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MANDANDO MAL NO HIGH SOCIETY

Fui achando que era uma reunião de trabalho. Foi assim que me venderam a ocasião: um meeting no qual estariam pessoas do mundo fashion carioca, mídias, etc. Marcaram comigo num restaurante chamado "Madame Butterfly", na Barão da Torre, ponto chiquézimo da chiquézima Ipanema. Poderia ser uma chance daquela tarefa hedionda mas indispensável para conseguir uma ocupação: conhecer gente.

Cheguei pontualmente às 21h, achando que o restaurante grãfa seria apenas um ponto de encontro entre eu e a pessoa minha benfeitora irmos ao local da "reunião". Prudentemente não pedi nada para beber.

Passada meia hora, comecei a ficar nervoso. Mas notei também uma certa movimentação de pessoas perfumadas chegando. Pouco depois, indo até a porta, topo com ela (a pessoa, minha benfeitora) e sua companhia. Ocupei, junto com eles, outra mesa, aliviado. Pede-se uma saiquirinha. Eu, humilde, não quero nada.

Pois eis que o evento foi convocado pelo executivo de uma grande casa de shows carioca. E, sentado em nossa mesa, ia comentando sobre as presenças confirmadas, chegando no nome de uma verdadeira musa da punheta na década de 90. Mostrando traquejo social, me entusiasmo e elogio a pin up.

Passou um largo tempo de conversas jogadas fora. Eu ia devorando o couvert, fazendo um grande esforço para manter o pensamento e a atitude no plano da positividade. Foi quando o dono da casa de shows me puxou pelo braço, tão serelepe quanto sua opção sexual ocasiona ser, dizendo que iria me apresentar "uma pessoa". Penso em algum editor de jornal, algum repórter medalhão, alguém que me SERVISSE de algo. Tenho, ao invés disso, uma loira bem loira e bochechuda, me olhando com aquele interesse educado de loira. Ao lado, um carrinho de nenê. Dou três beijinhos e inicio o diálogo.

Eu: - Sou o Hermano, tudo bem?

Ela: - Oi, tudo.

Eu: - Você é?

Ela: - Eu sou a Regina.

Eu: - Ah.

(constrangimento)

Eu: - Tem alguma idéia de POR QUÊ ele nos apresentou?

Ela: - Naum

Então me viro, olho para o cara que gentilmente nos apresentou e ele, ofendidíssimo como é próprio de sua opção sexual, me pergunta se "eu não queria conhecer a REGININHA?".

Viro-me para ela. Não há como descrever a tensão daquele momento, as gargalhadas nervosas das pessoas na mesa, as minhas frases de menção ao Básico Instinto e as desculpas por não tê-la reconhecido. Nada poderia salvar aquele momento mas eu não estava ligando: sequer ruborizei. Ela também não pareceu se importar. "Não poderia ficar para sempre daquele jeito, né." Pensei em mencionar quantos incontáveis litros de muco sua imagem foi capaz de me fazer produzir nos verdes anos do onanismo, poderia ser um consolo, mas fui o mais rápido que pude de volta à minha mesa. Muitas dores na mandíbula de tanto dar sorrisos falsos.

Na verdade, fiquei sabendo depois, a ocasião foi forjada para dar aquela "força" de amigo ao restaurante, que vai mal das pernas. Quem estava lá era sub-do-sub e comprou um daqueles contos de vigário sociais. Eu dentro.

Todos os contatos que faço com esta realidade me deixam com uma tristeza neutra, nauseante. Na boa, pode ficar com tua casa no Joá, teus cockers spaniels, tuas carangas mutcholocas, teu uísque com rótulo bacana, tua baranga turbinada nos peito de talco na cara, os lugares imbecis que tu freqüenta, teus vazios preenchidos com pompa. Para ter estas coisas tem que conviver com teu tipo de gente. E nem ridicularizando consigo ter qualquer espécie de algo que se aproxime a diversão perto disso que se chama elite. É só nojo, nojo, nojo, nojo.

PS - Uísque com rótulo bacana até melhora situações como a descrita acima, principalmente acompanhado de acepipes tão ou mais requintados que a bebida. Obviamente não foi o caso.

11/05/2005 01:08    | Comentários (10) | TrackBack (0)

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