A PIOR VIAGEM
Ao longo dos tempos encontramos muitos interesses que nos conferem a ilusão de que estamos empregando nosso tempo em algo útil. No momento ocupa grande parte dos meus pensamentos em carro. Um em específico. E me perdoe quem não se interessa por veículos e suas complicações. Não é todo mundo que pode se dar ao luxo de não entender lhufas de mecânica. Caso mais triste é quem não entende e se encontra vítima dela.
A tampa de motor que soltou já tem sua história conhecida. Chegado no Rio, o carro revelou estar com o nível de óleo muito baixo. Colocamos dois litros. Rodados alguns quilômetros, tinha muita instabilidade na potência. Mas não morria completamente, só dava alguns socos e tremia bastante. Voltando da volta, deixei o carro inerte na garagem até a hora de sair para a que eu sabia desde então ser a mais tensa viagem de carro da minha vida.
A sensação de estar parado numa rodovia é sem dúvida uma das mais desalentadoras, o sentimento de abandono e desamparo um dos mais terríveis que se pode sentir. Assombrado com esta lembrança e com a possibilidade de sentir o carro se desmanchando conosco dentro, imprimi um ritmo forte na estrada entre a Baixada Fluminense e o Vale do Paraíba, tanto que a viagem de 300 km foi concluída em menos de 3h30min. A parada em Pindamonhangaba foi um marco psicológico importante. Mas senti que o carro estava comprometido no momento de estacionar. Jatos de água quente jorravam do radiador. Os vazamentos eram evidentes. Depois de uma hora parado, o radiador estava vazio. Uma pet de Coca-cola não foi suficiente para completar o nível. "Pelo menos estamos só a 120km de casa", pensei.
Consertado o pneu, que estava com a câmara ruim, segundo o borracheiro, notei que a estabilidade do carro ia de mal a pior. Tremia muito, a aceleração não correspondia ou vacilava, um conjunto todo de sintomas muito preocupante para um Uninho todo carregado. Luzes acendiam no painel, o motor fervia o tempo todo. Felizmente estava com a pet de Coca cheia de água quando o trânsito finalmente parou em Arujá, pouco antes de Guarulhos. Carro parado ferve muito mais rápido que um em movimento, como se sabe, então logo que começou o afunilamento completei o nível de água. Não adiantou. Fervia a cada minuto, vacilando a cada arrancada e tendo pequenas baixas na eletricidade.
Nunca chegar em casa foi tão bom. Algo que precisava ser feito foi feito. Agora tenho de volta todos os preciosos bens acumulados em mais de 20 anos de pouco trabalho e muito tempo livre. Ahoy.
02/01/2007 11:56 | Comentários (5)