O VALOR DA BOA SURRA
Acabei de revisar uma conferência do Dr. Carlos Roberto M. Lacaz sobre a realidade psicológica e o universo mítico dos índios Kamayurá, tomando por base seus sonhos. Não apenas pela semelhança que o texto tem com um conto fantástico, a experiência foi deleitante. Ele se preocupou em costurar uma identidade cultural para a tribo, eu vou me deter em apenas um aspecto do estudo.
Segundo ele, os sonhos dos índios mais crianças via de regra são sobre perseguição de entidades sobrenaturais da cultura do alto-xingu ou animalescas. Verifica-se um terror de aniquilamento muito comum em crianças de todas as culturas, com uma fragilidade de ego igualmente corriqueira.
Imediatamente após o ritual de iniciação à vida adulta, em que o piá tem o LOBO DA ORELHA FURADO e passa a tomar CAUIM (milho e mandioca mascada, cuspida e fermentada até virar uma SUBSTÂNCIA ALCOÓLICA) durante três meses, enquanto aprende técnicas de luta e fabricação de armas, entre outras coisas de HOMEM, o índio começa a sonhar com realizações heróicas como caças bem-sucedidas e lutas intertribos vencidas. É o fortalecimento do ego após o período de importante fragilização da infância.
Grosseiramente, isso prova, na minha opinião, que uma boa dose de frustração e negativas na infância são importantes para um "ressurgimento" fortalecido na vida adulta. Criança tem que saber o seu lugar e calar a boca e saber que quando chegar a hora poderá fazer tudo o que os adultos podem (bem diferente de "qualquer coisa"). A educação de libertinaagem ocidental dos dias de hoje passa ao largo de todas essas sagradas verdades universais e milenares, verificáveis em múltiplas culturas dos mais variados grupos étnicos. Criança não pode poder tudo e isso é para o próprio bem dela.
14/06/2006 02:07 | Comentários (7) | TrackBack (0)