AGOSTO
Me pelo de medo. Pensei seriamente em viajar para São Paulo dia 31, mas o passar pela Ponte Aérea na volta ainda seria Agosto. Uma boa solução seria ficar em São Paulo o mês inteiro. Mas numa cidade maior a chance de dar uma merda maior tem ainda mais amplas dimensões. A coisa cresce, percebam.
O Rio também é uma cidade grande, das 20 maiores do mundo, então pretendo ser bastante grato à sorte e não abusar dela me trancando em casa depois de voltar. Não, não vou me trancar, mas usarei camisinha e cinto. No automóvel, ao dirigir. Nas poucas vezes em que dirigir. E não será para a Zona Oeste. Nem nenhum subúrbio. Nem nenhum túnel. Bom, isto restringiria demais. Digamos que então eu faça uma concessão e não ande a menos de 60 km/h nos túneis. Ficando sempre atrás de um Audi ou qualquer carro superior ao meu. Quiçá blindado.
Estas superstições estão intimamente ligadas às manias que cultivo desde a mais tenra idade pelos constantes momentos de abandono e solidão. Traço planos mentais, o que é essencial ao homem, o que é melhor para a economia, aconselho presidentes, acaricio símbolos nacionais, torço intimamente para a economia, a atividade industrial e a agricultura. Tudo depende desta mentalização. E melhora. Mas nem meu quarto eu consigo arrumar. Sozinho.
Me revoltou hoje particularmente pensar na enorme gama de atividades ditas produtivas que não são essenciais. Produção acadêmica em especial, mas a raiva também se dirigiu às pesquisas, especulação imobiliária, mercado de ações (especialmente estes filhas da puta que lidam com ações), a própria política, o jornalismo, as atividades do funcionalismo público. A lista é enorme, mas a raiva foi principalmente para as páginas e páginas de produção científica pagas com dinheiro público na forma de bolsas. Não sei explicar, mas isto me pareceu uma impostura quase tão grande quanto desvios de verbas. Minto, não cheguei a este ponto. Mas as ansiedades de ordem que tenho desde menino oscilaram por estes vários pontos. Deve ser porque as palavras e neologismos empregados nos trabalhos científicos tornam a coisa toda o mais imbecil que pode ficar. Desprezo a academia. Mas isso não impede de querê-la.
Em agosto as coisas dos anos costumam se definir. Não tenho nenhum pé na bunda para tomar, nenhum emprego a perder. Minha maior preocupação é que a tecla de aspas não funciona. Vocês não avaliam o quanto uma tecla de aspas faz falta num agosto.
02/08/2005 01:22 | Comentários (6) | TrackBack (0)