REENCONTRO
Ontem teve festa de reencontro do Farroupilha. Não fui, óbvio. Estava tomando chope e tentando fixar na memória a imagem da Atlântica, que provavelmente não verei tão cedo. Outra imagem é de uma pessoa que é impossível querer o tanto que merece, porque merece muito mais do que eu posso oferecer. Mas tem o respeito (coisa rara aqui), a ternura, a lembrança. Doeu ir embora do Rio sabendo que talvez demore a ter de novo a condição de residente. Pelo menos, essa é a motivação. Ah, sim. Falei do reencontro do Farroupilha não por acaso. Na caminhada pelo calçadão passei por uma figura do meu tempo de colégio. Estava sentado num quiosque, engravatado, turistóide. Odeio aquele cara. Me revolta o estômago seu tipinho subnutrido de quem põe as verduras no canto do prato e torce o nariz pra cebola. Sua gravatinha sugere que já está em algum empreguinho patrocinado pelo papai, que por sinal foi um dos piores presidentes que o Sport Club Internacional já teve. Enfim, uma figura completamente desagradável. Passei reto. Em Congonhas, hoje pela manhã, encontrei outra figura do tempo do colégio, que mais tarde também viria a ser colega de faculdade no Direito da PUC. Esta, um pouco mais agradável. Fiquei sinceramente surpreso, e foi bom. Não nos dissemos palavra, ele estava ao celular (certamente uma importantíssima ligação profissional) e se limitou a sorrir, numa simpatia cúmplice, numa retribuição da surpresa boa para ambos. Não fui no reencontro do Farroupilha, teria muito medo de ir, mas a coincidência bizarra de encontrar duas pessoas daquele tempo em lugares tão improváveis AO MESMO TEMPO QUE A FESTA não deixa de ser muito curiosa.
O aeroporto estava coalhado de pessoas do rock indo pro Tim no Rio, Thunderbird, Marcelo Camelo e outros bichos, todos bem-sucedidos, contas certamente recheadas. E eu contando moedas para um café. Entretanto, esta é a melhor época do ano em Porto Alegre. As flores abundam, os cinamomos perfumam. As ruas estão coalhadas de gatas, que hibernam. Meu pai relatou, radiante, que acordou com os sabiás. Começa a parecer completamente sem sentido ter passado tanto tempo afastado. Ao mesmo tempo, está renovado o sentimento de simpatia e identificação. Tomei um banho e, apesar da água ferruginosa dos canos do pior apartamento da Santo Inácio, me senti mais limpo que de costume. Puro e pronto para outra.
21/10/2005 19:29 | Comentários (7) | TrackBack (0)