Koh Pee Pee
Ontem à noite fui como convidado da assessoria de imprensa ao restaurante tailandês Koh Pee Pee, para provar o menu degustação que eles incluíram recentemente em seu cardápio. Comi lá algumas vezes, mas a última foi antes de criar este blog, por isso nunca escrevi uma resenha. Essa nova visita confirmou que o restaurante de Eduardo Sehn é um dos três ou quatro que realmente valem a pena em Porto Alegre.
O menu degustação é servido de terça a quinta-feira para grupos de no mínimo quatro pessoas, porque exige preparação especial na cozinha. Assim, experimentei uma versão reduzida, pensada para duas pessoas. Aí está um fato que já mostra a preocupação de Sehn com a qualidade: para não prejudicar a apresentação e o frescor dos ingredientes, prefere deixar de lado alguns pratos. O chef circula o tempo todo entre as mesas do restaurante, conversando com os clientes e perguntando sobre a comida. Contou que há cerca de 20 anos estava morando em Aachen, na Alemanha, e resolveu tirar férias na Tailândia. Ficou tão impressionado com a culinária local que voltou de lá com a resolução de abrir o Koh Pee Pee, nome de uma praia ao sul do país. Visitou de restaurantes cinco estrelas a vendedores de rua, sempre que possível pedindo para ver como eram preparadas as receitas. Após os primeiros anos de operação na Praia do Rosa e depois em Florianópolis, mudou-se para Porto Alegre. Sehn conta que, no início, trazia os temperos e ingredientes mais difíceis de encontrar na mala, quando ia à Tailândia uma vez por ano. Hoje, o mercado aberto à importação e o trabalho com produtores locais dá conta do fornecimento.
A segunda entrada foi o hoy chen neung manaw da foto ao lado, ou vieiras grelhadas ao molho picante de limão, o bocado mais saboroso da noite inteira e que em minha vida de restaurantes só perde para a primeira bocada de foie-gras em termos de surpresa. Ao primeiro toque na língua você sente o gosto do molho meio doce de limão siciliano, pimenta e, se não me falha o palato, açúcar de palmeira, com outras especiarias. À medida que vai mastigando, o sabor muda para um leve salgado marinho misturado ao azedo do limão. Ao passar pela mesa após as entradas, Sehn perguntou direto das vieiras, comentando "esse molho é tão bom que dá para comer às colheradas". Fui obrigado a contar a ele que, de fato, havia tomado algumas colheradas do molho.
A primeira entrada foi khanom jeeb, ou trouxinhas de porco moído em massa fina (na primeira foto). Tenho comido muitas dessas por aí, todas com uma massa mais parecida com as massas recheadas italianas, o que é um tanto grosseiro para a culinária tailandesa. A do Koh Pee Pee é fina como papel, crocante. Como prato principal, veio primeiro o kaeng ka-rhee gai, ou frango ao molho de curry amarelo com salada de pepino agridoce. Este ensopado é bastante picante, portanto come-se com a salada de pepinos com amendoim, cebola e coentro por cima. Isso compensa a força do curry, gerando sabores perfeitamente equilibrados. A seguir veio o pla sam rut, filé de pargo ao molho agridoce de pimenta, tamarindo e açúcar de palmeira, conhecido como "peixe de três sabores". O pargo tem um toque marinho um tanto mais acentuado que outros peixes, e os três sabores na verdade se mesclam em um só, meio indefinível. Os dois pratos principais são acompanhados de arroz jasmim, que foi devidamente usado para limpar todo o molho restante da porcelana.
A sobremesa foi khao neow mamoang, arroz motti -- virá do japonês mochi? -- cozido no vapor com leite de coco natural e fatias de manga. Ou seja, arroz doce. Nesse momento, gelei. A primeira vez que comi arroz doce foi num jantar oferecido por um amigo de minha mulher, apenas para não chateá-lo, porque tenho grande aversão a doces feitos com arroz ou feijão. Encarei corajosamente a sobremesa do Koh Pee Pee e, embora não pretenda pedi-la à la carte, posso dizer que tampouco achei ruim. Os grãos de arroz são envoltos por uma viscosidade perfeitamente homogênea e a manga e um pouco de gergelim dão uma quebrada no doce. O leite de coco em lugar do leite de vaca deixa o arroz doce muito melhor, também. Admiro a técnica empregada na confecção da sobremesa, mas ainda não posso dizer que gosto.
Detalhe interessante foi a sugestão de vinho rosé para acompanhar o menu. Sempre é difícil decidir o que tomar com comida oriental. Depois de muitas tentativas com espumante, vinho branco e quetais cheguei à conclusão de que cerveja era mesmo o mais adequado, mas o rosé funcionou muito bem. Não desaparece tanto quanto o vinho branco, nem esconde o sabor da comida como o tinto. Além disso, como já comentei outro dia, o rosé foi reabilitado recentemente, depois de anos conhecido como produto de má qualidade destinado a mulheres fãs de vinho branco doce que queriam "variar". Ontem provei o vinho argentino Carmela Benegas e o espumante Adolfo Lona. Além desses, posso recomendar o espumante rosé brut da Miolo. Se for beber, é uma boa consultar o serviço de chofer do restaurante. Por ser subsidiado pelas vinícolas, custa bem menos do que usar táxi. Segundo Sehn, para ir e voltar de Belém Novo o valor é R$ 20.
Os leitores mais freqüentes perceberão que essa é uma resenha de entusiasmo acima da média. Devo admitir que a refeição de ontem está entre as melhores da minha vida. Se você tem algum interesse em gastronomia, o Koh Pee Pee é uma experiência transcedental e imperdível. Sugiro com toda veemência o menu degustação, porque é a única maneira de comer as vieiras grelhadas e porque é a melhor forma de conhecer os diferentes sabores da cozinha tailandesa a um preço mais em conta. São oito pratos por R$ 140 por pessoa, pouco mais do que o preço de uma entrada, um prato principal e sobremesa, conforme o cardápio.
KOH PEE PEE
Rua Schiller, 83 - Mapa
51 3333-5150