Ambev contra o mundo
O cervejeiro Guilherme Caon relata uma história acontecida recentemente em um bar de Porto Alegre:
A dona desse bar mantém alguns freezers de cerveja das marcas dessa empresa, e um deles não tinha terminado de vender. Segundo nossa amiga, o supervisor do vendedor resolveu dar uma passada lá no bar por causa desse freezer e, ao invés de sugerir um preço promocional ou outra coisa legal, saiu tocando os cachorros. Falou coisas do tipo "vocês tem rótulos demais no bar, por isso que não vende as nossas. Tinha que diminuir as outras marcas." Ou então "e essa cerveja aqui, quanto custa? Tudo isso? E tem gente que compra, ainda?"
O supervisor da Ambev mostra completo desconhecimento sobre o próprio mercado nessa história. As cervejas especiais não são competidoras diretas das cervejas massificadas. Elas atendem a um público muito específico e endinheirado, que estava sem ter o que beber até há pouco tempo. Claro que as grandes cervejarias devem perder uma pequena porcentagem nas vendas, mas isso só causa estranheza porque estiveram acostumadas a um mercado completamente aberrante no Brasil, em que o lado da oferta estava defasado.
O mercado de cerveja brasileiro até há pouco tempo era como o mercado de automóveis antes de o presidente Collor permitir as importações. Só havia carroça para comprar. A criação de microcervejarias está corrigindo uma reserva de mercado que durou por algumas décadas, mas não se vê em qualquer país civilizado e até mesmo em alguns nem tão civilizados assim. Não é tentando empurrar cerveja ruim goela abaixo do consumidor que a Ambev vai manter seu monopólio, porque a diversificação é inevitável e a resistência, fútil.
Em vez de irritar o consumidor, as fábricas de bebidas fariam melhor em tentar melhorar a qualidade de seus produtos. E podem manter a calma, porque a rapaziada vai continuar comprando cerveja barata aos engradados para o churrasco de domingo.