CAUSA PERDIDA
Ontem no começo da noite assisti ao filme do Al Gore. Não o chamo pelo título, já que assim posso fazer a única crítica que tenho: é uma peça de marketing político escancarada. Mas a intenção é boa, reabilitar os democratas para continuar o café com leite da sucessão presidencial nos EUA. Tudo bem, colocar o álcool como solução também não foi muito esperto, mas ficam por aí as gafes.
De resto, me respaldou a compreensão de tantas notícias de inundações, desastres, nevascas, furacões, tufões, mortes. Tudo faz sentido. Só tem um problema: acreditar que o coletivo será capaz de uma ação conjunta para evitar o pior. Não será. O máximo que a humanidade conseguirá fazer, com o país mais responsável pelo aquecimento global no comando, é apontar um bode expiatório e trucidá-lo. Tem sido assim ao longo da história, encontrar um inimigo comum e exterminá-lo, ou pelo menos tentar. A maior catástrofe da humanidade, a peste negra do século XIV, mostrou os melhores momentos do comportamento humano: ir atrás de judeus e queimá-los a todos em fogueiras coletivas públicas foi a reação ao mal que acabou matando metade da humanidade. No começo até tinham um julgamento, com todos os requintados métodos medievais de averiguação.
Engana-se quem pensa que houve algum progresso. Qualquer crise é administrada tendo como foco um agente externo causador. Culpado ou presumidamente culpado, ele é combatido. Gostaria que me apontassem um exemplo de mobilização coletiva para mudar um hábito comum nocivo. Nem o antitabagismo consegue aderência absoluta, nem a mais mortal das drogas. Álcool é a única forma de viver com a culpa de tantos crimes.
Al Gore se coloca como 'champion' de uma causa mundial. Ele precisa fazer isso também por ele, no que não há nada de errado. O erro é acreditar que o ser humano é capaz de se reformular coletivamente. Quando muito e em raríssimos casos, individualmente. E os indícios são claros de que não se pode mais esperar mudança gradual.
Descrente de tudo, me limito a não ter filhos.
16/01/2007 13:06 | Comentários (6)