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Comida não é remédio

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Se ainda não veio à sua cabeça a expressão, aqui está ela: bom senso. Pois é, nesse caso não dá para variar. E bom senso significa não exagerar nem no consumo nem na privação. Quer um exemplo? A exclusão de carne vermelha da dieta é responsável por carências de ferro e vitamina B12, nutrientes fundamentais para o organismo. Mais: de nada adianta seguir cegamente dietas como a japonesa e a mediterrânea, tidas como as mais saudáveis, sem levar em conta que você não vive no Japão ou às margens do Mediterrâneo. Uma dieta para ser equilibrada e prazerosa tem de se combinar ao ambiente em que se vive e à genética de cada um. Coma de tudo um pouco e tente transformar o ato de comer numa experiência mais agradável do que se restringir a uma porção de brócolis ou se entupir de frituras. De vez em quando, dá vontade de comer um hambúrguer? Não se prive desse prazer. Coma com calma, sem tanta gordura pingando no prato. Esforce-se para que pelo menos uma de suas refeições diárias seja uma experiência estética e, com o perdão da palavra, sinestésica. Tente melhorar a apresentação dos pratos, capriche na combinação dos alimentos e no seu colorido.

Por incrível que pareça, o trecho acima é de uma reportagem da revista Veja. Depois de anos criando histeria na população alfabetizada com capas mostrando os vilões ou heróis da alimentação, essa semana a revista vem com uma capa pregando (de cuecas) o bom senso à mesa. É claro, não resistem à tentação de incluir um quadro com os alimentos mais benéficos ao organismo e com as dietas de algumas pessoas -- todas dietas de fome, é claro --, contrariando a proposta da pauta, que era redimir o arroz com feijão e bife com um chocolatinho de sobremesa. Ou ao menos é o que vende a capa, com a manchete: "Você é o que come? Sim, mas saiba por que é um erro escolher os alimentos como se fossem remédios".

Se está pensando em comprar a revista para saber quais são as indicações e o que foi tirado do índex dos nutricionistas, poupe seu dinheiro. O único trecho que presta é o reproduzido acima. De resto, doces, carnes e fast-food continuam proibidos. A dica de Michael Pollan continua sendo mais útil: não coma nada que não apodreça.

Marcelo Träsel | 27.04.2008, 20:52 | Comentários (4)