Le Bateau Îvre
Para comemorar meu aniversário de 30 anos, resolvi mandar às favas a moderação e ir finalmente conhecer o restaurante francês Le Bateau Îvre, cuja reputação é ser um dos melhores da cidade. Foi um excelente jantar, mas em grande parte devido ao fator emocional envolvido. Vou fazer o possível para escrever uma análise objetiva do estabelecimento.
A primeira boa surpresa é descobrir que o restaurante não é tão caro quanto se esperaria para essa categoria de culinária. Pode-se comer lá por menos de R$ 100 por pessoa. Os pratos começam em cerca de R$ 40. Há opções de vinhos desde razoáveis (R$ 45 por um tempranillo espanhol) até hilariantes (acima dos R$ 500). O ambiente lembra uma casa na Serra, com lareira no meio e muita madeira. A cozinha é separada do salão por um vidro, então pode-se ver o chef Gerard Durand trabalhar. A chanson francesa toca constantemente, chegando até a ser um pouco inconveniente lá pelas tantas.
Pedimos como entrada uma porção de escargot (R$ 35) e foie-gras com molho de figos (R$ 52). Nunca havia provado caracóis, mais por falta de oportunidade. Descobri que eles não têm em si muito sabor, o que explica a necessidade do molho de manteiga com ervas que sempre os acompanha. Come-se mais pelo esporte, acredito: é divertido pegar os cascos com uma pinça e escavar atrás dos bichinhos -- cuja consistência é muito mais amigável ao paladar do que se supõe -- com um garfo especial. O gosto lembra um pouco cogumelos e mariscos. Foi-gras eu já conhecia, mas nunca o tinha comido quente. Recebemos um fígado inteiro levemente grelhado e banhado num excelente molho de figos em compota com um toque de vinagre balsâmico. A carne é tão entremeada de gordura que se derrete, então é mais apropriado comê-la com pão. Gostei muito, mas ainda prefiro o foie-gras fresco.
Os pratos principais foram magret de pato com molho de frutas vermelhas (R$ 48) e carré de cordeiro com molho agridoce de manga e morangos (R$ 47). O magret veio no ponto corretíssimo, levemente malpassado e muito macio. O molho de frutas vermelhas é bom, embora fique um tantinho enjoativo mais para o final, porque é bastante pesado. Acompanha o prato uma batata gratinada surpreendente. Pelo que entendi, eles fazem um purê com o qual preenchem a casca de uma batata inglesa assada e depois levam ao forno. Dá uma boa equilibrada no molho. Confesso que gostei mais do molho agridoce do cordeiro, à base de mel e bem carregado na pimenta. Coisa rara de se encontrar no Sul, dado que os restaurantes precisam agradar ao gosto meio bundão do povo. A carne, porém, estava excessivamente dura e cheia de nervos. Definitivamente não é o que se espera num restaurante desse nível.
As sobremesas foram crème brulêe e a reflexe des îles (todas custam R$ 14). O creme correspondeu à expectativa de um doce clássico. A outra era interessante: duas bolas de sorvete de coco Häagen-Dasz sobre licor de menta, com flocos de arroz e calda de chocolate. Recomendável. Assim que terminamos a sobremesa, faltou luz em toda a região, então não pudemos provar o café. Felizmente aceitam cheque.
Um detalhe que incomodou um pouco foi terem nos colocado na pior mesa de todo o estabelecimento, apesar de termos reservado com uma semana de antecedência. Só posso concluir que atribuem as piores mesas a quem reserva primeiro e não é cliente antigo, para deixar liberadas as boas mesas aos transeuntes. C'est sacanage, ça. Fiquei me sentindo penalizado por ter me dado o trabalho de reservar. Aliás, tentei fazê-lo pelo endereço de correio eletrônico fornecido nos guias e a mensagem nunca foi respondida.
LE BATEAU ÎVRE
Rua Tito Lívio Zambecari, 805 - Mapa
51 3330-7351