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A DECADÊNCIA DO PATER FAMILIAS

Estava vendo um programa sobre as pílulas hormonais no GNT. Lá pelas tantas foi obrigatória a explicação do porquê se demorou a consolidar a idéia de que era preciso reposição hormonal para homens: era um conceito culturalmente inadmissível. Para ilustrar, propagandas de época, em que o pai de família é um senhor elegante e gomalinado (nunca sensual, mas onipotente) que sustenta a família e tem sobre todos os seus membros magnânimo e tácito domínio.

Voltando à TV aberta, vemos a propaganda da Claro, aquela da conta fixada em R$ 50. Primeiro que a correspondência é aberta pela mulher sem qualquer consulta ao marido (ok, fui muito longe na semiótica, mas compreendam que sim, faz sentido). Depois, um risível, prematuramente grisalho e impotente maridão (magrela) diz NÃO ABRA AINDA. E faz uma macaquice como que IMPLORANDO pela atenção da família. Logo após, um displicente caçula derruba o pai:

- É um picareta, mesmo.

Ele não tem qualquer reação de reprimenda, apenas fica imóvel sustentando uma careta de "fui pego".

Depois da explicação do plano, a gracinha final da peça:

- Eu vejo onde você foi ontem com seu namorado.

A filha não se preocupa a mínima em ter a escapada pressentida pelo pai, pelo contrário: bate nele com sua revista, como quem diz que ele não tem o direito de tocar no assunto. E assim acaba a propaganda, com o pai de família tendo sido DESACATADO POR TODO MUNDO, ainda na condição histórica de provedor, mas representado como um patético e pusilânime SUBALTERNO.

04/07/2005 13:06    | Comentários (4) | TrackBack (1)

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