Nostalgia do pistache

Não existe um sorvete de pistache que preste em Porto Alegre. Hoje mais uma vez tentei encontrar o sorvete, na Troppo Buono. Mais uma vez, recebi algo com um sabor de perfume que vagamente lembra esse tipo de castanha. A consistência do produto da Troppo Buono é ótima, e por trás do ranço de perfume francês se vê que os ingredientes são bons, mas o pistache deles é deprimente como o de qualquer outra sorveteria -- embora o morango seja ótimo, com pouco leite e sabor de verdade da fruta.

Adorava o sorvete de pistache da saudosa Prawer, quando criança. Posso até estar enganado por anos de distância, mas não lembro de nenhum gosto de perfume no pistache. Se alguém tiver uma indicação de sorveteria que tenha resolvido esse problema, por favor deixe nos comentários.

Marcelo Träsel | 28.02.2008, 22:25 | Comentários (12)

Café do Porto

Uma reunião ontem me levou até o Café do Porto, na rua Padre Chagas. Para quem não mora em Porto Alegre, cabe informar que é o eixo do jet-set local -- e dos candidatos à categoria, é claro --, coalhado de bares e restaurantes dos mais variados tipos e qualidades. O Café do Porto é um dos pioneiros, está lá há mais de dez anos, o que certamente não ocorre à toa.

Como era de se esperar, tudo é muito caro. O espresso sai por R$ 3, um pedaço ridículo de rolinho de goiabada custa cerca de R$ 7. Até aí, faz parte do jogo. O lugar é muito bonito e agradável, no bairro mais caro da cidade. De fato, tomar uma cerveja artesanal Helles numa tarde de sábado ensolarada (R$ 23 o garrafão de dois litros) vale abrir um pouco mais a carteira.

Não sei se o espresso vale o preço, mas o raviolone de vitelo com molho de funghi secchi (R$ 19) certamente poderia ser feito na hora, em vez de tristemente requentado. O tempero do recheio é até bastante bom, apimentado como raramente se vê em restaurantes porto-alegrenses, mas os cogumelos que um dia povoaram o molho são liquidificados, o que é um acinte. Considero o prato no máximo razoável.

No fim das contas, o Café do Porto em geral oferece um bom serviço e se esforça para servir comida de qualidade. Provavelmente é mesmo um dos melhores lugares da região. Alguém aí tem uma opinião sobre o café em si?

CAFÉ DO PORTO
Rua Padre Chagas, 293
Moinhos de Vento

Marcelo Träsel | 3.11.2007, 18:34 | Comentários (11)

Espumante Angheben na Champanharia

Aproveito a primeira visita à Champanharia Ovelha Negra para falar da vinícola Angheben, a mais interessante do Rio Grande do Sul -- ao menos para quem não entende nada de vinhos, como eu.

Neste inverno tomei pela primeira vez um de seus vinhos, cujos vinhedos ficam em Encruzilhada do Sul, no pé da serra, um pouco fora do eixo vinícola tradicional. A uva era touriga nacional, uma casta insólita no Brasil, que tem um sabor lembrando um pouco frutas mofadas (não, não tomei uma bebida estragada, posso garantir). Bastante diferente de qualquer outro vinho que já tenha experimentado. Virei fã e comprei uma garrafa de barbera, ainda não consumida.

Pois então, hoje cheguei à Champanharia e descobri que a Angheben também tem um espumante brut produzido pelo método champenoise. Estava em promoção por R$ 50 a garrafa, um preço nada absurdo, cerca de R$ 10 a mais do que nas lojas. E o Angheben Brut é excelente, compre se conseguir encontrar. É muito bom ver viticultores investindo em castas diferentes e bebidas de qualidade, para levar adiante a fama que os vinhos e, principalmente, os espumantes gaúchos amealharam nas últimas décadas.

Quanto à Champanharia Ovelha Negra, o comentário mais importante é a justeza dos preços. Sempre tive um certo preconceito com o lugar, porque começou a aparecer no guia da Veja e é freqüentado por clientes oriundos da Padre Chagas, o que em geral significa preços altos por serviço duvidoso. Gosto de beber, e espumante não costuma ser a escolha mais econômica para isso. Portanto, fiquei surpreso ao ver que os preços na Champanharia não são nada abusivos, pelo contrário. Por outro lado, eles bem que poderiam não cobrar 10%, ou ao menos avisar no cardápio que o fazem.

No mais, a música é boa e não atrapalha a conversa. A comida parece bem feita, embora não tenha chegado a provar nada, e o garçom sabe servir direito uma taça de espumante, que chega à mesa na temperatura perfeita. Pode-se ver que os proprietários levam bastante a sério o objetivo da casa, que é oferecer bebidas diferentes e de qualidade. Só chegue cedo, porque a partir das 23:00 ninguém mais entra.

CHAMPANHARIA OVELHA NEGRA
Av. Duque de Caxias, 690
Centro
Telefone: 51 3061-7021

Marcelo Träsel | 29.10.2007, 23:07 | Comentários (13)

O melhor bar do mundo

Fica em Ubatuba. Estávamos cruzando a praia quando vimos aquela casinha na Rua Esteves da Silva. Muito branca, umas janelas em estilo colonial e os pratos descritos em quadro negro do lado de fora. Bardolino. "O chopp número 1 da cidade." Primeiro soou o alarme do bar caro, depois a sirene do foda-se-e-vamo-que-vamo. Entramos e logo em seguida forraram a mesa. Havia apenas um casal de meia idade sentado várias mesas para lá. O bar inteiro ao nosso dispor. Em cada mesa, um girassol verdadeiro em um vaso de garrafinha de perrier. Nas caixas, um João Gilberto que caía muito bem com a brisa.

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Azeite alentejano no bolinho de bacalhau, regado a chope cremoso.

Demoramos uma eternidade e quase dois chopes para escolher. As entradas eram descritas como "tapas", o que destaca ainda mais o bom gosto generalizado. Finalmente, me decidi por uma porção de bolinhos de bacalhau (R$ 18, com oito). Carol também relutou muito, mas acabou optando por um ravioli caseiro com recheio de ricota puxado na manteiga aromática (R$ 25 o prato individual). Havia diversas opções de frutos do mar, inclusive alguns pratos com lagosta, mas a prudência falou mais alto. Uma opção para a próxima vez sem dúvida é o hambúrguer de cordeiro (R$ 18,50) e a feijoada (R$ 34,50, para dois).

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Ravioli caseiro com manjericão fresco. No fundo, os bolinhos de bacalhau.

Pouco antes de servirem a entrada e o prato, colocaram na mesa uma garrafa de azeite português do Alentejo e duas opções de pimentas importadas. Comemos com apetite, delícia e muitos chopes. No final, deu vontade de tomar uma Serramalte. Pedi apenas uma garrafa, mas, para minha admiração, lá veio o garçom com um balde cheio de gelo. Irretocável, tanto a cozinha como o atendimento. Entendi um pouco melhor ao receber o cartão e saber que o Lino, do Bardolino, é na verdade Brazelino Chiappetta Filho - parente, portanto, do pessoal do Empório Chiappetta. Obrigatório numa visita a Ubatuba.

Hermano | 17.09.2007, 0:17 | Comentários (13)

Infarto engarrafado

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Percebam todos os elementos malignos desta imagem. A manteiga dourada, mantida derretida em alta temperatura dentro da garrafa. A cachaça, nem completamente branca nem muito amarela, no ponto entre o envelhecimento e o frescor. A pimenta vermelhinha, saborosa e ardente na medida. A carne seca bem desfiada, com pouca gordura, frita na cebola e acompanhada de aipim. Tudo isso na Adega da Velha, escondida em alguma travessa da Voluntários da Pátria, em Botafogo. O prato econômico, que também pode ser servido com carne de sol e uma infinidade de outros produtos nordestinos autênticos, sai por justos R$ 10. Aprende, Saulo (rs).

Hermano | 17.06.2007, 17:38 | Comentários (10)

Novela do Manoel Carlos

Quase me custou uma queimadura de sol, mas depois de rodar muito pelas ruas do Leblon e Ipanema, achei o que procurava para o almoço: um bar que tivesse comidas de boteco, como pastel e bolinho de bacalhau, e que aparentasse alguma qualidade e assepsia.
Pois o tal que achei leva na fachada os dizeres Espelunca Chic. Como sugere o nome, o lugar combina cardápio de boteco (ainda que também tenha opções mais elaboradas de petiscos) com ambiente de restaurante (ainda que a aura de bar e as mesas na calçada também estejam lá).
Optamos por uma porção de carne de sol com cebola, acompanhada de aipim frito, farofa e manteiga derretida. Para dar o toque final, molho de pimenta e muito azeite de oliva. Resultado: duas pessoas alimentadas a um custo condizente com a proposta e a localização do estabelecimento: R$ 23,00*.

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Espelunca Chic
Rua Maria Quitéria, 46
Ipanema - Zona Sul - 2247-8609
Rio de Janeiro

*valor do prato apenas.

Saulo | 17.04.2007, 23:52 | Comentários (10)

Café massificado

A Starbucks vem aí. Nos Estados Unidos, critica-se a rede por tirar do negócio os cafés de bairro, independentes e supostamente mais charmosos, por não terem um caráter pasteurizado típico das grandes redes de alimentação. Aqui no Brasil essa preocupação é inútil, já que nunca houve tradição de cafés. As lojas da rede talvez sejam até uma solução para aquelas redondezas onde não se consegue um espresso decente. Isso porque, assim como o McDonald's, a Starbucks pode não ter charme algum, mas prepara um café muito bom.

Marcelo Träsel | 25.05.2006, 20:02 | Comentários (15)

Cálculo sobre Qualidade de Serviço em Bingos

Sentado no Golden Bingo de Porto Alegre, fiz uma descoberta impressionante: a probabilidade de se fazer bingo após quinze números serem cantados é a mesma do garçom trazer sua bebida em menos de vinte minutos: 0,00000000000000218361236647819%. A probabilidade dele acertar o pedido quando o traz, curiosamente, é a mesma de se fazer linha com cinco números cantados: 0,00000682605225643348%. É um pouco maior, mas há menos variáveis, o que favorece o cliente/jogador.

O menu aconselha os jogadores a não dar gorjetas. Se estivéssemos em um país onde existe o costume de se dar gorjetas, eu acreditaria que há uma correlação entre os fatos acima.

Cisco | 9.05.2006, 8:21 | Comentários (7)