Doce natural

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Melão desidratado é uma das coisas de que mais gosto na vida. Sempre fico admirado como uma fruta pode se transformar em uma barrinha de puro açúcar com um sabor azedinho bastante suave sem precisar de nenhum aditivo ou processo industrial complexo. Sim, aqueles cristais brancos são pura frutose tornada sólida.

Comprei esses aí em Buenos Aires. Se alguém souber onde arranjo melão desidratado em Porto Alegre, por favor avise.

Marcelo Träsel | 27.09.2007, 23:33 | Comentários (16)

Ambev contra o mundo

O cervejeiro Guilherme Caon relata uma história acontecida recentemente em um bar de Porto Alegre:

A dona desse bar mantém alguns freezers de cerveja das marcas dessa empresa, e um deles não tinha terminado de vender. Segundo nossa amiga, o supervisor do vendedor resolveu dar uma passada lá no bar por causa desse freezer e, ao invés de sugerir um preço promocional ou outra coisa legal, saiu tocando os cachorros. Falou coisas do tipo "vocês tem rótulos demais no bar, por isso que não vende as nossas. Tinha que diminuir as outras marcas." Ou então "e essa cerveja aqui, quanto custa? Tudo isso? E tem gente que compra, ainda?"

O supervisor da Ambev mostra completo desconhecimento sobre o próprio mercado nessa história. As cervejas especiais não são competidoras diretas das cervejas massificadas. Elas atendem a um público muito específico e endinheirado, que estava sem ter o que beber até há pouco tempo. Claro que as grandes cervejarias devem perder uma pequena porcentagem nas vendas, mas isso só causa estranheza porque estiveram acostumadas a um mercado completamente aberrante no Brasil, em que o lado da oferta estava defasado.

O mercado de cerveja brasileiro até há pouco tempo era como o mercado de automóveis antes de o presidente Collor permitir as importações. Só havia carroça para comprar. A criação de microcervejarias está corrigindo uma reserva de mercado que durou por algumas décadas, mas não se vê em qualquer país civilizado e até mesmo em alguns nem tão civilizados assim. Não é tentando empurrar cerveja ruim goela abaixo do consumidor que a Ambev vai manter seu monopólio, porque a diversificação é inevitável e a resistência, fútil.

Em vez de irritar o consumidor, as fábricas de bebidas fariam melhor em tentar melhorar a qualidade de seus produtos. E podem manter a calma, porque a rapaziada vai continuar comprando cerveja barata aos engradados para o churrasco de domingo.

Marcelo Träsel | 24.09.2007, 14:14 | Comentários (6)

Cenoura Pastéis

Todo mundo em Porto Alegre fala nos pastéis do Cenoura. Ontem finalmente comi em uma loja deles e é preciso admitir que não fiquei tão impressionado. Os pastéis são sequinhos e os recheios são muito bons, mas não gosto do tipo de massa caseira que usam, cuja espessura é muito grande. Prefiro as massas mais fininhas. Também desconfio de pastéis muito secos, porque isso em geral indica fritura em gordura vegetal hidrogenada, que é um lixo.

Pedi um pastel de carne e outro de camarão, porque são clássicos e assim teria base de comparação. O de carne veio lotado de recheio, o de camarão um pouco menos, mas ambos são muito bem temperados, coisa rara de se encontrar. Pedi ainda um "pastel da copa", criado em homenagem ao certame futebolístico do ano passado, que leva brócolis, alho, lingüiça e catupiry e provei o "pastel do cenoura", feito somente com vegetais e ricota. Confirmei que, assim como no caso da pizza, não sou chegado em invencionices nos recheios de pastéis. São bonzinhos, mas são... errados, sei lá.

Há também a experiência antropológica de comer no Cenoura. Vi pelo menos duas jovens senhoritas que pareciam estar voltando ou indo para uma recepção de gala. Em outra mesa um aniversário ou algo assim estava sendo comemorado, a julgar pelos arranjos de flores em cima. De repente, vejo o garçom levar duas garrafas do champanhe Cave Geisse, um dos melhores da Serra Gaúcha, para o grupo. Pensei seriamente em cometer uma chacina, mas me distrai tentando chamar a atenção de algum dos garçons autistas para pedir meus pastéis.

CENOURA PASTÉIS
Vicente da Fontoura, 1804 - Esquina com Ipiranga
Tele-entrega: 3333-2500

Marcelo Träsel | 21.09.2007, 10:17 | Comentários (22)

Restaurante de Bestialismo

Se algum leitor do Garfada for ao Japão no futuro próximo e decidir visitar este restaurante, por favor, não mande um e-mail descrevendo a experiência. Grato.

Cisco | 20.09.2007, 22:56 | Comentários (7)

O melhor bar do mundo

Fica em Ubatuba. Estávamos cruzando a praia quando vimos aquela casinha na Rua Esteves da Silva. Muito branca, umas janelas em estilo colonial e os pratos descritos em quadro negro do lado de fora. Bardolino. "O chopp número 1 da cidade." Primeiro soou o alarme do bar caro, depois a sirene do foda-se-e-vamo-que-vamo. Entramos e logo em seguida forraram a mesa. Havia apenas um casal de meia idade sentado várias mesas para lá. O bar inteiro ao nosso dispor. Em cada mesa, um girassol verdadeiro em um vaso de garrafinha de perrier. Nas caixas, um João Gilberto que caía muito bem com a brisa.

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Azeite alentejano no bolinho de bacalhau, regado a chope cremoso.

Demoramos uma eternidade e quase dois chopes para escolher. As entradas eram descritas como "tapas", o que destaca ainda mais o bom gosto generalizado. Finalmente, me decidi por uma porção de bolinhos de bacalhau (R$ 18, com oito). Carol também relutou muito, mas acabou optando por um ravioli caseiro com recheio de ricota puxado na manteiga aromática (R$ 25 o prato individual). Havia diversas opções de frutos do mar, inclusive alguns pratos com lagosta, mas a prudência falou mais alto. Uma opção para a próxima vez sem dúvida é o hambúrguer de cordeiro (R$ 18,50) e a feijoada (R$ 34,50, para dois).

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Ravioli caseiro com manjericão fresco. No fundo, os bolinhos de bacalhau.

Pouco antes de servirem a entrada e o prato, colocaram na mesa uma garrafa de azeite português do Alentejo e duas opções de pimentas importadas. Comemos com apetite, delícia e muitos chopes. No final, deu vontade de tomar uma Serramalte. Pedi apenas uma garrafa, mas, para minha admiração, lá veio o garçom com um balde cheio de gelo. Irretocável, tanto a cozinha como o atendimento. Entendi um pouco melhor ao receber o cartão e saber que o Lino, do Bardolino, é na verdade Brazelino Chiappetta Filho - parente, portanto, do pessoal do Empório Chiappetta. Obrigatório numa visita a Ubatuba.

Hermano | 17.09.2007, 0:17 | Comentários (13)

Rib's reencarnou no The Best Food

Um dos lugares que mais deixou saudades em Porto Alegre foi a lancheria Rib's. Os mais jovens devem conhecer mostarda e ketchup com essa marca. Ela existiu até o final dos anos 90, pelo menos, em dois endereços: a praça Júlio de Castilhos, no Moinhos de Vento, e a esquina da Rua da Ladeira com a Rua da Praia, no Centro. Houve um breve período em que se instalou no shopping Praia de Belas, mas nunca conto essa filial.

O Rib's de verdade era uma lancheria de outra Porto Alegre, uma cidade em que a rua 24 de Outubro ensaiava se tornar o eixo principal do comércio grã-fino e o Centro era ainda o centro da vida comercial. Uma época em que a cor local era valorizada, não o simulacro asséptico de primeiro mundo a que a insegurança das ruas nos prende hoje.

O Rib's de encarna aspectos de tudo isso em minha memória. O cardápio era uma releitura dos lanches do McDonald's, como não podia deixar de ser, mas dotado de indiscutível sabor próprio. Sabor conferido pela maionese com curry ou pelo molho rosé espalhados em todos os sanduíches. Eram bem diferentes dos xis que se encontrava em qualquer esquina. O milk shake virou motivo de lenda, algumas pessoas acreditam que só aquela máquina específica, a da praça Júlio de Castilhos, conseguia fazê-lo corretamente. Pois essa máquina hoje está no The Best Food do Assis Brasil Strip Center, segundo consta, resgatada por ex-funcionários da empresa original.

Há alguns dias almocei na filial da rua 24 de outubro, na esquina com a Lucas de Oliveira. Comi o Xis dos Deuses, com bacon e a maionese com curry. Continua igual aos da minha infância, quando almoçava nessa lancheria com meus pais. O milk shake também. Claro que o cardápio tem concessões aos tempos correntes, então não podia faltar o prato light, com salada e frango. Basta ignorá-lo. Infelizmente, não é possível ignorar a total ausência de charme do ambiente atual como se pode ignorar um peito de frango no cardápio. A comida do The Best Food pode ser igualzinha à do Rib's -- o que não é pouco, diga-se de passagem --, mas a Porto Alegre em que ela nasceu ficou no milênio passado.

THE BEST FOOD
Rua 24 de Outubro, 1320 - Auxiliadora
Tele-entrega: 3337-7761

Assis Brasil Strip Center - Cristo Redentor
Tele-entrega: 3340-4055

Marcelo Träsel | 14.09.2007, 10:53 | Comentários (20)

Nosso agente na Austrália prova carne de canguru

Por Eduardo EGS Silveira

Desde que chegamos na Austrália, vários amigos do Brasil perguntam se a gente já viu algum canguru por aqui. Nossa resposta tem sido basicamente a mesma: "Não vimos, mas já comemos". E é justamente isso, ver (vivo, inteiro) a gente não viu, mas já saboreamos a deliciosa carne de canguru. Mas como se prepara uma carne que nunca se fez na vida? Bem, optamos por não inventar moda e fizemos o famigerado bife acebolado, que não tem erro, seja com carne de gado, de porco ou de marsupial.

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Com relação a carne em si, posso dizer que ela é beeem macia e praticamente não tem gordura (percebam aquele "98% FAT FREE" na embalagem. Heh.). O gosto é similar ao da carne de gado, não tem nada de EXÓTICO. A não ser talvez pela simbologia de comer a carne de um animal que carrega o filhote numa bolsinha (*oun*). Acredito que dá para prepará-la de várias maneiras, não tem muita frescura. Optamos por fazer com cebola porque é uma das Sete Maravilhas da Humanidade e combina com tudo, até com sorvete de flocos.

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Para a próxima experiência gastronômica, estamos pensando em comprar carne de crocodilo. Alguém tem alguma sugestão de preparo?

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Marcelo Träsel | 13.09.2007, 10:39 | Comentários (10)

Buena onda em Buenos Aires

flan.jpgEntre os dias 1º e 4 de setembro estive em Buenos Aires para fazer, basicamente, turismo gastronômico. Antes de mais nada, informo que não comi nenhuma parrillada, não por falta de vontade, mas de oportunidade, mesmo. Privilegiei os restaurantes de cozinha internacional no meu roteiro e a La Cabrera acabou ficando de fora, assim como o El Preferido de Palermo. Também não consegui comer na sorveteria Un Altra Volta, nem tomar o chá da tarde do Alvear. Ficam para uma próxima ocasião, que já está sendo planejada.

Vou contar um caso que resume o quanto é boa a culinária em terras porteñas: no domingo, um belo sol, eu e minha companheira resolvemos almoçar no Olsen, que serve um brunch muito famoso em um jardim pós-modernista. Não tínhamos reserva e obviamente estava lotado. Acabamos saindo para tentar a cafeteria Oui Oui, com o mesmo fracasso. Todos os restaurantes estavam lotados ou serviam parrilla, refeição que não estávamos muito dispostos a comer.

empanadas.jpgEm desespero, decidimos entrar no primeiro boteco que aparecesse -- sou experiente em viagens e sei que chega um momento no qual é preciso sacrificar os escrúpulos estéticos. Entramos numa cafeteria qualquer perto da estação Palermo e pedimos empanadas e café. Nosso vizinho de mesa era um mendigo, que tomava vinho tinto em um cálice, acompanhado de água mineral. As empanadas demoravam. Pensei: "não pode ser que num lugar desses estejam assando na hora". Não deu outra. Foram assadas na hora e chegaram à mesa perfeitas, junto a um café bem correto. Isso numa birosca que serve mendigos.

Dito isso, analisemos os restaurantes sérios.

sudestada.jpgSudestada -- Fica em Palermo, é bem pequeno e serve comida do sudeste asiático. Para acompanhar, têm uma ótima cerveja artesanal a 8 pesos a tulipa -- vinhos são meio pesados demais para acompanhar esse tipo de culinária em minha opinião, mas fique à vontade para escolher um bom branco ou um espumante. Pedimos como entrada rolinhos vietnamitas de ostras com porco e vegetais, que você embrulha com bastante broto de feijão, coentro e alfavaca em uma folha de alface e mergulha em um tipo de vinagrete; e dumplings tailandeses, isto é, pasteizinhos cozidos com recheio de porco e um molho doce semelhante ao missô. Os pratos principais foram peixe ao molho de manga e pato ao estilo cambojano, com frutas. Este último foi uma das melhores coisas que já comi na vida. Bastante apimentado e com uma quantidade bem generosa de temperos frescos. O melhor eram as uvas, cujo açúcar acaba sendo um pouco caramelizado no processo de flambamento -- dá para ver as chamas subindo na cozinha. De chorar. Ainda mais quando a conta veio mais barata do que paguei por comida asiática medíocre no Wok, em Porto Alegre.

sanjuan.jpgCafé San Juan -- Este restaurante é o novo queridinho dos gourmets porteños. Merecidamente. É outro ambiente pequeno e nada pretensioso. Inclusive, fica numa parte bem feia de San Telmo. O chef Leandro Cristóbal é um skatista que recebe amigos skatistas junto à nata da sociedade argentina. Aparentemente, o restaurante era um negócio de família que deslanchou quando ele decidiu assumir as panelas. As sobremesas são feitas por sua mãe. Ao chegar, os garçons, muito atenciosos, levam um quadro negro com as opções do dia até sua mesa. Fomos de patê de coelho com geléia de cereja e patê de salmão com tomates concassé de entrada. Ambos ótimos, mas recomendo o de coelho. Como pratos principais, o ojo de bife, só com a parte mais macia do bife de chorizo, e coelho com champignons e cogumelos japoneses. Tudo acompanhado de batatas fritas. De sobremesa, crème brûlée e crumb de peras e maçãs com sorvete de creme. Que dizer? Outra refeição que excedeu as expectativas e valeu o preço, aliás não tão salgado assim: com vinho, gastamos cerca de 150 pesos, ou pouco mais de R$ 100. Se posso fazer alguma queixa, é que o sorvete da sobremesa poderia ser de melhor qualidade. E tive de me esforçar para encontrar um defeito.

resto.jpgRestó -- Fica na sede da Sociedade de Arquitetura da Argentina. Outro local pequeno a se dedicar à boa mesa. É mais direcionado aos executivos do entorno, tanto que abre apenas ao meio-dia na maior parte da semana. Comemos gravlax de salmão com lentilhas vermelhas e molho de limão como entrada. Muito divertida a diferença de textura entre o salmão elástico e as ervilhas al dente. Nem a alface está no prato apenas para fazer número, seu sabor de alguma forma completa o do restante dos ingredientes. Foi o segundo prato que mais me agradou em Buenos Aires. Os pratos principais foram carré de cordeiro malpassado com purê de moranga e filé com quiche de blue cheese e aipo. As melhores carnes de toda a estadia, sem sombra de dúvida. Vieram no ponto perfeito e derretiam feito manteiga na boca. Tudo isso foi acompanhado de um excelente pãozinho integral com ameixa seca. A brincadeira custou 95 pesos, com bebida.

tamal.jpgBodega Campo -- Serve a culinária tradicional pampeana, no centro da cidade. Éramos os únicos comensais num dia de semana, mas o garçom estava animado como se a casa estivesse lotada. Notei que ele valorizou nosso interesse por pratos típicos. Comemos empanadas de carne irretocáveis, muito bem temperadas, tamal (um tipo de pamonha recheada de carne moída) e pastel de calabaza, ou carne moída com purê de moranga por cima, formando um tipo de torta. Para acompanhar, cerveja em caneco de porcelana. Novamente, a comida é muito boa e o ambiente silencioso foi bem vindo para descansar do burburinho da avenida Corrientes. Esse é um pouco mais barato, se bem me lembro tudo custou uns 35 pesos.

La Ideal -- Entre, admire a arquitetura da belle époque e vá embora. A não ser que lhe agrade ficar sozinho em um salão com 100 mesas e ainda assim ser mal atendido. Os cappuccinos que tomamos eram até bastante bons, mas não compensam os pensamentos deprimentes que lhe assaltam ao ver um local tão bonito em tão franca decadência. Entre em qualquer outra cafeteria aleatória e peça um café com media luna, que você não vai se arrepender. Ou então peça um flan (foto lá em cima), uma das sobremesas mais típicas de Buenos Aires. É um pudim de leite, mas graças à maneira de fazer o molho de caramelho, o flan porteño rivaliza com o pudim da minha mãe, o que é um feito nada desprezível.

É difícil comer mal em Buenos Aires. Mesmo os lugares de baixa categoria se esforçam em servir alguma coisa que preste. Dá a impressão de que até os cozinheiros mais miseráveis põe todo seu orgulho em jogo em cada prato. Apenas evite a cafeteria que fica bem em frente ao obelisco, responsável pelas batatas fritas mais tristes que já conheci.

Marcelo Träsel | 11.09.2007, 15:42 | Comentários (12)