Chez Philippe
Há quase dez anos, quando era repórter free-lance da revista Aplauso, fiz uma entrevista com Phillippe Remondeau, o proprietário do restaurante que leva seu prenome. Foi para uma reportagem sobre as relações entre arte e gastronomia. Lembro de ter gostado bastante das declarações do chef Remondeau e ainda mais da maneira como fui recebido no casarão tombado, cheio de vitrais e madeira esculpida, que hospeda o Chez Philippe. Por algum motivo sempre adiei o plano de voltar lá para um jantar, até o sábado passado, quando minha mulher e eu comemoramos um ano de união civil estável.
O restaurante oferece um menu sugestão do chef com entrada, prato principal e sobremesa por R$ 61, o que é um ótimo negócio. Como outras opções do cardápio chamaram mais a atenção, no entanto, acabamos pedindo apenas as entradas do menu do chef -- carpaccio de língua de cordeiro e mil folhas de berinjela com salmão, ambas acompanhadas de salada (R$ 19 cada) --, filé mignon recheado com queijo camembert ao molho de cogumelos secos, acompanhado de batatas gratinadas (R$ 36), e carré de cordeiro ao molho de pimenta verde com purê de mandioquinha e legumes (R$ 44). O carpaccio de língua de cordeiro é muito bom, com um molho provavelmente de mostarda e nabos à juliana. A combinação de sabores do filé é muito adequada e sóbria. O cordeiro foi o prato que mais me agradou, sobretudo porque o ponto da carne é levemente malpassado e a gordura é torrada em uma crosta bem crocante.
O couvert (R$ 6) era uma terrine de fígado de aves com molho de frutas vermelhas, além de azeitonas e fatias de baguete quentinhas com manteiga. O pão é trazido durante toda a refeição e fica difícil resistir à tentação de esfregá-lo no prato para consumir todo o molho. As sobremesas foram um tipo de torta de chocolate em formato de gota com molho de laranja e Cointreau para a Tati e tomate meio cristalizado com sorvete de manjericão para mim (ambas R$ 11). Concluí que preciso aprender a fazer sorvete de manjericão. Da gota de chocolate provei apenas um pedacinho, mas achei muito boa, o sabor cítrico da laranja e do licor equilibram o doce do chocolate. Como dos vinhos brasileiros mais baratos só havia cabernet sauvignon, que tenho achado entediante, fomos num malbec argentino Benegas pouco mais caro (R$ 56). O café ao final do jantar veio graciosamente acompanhado de docinhos variados e a casa oferece uma borrifada de uísque ou grappa (R$ 3,20).
O ambiente e o atendimento do Chez Philippe são excelentes. Fiz a reserva pelo formulário de contato no site do restaurante, mas, desconfiado das maravilhas da moderna tecnologia, resolvi confirmar por telefone. De fato, não tinham visto, mas ficaram felizes em designar uma boa mesa, mesmo a reserva sendo feita poucas horas antes, ao contrário do que nos aconteceu no Le Bateau Îvre. Os funcionários são todos muito atenciosos. A comida também nos agradou um pouco mais. O carré de cordeiro do Chez Philippe, por exemplo, estava muito mais macio. E quando se paga bastante dinheiro por um prato, o mínimo que se espera é ingredientes de alta qualidade. O restaurante do chef Remondeau passa a dividir minha preferência em Porto Alegre com o Koh Pee Pee.
CHEZ PHILIPPE
Av. Independência, 1005 - Mapa
51 3312-5333