalho, gosto de conhecer um pouco da vida normal das cidades por onde passo. Só que na última quinta-feira fiquei sem tempo entre a chegada a São Paulo e o compromisso que tinha, então decidi pedir um risoto de lulas ao funghi do Meliá que fica na Haddock Lobo, de forma que pudesse tomar um banho e me organizar enquanto a comida não vinha. Além disso, já eram 16:00 e na rua provavelmente não acharia um restaurante servindo almoço. Aproveitei para pedir também uma mousse de tapioca com calda de frutas vermelhas e chocolate, como sobremesa, só porque achei interessante.
Em primeiro lugar, fiquei surpreso com a quantidade de comida. Sempre pensei que as porções em hotéis fossem pequenas e caras, provavelmente por causa dos preços extorsivos do frigobar. O tamanho do prato de risoto e da sobremesa desfizeram esse preconceito, até porque vieram acompanhados de uma cestinha de pães torrados. Não dei conta de comer tudo. Apesar do tamanho satisfatório, inclusive em relação ao preço (R$ 19 pelo risoto e R$ 7 pela mousse, o mesmo que em qualquer boa casa do ramo), a comida deixou a desejar. Sobretudo o risoto, muito gorduroso e salgado — isso para não mencionar a péssima idéia de esconder o sabor da lula sob o do funghi. A mousse era boa, de consistência parecida com um doce de arroz, e a calda de chocolate com frutas era equilibrada. Porém, o fato de comê-la à temperatura ambiente prejudicou um pouco a fruição.
Para além da qualidade da comida, descobri que é muito ruim comer sozinho em um quarto asséptico de hotel. Uma coisa é mandar ver num miojo enquanto assiste televisão em casa, outra bem diferente é comer uma refeição de verdade numa escrivaninha desconhecida, sem ter com quem comentar o sabor, ou ao menos jogar papo fora. O ritual de se alimentar é social, envolve partilhar algo essencial à vida com outras pessoas, de preferência queridas, mas não necessariamente. Não é por acaso que gente que mora sozinha nunca senta à mesa e freqüentemente come mal. Falta o incentivo da socialização. Comer comida de verdade num hotel parece misturar duas coisas que não deveriam estar juntas: uma refeição decente e a solidão.