DEVAGAR, DEVAGAR
Já tinha manifestado minha predileção por esta peça. Tem toda uma aura de devassidão que não é comum ao resto da obra do Nelson, inclusive com palavrões e alusão explícita a sexo oral. Estava lamentando ir embora pro pago sem ter tido a oportunidade de ver esta encenação. De volta, tive que ver a montagem que tem a gracinha tarja preta no elenco. Fazia muito tempo que não consumia teatro e me incomodou ser obrigado a pagar entrada inteira, mas valeu. Fiquei com a irritação costumeira do exagero teatral, principalmente no início. A coisa se atropela, as falas são cuspidas com pressa, as agressões são inúmeras e não constam no texto. Se eu fosse o diretor, deixaria que fruíssem o impacto da fala, levassem pelo menos o dobro do tempo entre uma frase e outra. Tenho certeza que este é o ambiente rodrigueano: a lerdeza fumacenta e lânguida, não a porralouquice de produção global. Para compensar há alguns achados como a associação do funk carioca à personagem da 'crioula das ventas triunfais' e algumas outras violências que encheram minhas papilas gustativas de água. Simplesmente babei para a sensualidade das cenas de intimidade entre as irmãs.
No saldo, acho que faltou tempo para absorção das falas e do conflito. O vício de novela se revelou numa porralouquice própria de linha de produção do Projac. A peça poderia ter demorado uma hora e 20, não apenas 40 minutos. Mais arte, menos objetividade. Paga-se bem pelo produto, para que seja menos necessário o perecimento precoce. Acho que o falecido me apoiaria.
30/10/2005 01:50 | Comentários (1) | TrackBack (0)