GUERRA E MIMETISMO DA COMUNICAÇÃO
Acordei pelas 13h. Liguei o computador, deixei carregar tudo. Comi uma banana. Abri o MSN. Uma enxurrada de e-mails de meus amigos de outros estados perguntava sobre mnnha saúde e segurança. Eu ainda não tinha levado a sério esta coisa de ataque do PCC. Saíra no sábado, à pé. Fora a costumeira precariedade do transporte público, nenhuma estranheza. Pela tarde, muito mais que as notícias do rádio, que já mantinha ligado para apurar o grau de histeria, a cerração fora de hora e uma desagradável sensação de secura no ar me pareciam os maiores motivos pra não sair à rua. Fiquei o dia inteiro com o computador ligado, falando no msn com os amigos, recebendo e passando adiante informações.
Já pelo meio da tarde, o volume de notícias catastróficas deixava claro que a cidade realmente vivia um momento histórico. A Follhaonline colocou um banner "São Paulo sob ataque". A mesma manchete da CNN quando conseguiu restabelecer a comunicação no 9/11.
Na minha adolescência, tinha o juvenil costume de falar mal da polícia. Hoje prevalece a consciência de que estou de um lado: o dos cidadãos de bem. E a polícia é um mal necessário para que me salve de outro mal maior: os criminosos, que desejam me subtrair os bens. Desde o começo destes ataques ficou claro que o principal alvo destes ataques são os policiais. Qualquer dano dos criminosos a civis nada mais é que as chamadas perdas colaterais de uma guerra. Neste caso, atraentes porque diminuem a moral do inimigo, ou seja, a polícia.
Antes mesmo de ouvir o pronunciamento do Comandante Geral da Polícia de São Paulo já concordava com ele: o caos que se instalou hoje em São Paulo é a falta de critério na liberação de informações. O toque de recolher era e continua sendo um boato e todas as empresas já liberavam seus funcionários às 15h. As principais vias se congestionaram a partir disso. Às 16h30min, as avenidas Jaguaré e Corifeu, que são as que consigo ver da janela, não permitiam fluxo em nenhum sentido e uma sinfonia de buzinas se ouve até agora.
A culpa de tudo foi a boataria, informações falsas e divulgação massiva de informação. Creio que o fato histórico traz de volta a discussão sobre democracia na informação. Até que ponto é de interesse público saber de todos os fatos? Muito dos prejuízos deste dia se deve ao pânico que o fluxo de informação alarmista causou. Ônibus foram incendiados, sim. Mas o maior prejuízo foi o da falta de transporte. O pânico maior não era o de ser estourado numa bomba, mas o de não conseguir voltar pra casa.
Outro conceito que deve sofrer prejuízo é o dos direitos humanos. Uma amiga minha que trabalha em uma ONG recebeu uma carta de repulsa, aparentemente de algum familiar de policial. Ele repudia o trabalho das ONGs em garantir direitos humanos a criminosos, criminosos que não respeitam os direitos humanos de que se privilegiam.
Dias como o de hoje são bons para curar o marasmo. Muita coisa vai ser discutida a partir do 15/05/06. Muito vai se falar ainda no nosso 9/11. Mas eu acho que o mais provável é que a liberdade de todos, e a de imprensa, seja a maior perdedora.
15/05/2006 18:58 | Comentários (17) | TrackBack (0)