Espumante Angheben na Champanharia
Aproveito a primeira visita à Champanharia Ovelha Negra para falar da vinícola Angheben, a mais interessante do Rio Grande do Sul -- ao menos para quem não entende nada de vinhos, como eu.
Neste inverno tomei pela primeira vez um de seus vinhos, cujos vinhedos ficam em Encruzilhada do Sul, no pé da serra, um pouco fora do eixo vinícola tradicional. A uva era touriga nacional, uma casta insólita no Brasil, que tem um sabor lembrando um pouco frutas mofadas (não, não tomei uma bebida estragada, posso garantir). Bastante diferente de qualquer outro vinho que já tenha experimentado. Virei fã e comprei uma garrafa de barbera, ainda não consumida.
Pois então, hoje cheguei à Champanharia e descobri que a Angheben também tem um espumante brut produzido pelo método champenoise. Estava em promoção por R$ 50 a garrafa, um preço nada absurdo, cerca de R$ 10 a mais do que nas lojas. E o Angheben Brut é excelente, compre se conseguir encontrar. É muito bom ver viticultores investindo em castas diferentes e bebidas de qualidade, para levar adiante a fama que os vinhos e, principalmente, os espumantes gaúchos amealharam nas últimas décadas.
Quanto à Champanharia Ovelha Negra, o comentário mais importante é a justeza dos preços. Sempre tive um certo preconceito com o lugar, porque começou a aparecer no guia da Veja e é freqüentado por clientes oriundos da Padre Chagas, o que em geral significa preços altos por serviço duvidoso. Gosto de beber, e espumante não costuma ser a escolha mais econômica para isso. Portanto, fiquei surpreso ao ver que os preços na Champanharia não são nada abusivos, pelo contrário. Por outro lado, eles bem que poderiam não cobrar 10%, ou ao menos avisar no cardápio que o fazem.
No mais, a música é boa e não atrapalha a conversa. A comida parece bem feita, embora não tenha chegado a provar nada, e o garçom sabe servir direito uma taça de espumante, que chega à mesa na temperatura perfeita. Pode-se ver que os proprietários levam bastante a sério o objetivo da casa, que é oferecer bebidas diferentes e de qualidade. Só chegue cedo, porque a partir das 23:00 ninguém mais entra.
CHAMPANHARIA OVELHA NEGRA
Av. Duque de Caxias, 690
Centro
Telefone: 51 3061-7021
Marcelo Träsel | 29.10.2007, 23:07 | Comentários (13)
E a mandioca, cadê?
Seguindo com a série sobre as deficiências gastronômicas de Porto Alegre, pergunto: por que não se oferece aipim frito em todos os bares? Encontrar algum local para beber cerveja que sirva uma boa porção disso é uma dificuldade. Nem botecos como o Natalício, que querem ser brasileiros, têm o acepipe no cardápio.
Aparentemente é assim no país inteiro, tanto que alguns chefs resolveram criar uma campanha pela valorização da mandioca -- é, eu sei, as piadinhas são quase irresistíveis. No Fantástico desse domingo, deram algumas receitas para preparar a raiz. Apóio, sobretudo se isso redundar em mais aipim frito nos bares daqui. Quando ainda morava com a minha mãe, jamais comia o aipim cozido do almoço. A idéia era fazer sobrar, para que tivessem de fritá-lo. É um dos meus pratos favoritos.
Marcelo Träsel | 23.10.2007, 15:07 | Comentários (28)
Cadê a comida baiana?
O Sérgio Lüdtke, editor do ClicRBS, levantou uma gorda lebre no Cookies, o blog de culinária do portal gaúcho: a pobreza gastronômica de Porto Alegre. Especificamente, ele se refere à falta de um bom restaurante baiano. De fato, a não ser pela banquinha de acarajé e tapioca que uma baiana gerencia no Brique da Redenção, não há onde comer xinxim de galinha, vatapá ou caldinho de sururu que preste na capital.
Isso é um absurdo, até porque a culinária baiana, junto com a amazônica, é uma das poucas dignas de ser considerada como um tipo específico de cozinha no Brasil. O arroz de carreteiro e o churrasco que me desculpem, mas a cozinha gaúcha, ou a paulista, ou a carioca, são apenas culinária européia adaptada aos ingredientes locais. Mesmo a feijoada existe na França, feita com pato e feijão branco (o cassoulet, para quem não sabe). O resto das preparações é muito parecida. É claro, a cozinha baiana vem na maior parte da África, e eu não conheço a África para opinar, mas parece que na mistura dos escravos com portugueses e as pimentas locais nasceu uma visão bem diferente de como preparar comida. De qualquer modo, a cozinha baiana parece muito mais bem estruturada do que qualquer outra do Brasil, talvez até por ser a região mais antiga do país.
Quanto à cozinha amazônica, que usa ingredientes indígenas, sua posição como uma culinária diferente da de qualquer outro país é evidente.
É um absurdo que em Porto Alegre, uma das cidades mais ricas do país, não exista um bom restaurante baiano ou amazônico. Aliás, a capital gaúcha oferece, numa análise feita com muito boa vontade, uns três ou quatro restaurantes realmente bons. Freqüentemente comento com meus amigos que essa cidade é o pior lugar do mundo para se ter dinheiro, porque não existe onde gastá-lo. Se fosse milionário, teria de ir até São Paulo para poder viver como um, fechando uma excelente refeição no Fasano com uma dose de conhaque Henessy ou algo assim (R$ 900 a dose). O problema é que os comensais porto-alegrenses se contentam com qualquer porcaria, desde que seja servida na Padre Chagas.
Marcelo Träsel | 22.10.2007, 11:37 | Comentários (14)
Terror culinário
O CRACKED.com elegeu as seis comidas mais aterroradoras do mundo. Gênio da raça. Mostrem esse artigo para a próxima pessoa que disser "ah, eu como de tudo".
Cisco | 12.10.2007, 0:52 | Comentários (18)
Novo Chicken Gourmet
Foi a última vez que um comercial do Mcdonalds me seduziu. Já tinha me frustrado no verão com aquela sobremesa de merengues e o Super Mcshake de coco. Quando vi o novo sanduíche até me preparei para o pior, mas não pude deixar de babar com a propaganda mostrando peito de frango crocante, cream cheese, a melhor combinação de salada que eles já fizeram que inclui repolho roxo e cenoura, e o tal de molho gourmet. O problema é que confiei muito no molho gourmet e esqueci que o cream cheese aleatório não é um Philadelphia com sal.
Carol Andreis | 8.10.2007, 23:22 | Comentários (23)
Ferro na boneca!
Ganhei há alguns meses um wok de ferro fundido, mas só fui testar poucas semanas atrás. O resultado está na foto aí ao lado: um bife no mais belo ponto bleu, bem tostado por fora e sangrento no interior. Com o fogão vagabundo que tenho, coisas assim só se conseguem com uma boa panela de ferro. O ferro distribui o calor de forma uniforme e se mantém muito, mas muito quente por muito tempo. Isso significa uma superfície que atinge temperaturas mais altas, única maneira de obter bifes que prestem.
Há tempos havia jurado nunca mais tentar fritar carnes em casa, porque só conseguia deprimentes pedaços de boi e porco muito passados ou muito flácidos, além de empestear tudo com a gordura que se desprendia das panelas de aço. Então foi com alguma surpresa que percebi a ausência de qualquer odor nauseabundo pela casa após fritar os bifes no wok de ferro. Pelo jeito, a temperatura mais alta impede a formação de nuvens gordurosas.
Mas também era preciso testar o wok para alguma receita do sudeste asiático, terra de onde se origina esse equipamento. Escolhi um arroz frito tailandês do site Thai Table, ou kow pad. Descobri que o wok compensa a falta de potência do meu fogão o suficiente para fritar um bife, mas não para fazer pratos asiáticos, que exigem muito mais calor. Acabou demorando mais do que o recomendado para fritar os ingredientes, o que tira um pouco do sabor pretendido, mas o resultado geral foi bastante razoável. Segue a receita.
ARROZ FRITO TAILANDÊS (KOW PAD)
Ponha o wok no fogo, sem óleo nem nada, até que comece a sair fumaça. Derrame um pouco de óleo vegetal e ponha as tiras de carne para fritar. Isso provavelmente vai causar uma fumaceira, mas não se assuste. Se começar a se formar uma poça de suco da carne no fundo do wok, é porque a superfície não está quente o suficiente. Toda água deve evaporar imediatamente. Quando a carne estiver pronta, puxe-a para os lados do wok com a ajuda da espátula, como na foto ao lado. Quebre o ovo e frite-o, depois puxe para o lado do wok também.
Agora, junte o shoyu e o envelope de Hondashi no fundo da panela, mexendo bem. Depois, vá acrescentando a pimenta vermelha picada (fresca ou em conserva, tanto faz), o gengibre, a cebola, a cenoura e a vagem. Cozinhe até a vagem estar macia, sempre mexendo, e então acrescente o arroz e misture tudo, inclusive a carne que estava no lado do wok. Quando estiver pronto, ponha o ovo por cima de tudo e sirva. Fica bom com algumas gotinhas de limão.