LUXO KITSCH
Quando estou dentro de casa é quase imperceptível que moro em São Paulo. O barulho é menor que o de Copacabana e eu só ouço "então" como preâmbulo de resposta quando falo com a Carol. E sempre a corrijo. Mas às vezes dá vontade de interagir um pouco com os seres humanos locais. Ontem, por exemplo, fomos convidados a ir num bar do Tatuapé, rever uma amiga que há muito não se via. Pareceu interessante por envolver uma travessia pela cidade toda. E lá fomos nós, passando pelas partes já conhecidas, atravessando a ponte para o lado civilizado, passando pela Paulista, Rebouças, até chegar na tal radial Leste. Que nada mais é que uma Suburbana que não leva ao Andaraí, mas ao tal do Tatuapé. Jurou a Carol que era um bairro bom da zona Leste. Chegamos ao bar e era aquela coisa de mesas de madeira e ambiente despojadamente requintado. Castiçais metálicos, aquela coisa. Tudo certo, até dar uma olhada em volta: fêmeas ultrapassando a barreira dos 20 anos com chapinha, cabelo pintado de amarelo-branco e barriga queimada de algo que não é sol à mostra. Machos usando BUNÉ. Abrindo o cardápio, descobre-se o preço de puteiro da cerveja.
Eu não me incomodo de pagar mais caro que o normal pelo ambiente quando o ambiente realmente é agradável e "diferenciado". Mas percebo que o conceito deste dito "ambiente diferenciado" está cada vez mais relacionado a poder aquisitivo que a bom gosto. E só posso discordar quando vejo questionamentos ao estilo portoalegrense. Em Porto Alegre tu pode ter certeza de que vai estar cercado de belas mulheres em um lugar em que a cerveja custa 5 pilas. Em São Paulo, a única garantia é de que elas não vão ter cabelo grande no sovaco. E mesmo esta pode não estar assegurada após um exame mais minucioso.
O bom é que dá cada vez menos vontade de sair de casa.
20/02/2006 09:17 | Comentários (6) | TrackBack (0)